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Gula: muito além de um pecado capital, um mal a ser combatido

Profissionais da nutrição e da psicologia explicam fatores que levam à gula, os problemas que ela causa e como tratá-la

Imagem ilustrativa da imagem Gula: muito além de um pecado capital, um mal a ser combatido

Que a gula é um dos sete pecados, todos já sabem. Mas que ela e a compulsão alimentar estão associadas à saúde mental e comportamentos do cotidiano não é de conhecimento geral.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 4,7 da população sofre de Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA), número acima da média mundial, que é de 2,6. A incidência é maior entre jovens e mulheres de 14 e 18 anos. Mas quais são as causas deste problema? A quais fatores ele está ligado? O Diário da Manhã conversou com a psicóloga Jéssica Cervan e o nutricionista Rodrigo Lamonier, que explicam como funciona a compulsão por alimentos e como tratá-la.

Na rotina corrida, frequentemente vê-se alguém afirmando que precisa urgentemente comer algo doce para se acalmar, mas nem sempre o doce é o alvo de quem precisa comer logo. O nutricionista Rodrigo Lamonier afirma que "não existe uma grande diferença de âmbito hormonal como é tão citado por ai, já que tem gente afirmando que a vontade de doces está relacionada com alteração na sensibilidade da insulina, o que é achismo/mito."

"As diferenças mais relevantes nessa questão é o histórico comportamental, cultural e as preferências do próprio indivíduo aos alimentos doces ou salgados. Então, tem pessoas que se sentirão mais "relaxadas" comendo alimentos hiperpalatáveis doces, enquanto outras sentirão isso com preparações salgadas. O que se sabe é que esses alimentos hipersaborosos geram estímulos em neurotransmissores (serotonina, dopamina) do cérebro relacionados ao prazer imediato e bem-estar", explica o nutricionista.


		Gula: muito além de um pecado capital, um mal a ser combatido
Fernando Keller

(Reprodução/Unsplash)

O profissional afirma que já atendeu pacientes que eram chamados de gulosos, mas que na verdade eram portadores de TCAP (transtorno de compulsão alimentar periódica). Uma condição caracterizada pela ingestão volumosa de alimentos/bebidas, sem apetite, quase ausente de mastigação, com ausência de autocontrole, acompanhada de intensa ansiedade, até que a plenitude seja alcançada, evoluindo depois com quadro de culpa.

"Nesses casos de TCAP, o paciente necessita de acompanhamento interdisciplinar, incluindo médico psiquiatra para tratamento medicamentoso. Ou seja, a "gula" desse paciente ocorre devido a uma condição que merece atenção e o paciente não tem nenhuma culpa e não deve ser jamais julgado, mas sim orientado a procurar auxílio. Já a "gula" não relacionada ao TCAP, pode estar apenas associada a questões sociais, uma reunião com preparações que você goste muito e que acabe se excedendo, a um comportamento alimentar compensatório, relacionado ou não a ansiedade ou estresse", afirma.

A gula pode prejudicar a vida do indivíduo tanto no âmbito pessoal quanto no âmbito social, além disso, a saúde fica comprometida com a grande quantidade de alimento ingerida.

"Pode favorecer o consumo calórico excessivo e, consequentemente, ganho de peso em médio e longo prazo. Pode aumentar o risco de doenças crônicas não transmissíveis por exceder a quantidade de nutrientes e não nutrientes que favoreçam alterações. E nos casos da possível TCAP, quando não tratada pelos profissionais, aumento de outros transtornos psiquiátricos", alerta.

Nada de jejum

Rodrigo ressalta que não existe nenhuma correlação e nenhum estudo demonstrando que fazer jejum reduzirá a "gula". Segundo ele, alguns pacientes que fazem jejum sem as devidas orientações e com restrições descabidas, acabam compensando em outros momentos e até piorando essa questão.

A gula e a compulsão alimentar associadas ao psicológico

A psicóloga Jéssica Cervan explica a relação entre os quadros de compulsão por alimentos com questões psicológicas, principalmente a ansiedade que, de acordo com a OMS, atinge 18,6 milhões de brasileiros.

"A compulsão alimentar é diretamente ligada a saúde mental pois na compulsão alimentar a pessoa come a emoção e não o alimento. Então é algo que o psicológico dela não está conseguindo dar conta e transforma em compulsão, ou seja, o transtorno alimentar é motivada por algum tipo de sofrimento mental. A origem pode ser múltipla, desde TAG (transtorno de ansiedade generalizada), ou restrição alimentar, por exemplo, não tem como definir, cada análise é uma análise pois todos indivíduos são diferentes", afirma a psicóloga.


		Gula: muito além de um pecado capital, um mal a ser combatido
Fernando Keller

(Reprodução/Unsplash)

Segundo Jéssica, a compulsão é um problema que advém de emoções mal compreendidas e tratadas que são ingeridas em forma de alimento, pode acarretar em problemas orgânicos, como falta de vitaminas.

"Se você percebe que come por necessidade de suprir um vazio, que devora os alimentos sem saborear, não hesite em procurar ajuda. Lembrando também que não existe nenhum alimento vilão, comer é necessidade fisiológica, nosso corpo precisa pra repor suas vitaminas, mas nosso psicológico também. Comer é uma fonte de prazer, poucas coisas abraçam mais nossa alma como uma comida gostosa. Então a questão não é o alimento, mas sim a forma como a pessoa ingere ele", ressalta Jéssica.

A profissional destaca o papel do psicólogo em casos de compulsão alimentar e afirma que "é um trabalho de reaproximação das emoções."

"Um exemplo é quando uma pessoa com transtorno alimentar expressa suas emoções comendo, confunde tristeza, alegria, ansiedade, rejeição, vazio, com fome. E come a comida não para preencher o estômago, mas para preencher algo imensurável. E aí o psicólogo começa o questionamento: que emoção você está comendo quando devora uma pizza sem saborear?", finaliza.

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