O estigma das favelas
Diário da Manhã
Publicado em 27 de setembro de 2021 às 12:39 | Atualizado há 4 anos
Goiânia tem cerca de 50 favelas, apesar de o tema ser ignorado e mesmo se tornado indigesto para parte considerável dos agentes públicos – afinal, diz respeito ao problema da falta de moradias e de eficiência dos representantes em encarar a carência.
Para a Central Única das Favelas (Cufa-GO), as favelas não são necessariamente as construções semelhantes ao que se vê no Rio de Janeiro ou São Paulo. Elas estão espalhadas pelos bairros e cidades goianas. Em Goiás seriam 247; a Capital teria pelo menos 50. O Entorno do Distrito Federal vive uma ebulição de aglomerados. E Aparecida de Goiânia enfrenta um crescimento exponencial.
Existe uma dissonância, portanto, sobre a definição. Poderes públicos, técnicos, pesquisadores e entidades representativas, caso da Cufa, não entram em consenso.
Mas a imagem das favelas costuma impactar de diversas formas os moradores – vergonha, medo, indignação, sensação de abandono, falta de representatividade. Eles sabem o que é experimentar as “favelas” no dia a dia. E talvez a mais grave das experiências seja a estigmatização. “É este o ponto central deste debate: gera estigma? Aqui temos algo mais grave, reflexivo, que foge do aspecto cultural. Não podemos romantizar a favela. O que fica de pior é o estigma. E nisto existe proximidade com a ideia de gueto, que surgiu primeiro na diáspora judaica, mas que tão bem acabou compreendido nas capitais fordistas dos EUA, nas décadas de 1930, 1940”, diz o sociólogo José Alcântara.
Para ele, o mais urgente é resolver o problema do estigma. Mas para resolver é necessário entender que favela é um furacão de necessidades. Políticas públicas, explica o sociólogo, devem ser canalizadas para estes núcleos urbanos. Em seguida, uma forte atuação dos poderes públicos para “recuperar a dignidade do morador”.
Grande parte das favelas de Goiás se encontra às margens de córregos e rodovias, contornando, as cidades. Moram ali os “expulsos” da cidade antidemocrática, que festeja as riquezas nos bairros centrais.
É esta a característica de Goiânia, que também tem a formação padrão, nos morros, semelhante ao que “Os Simpsons” encontraram no Brasil em um programa dedicado a “entender” – com humor e preconceito – o povo brasileiro.
A perda
Quando começa a temporada de chuvas, moradores da Vila Lobó [invasão localizada no Jardim Goiás] temem perder seus bens. O desnível dos terrenos são as principais causas do receio físico. Um deles disse para a reportagem do DM que “enquanto o povo teme o calor de setembro, eu e minha família tememos mesmo é a chuva que chega destruindo tudo”.
Outro “aglomerado subnormal”, como gosta de definir parcela dos técnicos filiados ao IBGE, é a Quebra Caixote, visível a partir da região leste de Goiânia. O IBGE e Nações Unidas (ONU) considera a Quebra Caixote como a maior favela da Capital. Está localizada próxima do Leste Universitário e bem às margens da BR-153. É um fluxo de vida, com comércio, vida financeira própria e capacidade de “enfrentar o estigma”.
Mas o poder público precisa reagir e colaborar. Estudo da Secretaria de Planejamento (Segplan), de 2011, mostrava Goiás como o Estado com o menor índice de populares que residem em aglomerados subnormais. Mas a realidade é outra agora. Segundo o IBGE, o Estado escalou dez posições nos últimos 20 anos exatamente pela falta de política de moradia digna, agravada pela inépcia das políticas públicas e grande fluxo migratório para as cidades do Entorno do DF.
Há dez anos, o estudo “Situação dos aglomerados subnormais em Goiás (2011), indicava moradias anormais nos bairros Emílio Póvoa, Jardim Botânico I, Jardim Botânico II, Jardim Goiás, Jardim Guanabara, Quebra Caixote e Rocinha. Agora são 50 localidades com as características básicas que a levam ser taxadas de favelas.