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Teste para diagnóstico de alergia — Foto Reprodução
Água, exercícios físicos e alimentos são condições indispensáveis na vida de qualquer ser humano. Mas para algumas pessoas, esses elementos podem desencadear reações alérgicas incomuns que podem levar à morte. A urticária aquagênica, a anafilaxia induzida por exercícios e a gastroenterite eosinofílica são três condições raras que destacam a complexidade das alergias.
Enquanto a urticária aquagênica provoca erupções cutâneas após o contato com a água, a anafilaxia induzida por exercícios desencadeia reações durante a atividade física, e a gastroenterite eosinofílica causa inflamação gastrointestinal em resposta a certos alimentos.
Cada uma destas situações demanda um diagnóstico rápido para que suas causas e sintomas não se tornem um obstáculo permanente na vida daqueles que sofrem dessas alergias incomuns. Os tratamentos oferecem um entendimento mais aprofundado dessas condições, as quais continuam desafiando a comunidade científica e a área médica.
De acordo com a dra. Lorena de Castro, Diretora técnica do Instituto Imunoalergo com especialização em alergia e imunologia, essas três condições alérgicas são bem raras e complexas.
Na urticária aquagênica, por exemplo, é necessário realizar testes para diagnosticar com certeza de que se trata de alergia à água. Por ser uma condição incomum, a pele responde de forma anormal após entrar em contato com o líquido.
Para isso, a especialista esclarece que são realizados testes na pele do paciente com água em diferentes temperaturas e pressão, "Para a gente fazer o diagnóstico diferencial da urticária aquagénica, urticária ao frio ou de urticária colinérgica vai depender de testes, às vezes a pessoa tem alergia a pressão da água do chuveiro. Uma ducha forte, aquela pressão pode caracterizar uma urticária por pressão, e não é a água".
Registrada pela primeira vez na literatura médica em 1964, atinge 1 a cada 230 milhões de pessoas pelo mundo. Esta reação geralmente se manifesta como erupções cutâneas vermelhas e com coceira, ocorrendo imediatamente ou pouco tempo após o contato com a água, independentemente da temperatura.
Uma alergia que começa a se manifestar na puberdade, mas pode iniciar ainda na infância, em casos mais raros. Segundo a médica, é uma doença que ainda está sendo estudada, mas que pode estar associada a alterações genéticas, podendo ocorrer em mais pessoas da família. "Os estudos sobre a Urticária Aquagênica, não chegou a uma conclusão final, mas que há sim, também, de ter alguma questão de doença autoimune.", explica.
A dra. Lorena fala que as maiores dificuldades para quem tem esse tipo de alergia são os cuidados mais básicos de higiene, como tomar banho, sendo necessário tomar o anti-histamínico antes de realizar a higiene pessoal, ainda assim não evita as manifestações da alergia por onde a água toca. Além de permanecer no banho por um curto espaço de tempo.
As pessoas com essa condição evitam ao máximo o contato direto com a água, muitas recorrem aos lenços umedecidos para realizar a higiene. Até para as necessidades fisiológicas como fazer xixi, por exemplo, é um momento delicado. Assim como escovar os dentes ou lavar o rosto quando acorda.
A hidratação oral também requer cuidados específicos, como tomar água pausadamente, já que as mucosas não são afetadas pela doença, tomando cuidado de não molhar externamente os lábios e a face, pois qualquer contato na pele pode desenvolver os sintomas que são bastante dolorosos.
Apesar de não ter total entendimento dos processos subjacentes, há certeza de que uma resposta imunológica fora do padrão tenha influência nessa condição.
Os sintomas podem incluir:
• prurido intenso, vergões na pele e, em alguns casos, dor ou queimação na área afetada.
• O tratamento da urticária aquagênica pode envolver o uso de anti-histamínicos, cremes tópicos para aliviar a coceira e medidas para evitar o contato com a água sempre que possível.
urticária aquagênica — Foto Reprodução
O termo ‘anafilaxia’ é usado para descrever uma ‘reação imunológica’, especialmente mediada por IgE, ou seja, a imunoglobulina E é uma proteína que normalmente está em concentrações aumentadas no sangue em resposta a reações alérgicas. Compreende-se desta forma, Anafilaxia Induzida por Exercícios (AIE), uma reação de hipersensibilidade aguda. Acreditam que cerca de 3% de todos os casos de anafilaxia no mundo são de AIE.
Segundo a dra. Lorena de Castro, a anafilaxia induzida por exercícios é uma condição rara em que o exercício físico desencadeia reações alérgicas graves, como dificuldade respiratória, inchaço da garganta e colapso cardiovascular. Sendo letal se não houver atendimento médico imediato e uso de vasoconstritores como a adrenalina (epinefrina), sob o risco de inconsciência e/ou morte. "Pois como é um evento grave e rápido de evolução rápida, pode ser que não dê tempo de chegar até o serviço médico de atendimento, então o paciente ele tem que ter ali um plano de ação.", alerta.
