As crianças tem sofrido agressões de diversas formas, e essas agressões ocorrem de forma silenciosa, os principais tipos são: 49,3% dos casos é de violência sexual praticados com crianças de até cinco anos, 24,4% agressões psicológica, 15,6% agressão física e 10,7% por negligência. A família é a base para construir uma sociedade melhor, pois é nela que a criança aprende seus primeiros princípios, sejam amor mutuo, atenção, proteção, educação, e doutrina religiosa.
Entretanto a maioria dos casos a agressão infantil ocorre dentro da própria casa. Aos olhos da sociedade esse cenário tem se tornado cada vez mais triste e doloroso, pois nas escolas, entre vizinho nos bairros onde se moram, entre amigos existem muitas crianças deixando de vivenciar sua infância feliz, sofrendo silenciosamente.
Esses atos cruéis contra as crianças, geram consequências futuras, atingindo toda a estrutura da infância, se tornando crianças introspectivas, sonolentas, vergonhosas, ansiosas, depressivas, distúrbios severos com pânico em locais públicos, rendimento escolar em declínio com futuro promissor. Por isso é muito importante ficar atentos a todos os sinais da criança pois qualquer comportamento repentino é sinal de alerta. A proteção, o cuidado no desenvolvimento da criança devem-se ficar vigilantes em período integral.
Pois toda criança e adolescentes têm direitos amparados pelas legislações internacional e Brasileira, é dever de qualquer cidadão e dos profissionais atuantes, seja médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo, pedagogo, odontólogo, terapeutas, entre outros. O consenso de que os profissionais atuantes na saúde têm papel relevante no enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes, para abordagem interdisciplinar na saúde com conjunto de organizações a elaborar este Protocolo de Atenção Integral a crianças e adolescentes vítimas de violência.
O Diário da Manhã conversou com a Assistente Social, Mestra em Serviço Social, Especialista em Serviço Social e Gestão de Projeto Social Lucia Mara de Oliveira Bispo Miguel (Mara), que explicou sobre o acompanhamento com as crianças e adolescentes vitimas de agressões. “Assistente Social atua por meio da operacionalização de políticas públicas que visam proteger as crianças e adolescentes das condições desumanas que os mesmos estão submetidos. Realizamos com as vítimas um trabalho visando à superação e mudança de vida, considerando que quando se trata de crianças e adolescentes essas intervenções precisam alcançar todo o núcleo familiar para ter um resultado efetivo e evolução do caso”.
Lucia Mara, também explica sobre a atitude diante de suspeitas de agressão infantil, seja físico, psicológico, negligência e/ou outros casos. “É necessário fazer os acompanhamentos para os equipamentos especializados dentro da rede de proteção e comunicar, orientar o responsável pela vítima a procurar a delegacia, caso esse responsável se negue a comparecer na delegacia e comunicar o conselho tutelar”.
Assistente Social Lucia Mara, ao final deixa uma mensagem de alerta “Precisamos prestar atenção nas crianças e nos adolescentes, entender que eles são pessoas em desenvolvimento e precisam da nossa proteção para desenvolverem integralmente, viver a infância e a adolescência feliz, protegidos e se tornarem adultos plenos, cidadão que entendem o seu papel, exerçam a cidadania e contribuam para a sociedade melhor. Precisamos pensar que as crianças e os adolescentes devolvem à sociedade tudo aquilo que é feito com ela, se deslumbramos uma sociedade melhor do que temos hoje, precisamos garantir os direitos deles afinal as crianças e adolescentes são deveres de todos”.
"Art.18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art.18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº13.010, de 2014)".
A Psicóloga Dra. Júlia Gregório de Castro, da Clínica de psicologia infantil Júlia Gregório pontua que “Devemos sempre observar os comportamentos das crianças, qualquer mudança repentina de comportamento é um sinal de alerta. Comportamento muito agressivo ou apático, afastamento, isolamento, choro sem causa aparente, vergonha excessiva, medo ou pânico, ideias suicidas, hiperatividade e problemas escolares são exemplos de indicativos de que algo está errado com a criança. No caso de haver suspeita de violência infantil a denúncia deve ser feita pelo Disque 100. As escolas também são boas aliadas na observação de mudanças nos comportamentos das crianças, o que não significa que a responsabilidade de identificação da violência seja apenas da instituição de ensino. Realizar a denúncia é muito importante!”
Dra. Júlia Gregório, também explica sobre a prevenção contra a violência mesmo com essa aceleração de crimes. “É de extrema necessidade prevenir a violência contra a criança. Toda prevenção começa com informação. Incluir a temática da violência e da prevenção na formação profissional é muito importante. Assim como levar palestras, apresentar dados, realizar um trabalho de conscientização com pais, responsáveis e profissionais que trabalham com a infância”.
Dra. Júlia Gregório faz uma observação “Tenho observado uma quantidade expressiva de casos de maus tratos às crianças chegando no consultório com justificativas como, “Minha mãe me batia e eu aprendi”, “Na minha época não tinha isso de conversar, era logo uma surra”, ou “Apanhei e não morri” e “Quando ele apanha, sossega”. A violência física há muitos anos vem sendo adotada como uma ferramenta de educação, mas hoje temos evidências científicas claras e convincentes sobre os danos que esses tapas causam no desenvolvimento orgânico e cerebral das crianças. É preciso entender de uma vez por todas que bater, gritar, oprimir e maltratar a criança não melhora o comportamento dela. O que observamos é justamente o contrário, crianças que vivem em ambientes que utilizam o castigo físico como uma estratégia, tendem a ser mais desafiadoras, raivosas, argumentativas, recusam a seguir regras, rancorosas e vingativas. Crianças são esponjas, e absorvem aquilo que está em seu meio, portanto, um meio violento só irá ensinar a criança a ser violenta. Comportamentos são ensinados, tanto os adequados como os inadequados. A melhor estratégia é sempre o diálogo e o exemplo! O objetivo da infância não é a sobrevivência às surras. A infância é um momento de aprendizagem, de vivencias e experiências, que acontecem no dia a dia, no brincar, nas relações pessoais, com muito carinho, paciência, cuidado e afeto. A criança merece e deve ser respeitada!”
Ao final da entrevista a Dra. Júlia Gregório de Castro deixa dicas para os familiares proteger e ficar atentos com suas crianças mesmo que a maioria dos casos a ocorrência é dentro dos lares. “Na grande parte dos casos de violência infantil o agressor é sempre um dos membros da família, isso porque as crianças permanecem por mais tempo em casa, então, acabam sendo violentadas com uma maior frequência nesse local. Mas também é importante falarmos sobre a violência realizada por vizinhos, amigos ou qualquer outra pessoa sem laço parental, mas que mantem uma relação de confiança e intimidade com a criança. Levar informações para as crianças é uma estratégia essencial para evitar cada vez mais casos de violência. Portanto papais e mamães, ensinem suas crianças sobre as partes do corpo, reconhecer situações de perigo, que o corpo da criança pertence a ela, saber em quem confiar e saber falar não quando se sentir incomodada”.
“Crianças precisam de heróis! Heróis da vida real... heróis que mostrem a elas que estão protegidas, que estão seguras”.