O pastor André Valadão está envolto novamente em uma miríade de polêmicas, desta vez, diretamente ligadas a atividades exercidas pela instituição religiosa que está sob seu comando, a Igreja Batista da Lagoinha. Com sede na capital do estado de Minas Gerais, a Lagoinha, como é popularmente conhecida, tem promovido encontros chamados de “retiros espirituais” onde são realizadas sessões de “cura gay”.
As ações ocorrem sob a condução da pastora Ezenete Rodrigues, na “Estância Paraíso”, sítio de propriedade da igreja localizado na cidade de Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte. Os retiros que duram de três a oito dias, no entanto, não são gratuitos cujos valores podem chegar a bagatela de R$ 3.000 mil reais.
A revista “Veja” publicou recentemente uma série de entrevistas com pessoas que relataram ter passado pelo trâmite proposto pela Lagoinha na tentativa de promover a mudança de sua orientação sexual. O Fundador do Movimento “Evangelicxs pela Diversidade”, pastor Boby Botelho, contou a revista que ao passar pelo retiro foi induzido a pensar que estava “demonizado”.
“Eles tentam te convencer de que, para ser filho de Deus, é necessário negar sua orientação. O trabalho é tão forte que as pessoas são induzidas a acreditar que estão demonizadas” Pastor Boby Botelho
As atividades realizadas pela igreja de Valadão, apesar de não divulgarem ampla e claramente que tem como foco a promoção da reorientação sexual de pessoas LGBTI+, transitam por um caminho tênue, tentando inclusive fazer crer que pode se tratar de um transtorno psicológico passível de atendimento com profissionais da área. É o que ocorre no conhecido “Ministério Clínica da Alma”, localizado em um tradicional bairro da região leste de Belo Horizonte.
No local, direcionado a todas as pessoas que de alguma maneira necessitam de “restauração, seja espiritual ou emocional”, psicólogos fornecem atendimento, defendendo a tese de que “o homem foi feito para a mulher e a mulher para o homem. São princípios cristãos”. É o que relata um funcionário do Ministério à revista “Veja”.
A prática defendida pela igreja, porém, é considerada como proibida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que por meio da resolução 01/1999 afirma:
“Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas. Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades. Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.” Resolução 01/1999 CFP
A Igreja se pronunciou por meio de nota, afirmando que suas palavras foram tiradas de contexto, salientando que possuem o direito de se posicionar sobre temas considerados controversos.
“É válido lembrar que os religiosos têm o direito de se posicionar em relação a temas controversos, como o aborto e a homossexualidade, desde que fundamentem suas opiniões em seus princípios religiosos e não incite a violência ou a discriminação”
A nota argumenta ainda que tentar resumir os retiros a uma chamada "pretensa e absurda" cura gay, é desrespeitar milhares de pessoas que buscaram amparo espiritual na organização religiosa.
Leia a nota na íntegra:
"Sobre os retiros da Igreja da Lagoinha
É simplesmente inadmissível testemunhar a conduta de certos veículos da mídia que, de forma leviana, vêm nos últimos dias distorcendo a genuína finalidade dos retiros espirituais da Igreja da Lagoinha.
De maneira irresponsável, esse jornalismo raso tenta associar essa grande obra de acolhimento e fé a uma absurda e inexistente prática da “cura gay”. Raso porque uma simples checagem dos fatos desmontaria a pretensa tese.
Os retiros são espaços de acolhimento para todas as pessoas que buscam, pela Fé, tornarem-se melhores. Há, sim, um custo para cobrir despesas com hospedagem, refeições diárias e transporte.
Sim, nossos espaços também aceitam membros da comunidade LGBTQIA+ que se sintam, espontaneamente, desconfortáveis com a vida que levam. É um direito deles, afinal, buscar uma expressão religiosa.
Tentar resumir os retiros a uma pretensa e absurda cura gay é desrespeitar as milhares de pessoas que, só no último ano, procuraram auxílio espiritual, cuja essência reside na profunda reflexão e no aprimoramento dos ensinamentos cristãos.
No que couber, ações de reparação judicial serão desencadeadas para restabelecer a verdade dos fatos e reparar danos. Isso se faz necessário para repudiar uma postura que não apenas calunia a Igreja da Lagoinha, mas agride a liberdade de crença e a integridade dos fiéis.
É uma clara violação do dever jornalístico de informar com imparcialidade e ética, desrespeitando o sagrado princípio da veracidade dos fatos. Crimes e ofensas, à luz do Estado Democrático de Direito, não podem ficar impunes."