Cotidiano

Jóquei Clube pode ser encampado pela prefeitura

Diário da Manhã

Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 01:04 | Atualizado há 4 meses

Ex-secretário de Planejamen­to nos governos de Darci Accorsi (1993-1996) e Pau­lo Garcia (2014-2016), o advogado Sebastião Ferreira Leite defende que a prefeitura de Goiânia arres­te a área do Jóquei Clube, incorpo­rando o seu patrimônio ao do Po­der Público Municiopal. “Defendo que a prefeitura faça a arrecadação do Jóquei, porque o artigo 64 da Lei 13.465, autoriza que o município pode arrecadar imóveis abandona­dos. E o que presume o abandono deste imóvel: a falta de pagamento de impostos. Tem mais de 20 anos que o Jóquei Clube não paga impos­tos para a prefeitura, e isto configura que o imóvel não cumpre com a sua função social e por isto pode ser re­querido em pagamento pelas finan­ças do município”, advoga.

“Embora haja uma tentativa de alvará de demolição, considero que o Jóquei deve ser incorporado ao patrimônio do município, pelo não pagamento de impostos e também no sentido de preservação da me­mória de Goiânia. O Jóquei Clu­be está dentro do projeto original de Atílio Correia Lima, o chamado “Manto de Nossa Senhora”, onde o centro da Capital, partido da Pra­ça Civica, descendo pelas avendias Araguaia, Goiás, Tocantins e a ave­nida Paranaíba, constituem um de­senho que corresponde ao manto da Padroeira do Brasil. Se o Jóquei está dentro do Manto e Nossa Se­nhora, juntamente com outros íco­nes do patrimônio históricom como o Teatro Goiânia, o Colégio Ateneu, o Lyceu e o Colégio Aplicação (José Carlos de Almeida), entendo que o Jóquei merece ser preservado como patrimônio histórico”, frisa.

Sebastião Ferreira Leite, salien­ta ainda que o arquiteto do Jóquei Clube, Paulo Mendes da Rocha, foi o mesmo que deu formas ao es­tádio Serra Dourada. “Trata-se de um arquiteto premiadíssimo, ven­cedor em 2006 do Prêmio Pr i t­zker (que foi criado em 1979 pela Fundação Hyatt, gerida pela famí­lia Pritzker, sendo muitas vezes cha­mado de “o Nobel da arquitetura”) e também vencedor do Prêmio Leão de Ouro – da Bienal de Veneza de Arquitetura em 2016. “O Jóquei, portanto, deve ser preservado pela memória da cidade,e por se tratar de uma obra que também repre­senta a genealidade de um arqui­teto de renome internacional”, frisa.

PRIMEIRO CARNAVAL DE GOIÂNIA

Fundado em 1938 com o nome de “Automóvel Clube”, o Jóquei Clu­be foi palco do primeiro baile de car­naval da nova capital de Goiás. O fundador de Goiânia, Pedro Ludo­vico Teixeira, e o primeiro prefeito da Capital, professor Venerando de Freitas, entraram no salão acompa­nhado de familiares e amigos, e se esbaldaram com confete, serpen­tina e lança-perfumes, ao som das marchinhas que animavam as fes­tas de momo na década de 1930.

Ao longo de sua história, o Jó­quei se notabilizou por bailes car­navalescos, com decorações feitas por artistas plásticos locais, como Siron Gomes, Amaury Menezes, Omar Souto e chargistas do cali­bre de Fróes, Pádua e Jorge Braga.

Em entrevista recente ao DM, o professor de História da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Eliézer Cardoso, autor do livro “História cultural de Goiânia”, des­tacou a importância do lazer para a capital. “As formas como as pessoas se divertem dizem muito sobre a história de uma cidade. No caso de Goiânia, o lazer é um importante documento sobre a cultura da cida­de”, afirma. Nos seus primeiros 30 anos, quando possuía cerca de 40 mil habitantes, Goiânia tinha uma sociabilidade provinciana.

“Nesse período, os pobres se divertiam principalmente com ba­nhos nos córregos e rios da cida­de e com o futebol, famoso pela rivalidade entre Atlético e Goiânia. Já o lazer da elite constituía-se nas reuniões e eventos do Automóvel Clube, saraus no Palácio das Es­meraldas, espetáculos no Teatro Goiânia e o footing, uma espécie de passeio pela praça Cívica e Ave­nida Goiás”, explica Cardoso. Entre as décadas de 60 e 80, a capital experimenta um forte crescimento demográfico, chegando perto dos seus 1 milhão de habitantes.

Além de festejos, o Jóquei Clu­be também se destacou no espor­te, com grandes times de vólei, fut­sal e basquete, formando atletas para a seleção brasileira, como o ex-campeão brasileiro Cesar Seb­ba. Para Sebastão Ferreira, a loca­lização e os equipamentos do Jó­quei Clube são perfeitos para que a prefeitura venha a desenvolver atividades para a terceira idade, e escolas de formação esportivas, vi­sando a educação de crianças e jo­vens através do esporte, e também a revelação de talentos olímpicos. “O Jóquei Clube é bem servido de transporte coletivo, com pontos de ônibus na Avenida Anhahgue­ra e também na Avenida B (rua 3). O prédio pode atender a pro­gramas de reabilização de idosos e para criar oportunidades para os jovens. É um patrimônio que a prefeitura deve abrir mão”, resume.


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