Os mecanismos exatos por trás dessa condição ainda não são totalmente compreendidos, mas de acordo com os especialistas, acredita-se que o exercício intenso aumenta a permeabilidade dos vasos sanguíneos, tornando-os mais propensos a reações alérgicas. Podendo ser desencadeado também, pelo consumo de alimentos específicos.
Lorena esclarece que comer determinado alimento não vai causar a crise alérgica espontânea e sim quando termina de comer esse alimento e realiza atividades físicas, como uma corrida, um treino, "Quando separadas ao paciente não tem nada, se fizer só atividade física, ele não vai ter nenhuma reação e se comer o alimento isolado sem atividade física, ele também não tem reação"
Algumas recomendações de cuidado para quem tem AIE, é ter um plano de emergência médico personalizado. Os portadores dessa alergia rara precisam sempre estar acompanhados por pessoas familiarizadas na utilização de autoinjetores. Usar pulseiras de identificação médica de alerta para nos casos de perda da consciência não ser confundido com quem tem diabetes com hipoglicemia, por exemplo.
Os sintomas podem variar de leves a graves e podem incluir
• urticária, falta de ar, tonturas e perda de consciência. Além de inchaço da boca e dos olhos, vermelhidão e tosse durante ou depois da prática de exercícios.
• O tratamento envolve medidas preventivas, como evitar exercícios vigorosos, juntamente com o uso de epinefrina para tratar reações agudas.
Outra alergia rara e complexa é a gastroenterite eosinofílica (GEE). Como explica Lorena, o eosinófilos é um tipo de glóbulo branco que atua na defesa do sistema imunológico. No caso da gastroenterite eosinofílica, esses glóbulos brancos são liberados em altíssima quantidade causando danos ao próprio organismo, uma condição rara que causa inflamação no trato gastrointestinal, causada por uma resposta imune exagerada a certos alimentos. Os eosinófilos em excesso se infiltram no trato gastrointestinal, causando inflamação.
“É uma doença que não escolhe etnia, região, país. É predominante na faixa etária entre os 30 e 40 anos de idade. Mas é uma doença que pode começar já bem em tenras idades na literatura. Tem uma leve predominância no sexo masculino”, explica a drª. “O que vai mudar geralmente são os alimentos que estão relacionados a esse tipo de reação dependendo da cultura de cada país, por exemplo nos Estados Unidos o alimento mais alergênico é o amendoim. Aqui no Brasil é o leite. No Japão é o arroz, então o que geralmente muda aí, é o fator etiológico da reação”, completa. Em crianças as reações alérgicas podem ser mais severas por causarem desnutrição, o crescimento é mais lento e o ganho de peso é insuficiente.
Descrita pela primeira vez por Kaijser em 1937, essa alergia é facilmente confundida com doença de Crohn e linfoma, sendo diagnosticado em definitivo somente através de evidência histológica de infiltração eosinofílica em uma biópsia do local afetado. Atinge 60 a cada 100 mil pessoas.
Os sintomas incluem:
• dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia e perda de peso. A inflamação pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde o esôfago até o cólon. Além de Fezes sangrentas, edema, dificuldade para engolir, dor no peito, indigestão, inchaço.
• O diagnóstico envolve exames endoscópicos e biópsias para identificar a presença de eosinófilos na parede do trato gastrointestinal.
• O tratamento pode incluir dieta restritiva, medicamentos anti-inflamatórios e modificadores da resposta imune, dependendo da gravidade dos sintomas e da extensão da inflamação.
Mesmo sendo condições pouco comuns e complexas, como a urticária aquagênica, a anafilaxia induzida por exercícios e a gastroenterite eosinofílica, compreender as suas origens, sintomas e tratamentos pode contribuir para oferecer assistência e cuidados apropriados àqueles que convivem com essas enfermidades.
angioedema hereditário
A dra Lorena em entrevista ao DM, alertou para outras duas doenças que também merecem atenção da comunidade médica, para que haja um melhor preparo em reconhecer e tratar essas doenças de forma adequada: “angioedema hereditário e a urticária ao frio” – um diagnóstico precoce pode contribuir significativamente para melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados.
Conforme ressaltado pela Dra. Lorena, especialista no assunto, o angioedema hereditário é uma condição genética caracterizada por inchaços nas pálpebras, boca, língua e glote, podendo também afetar as alças intestinais, resultando em dores abdominais intensas. Em suas palavras, "Muitas vezes, é confundido com reações alérgicas, mas sua origem está na deficiência de fatores na cascata de complemento." A Dra. Lorena alerta para a importância do diagnóstico correto, pois edemas na faringe ou glote podem ter desfechos fatais. Existem tratamentos disponíveis, destacando-se medicamentos para profilaxia e para crises agudas.
Outra enfermidade discutida pela Dra. Lorena é a urticária ao frio, que afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes, especialmente em ambientes com ar condicionado, salas de aula e viagens de avião. Como ela aponta, "O desconforto causado por esta condição leva muitos pacientes a utilizar anti-histamínicos regularmente para enfrentar esses desafios cotidianos."
