Quem nunca sentiu aquele aperto na barriga em um momento de ansiedade ou estresse? Ou até mesmo gases e distensão abdominal após uma refeição muito grande? Estes sintomas podem até passar despercebidos por algumas pessoas, mas para quem tem Síndrome do Intestino Irritável (SII), eles podem causar grandes problemas no cotidiano.
A SII apresenta sintomas como constipação, diarreia ou episódios alternados entre os dois, excesso de gases, sensação de evacuação incompleta, além da sensibilidade alimentar, como alimentos com glúten e lactose, por exemplo. Estima-se que 20% da população brasileira conviva com a doença.
O estudante Fernando Pasquali, de 30 anos, está neste grupo e começou a sentir os sintomas há seis anos. Ele afirma que até 2017 possuía uma vida normal, mas que do dia para a noite, tudo mudou.
"Eu notei que comecei a ir no banheiro mais vezes ao dia e com diarreia, o que me atrapalhava muito quando precisava sair para algum compromisso", afirma.
Fernando tentou ignorar os sintomas no início, pois imaginava que pudesse que teria sido algo que houvesse comido, mas era só o início de uma jornada atrás de médicos e exames.
"A princípio, eu ignorei. Pensei que fosse algum alimento que não tivesse caído muito bem, mas depois de um tempo os sintomas não passavam e eu me assustei. Foi aí que corri atrás de um médico para saber o que estava acontecendo", alega.
"Meus sintomas iam de diarreias intensas à barriga inchada, com muitos gases, que só de encostar doía muito, além de enjoos, o que me deixava mais preocupado. O médico, então, pediu um exame de colonoscopia para investigar esse enigma", completa.
Depois de muitos exames para descartar outras doenças, como Crohn e Retocolite Ulcerativa, Fernando passou a fazer uma dieta específica para diminuir os desconfortos, além do uso de medicamentos para regular a microbiota intestinal e depressão.
Mas afinal, o que causa a SII?
Os sintomas relatados por Fernando são bastante comuns em consultórios médicos e de nutricionistas. A nutricionista Maíra Azevedo explica que os possíveis fatores que desencadeiam a SII são distúrbios da flora intestinal, alimentação desequilibrada e consumo excessivo de alguns alimentos.
Nutricionista Maíra Azevedo alerta para o consumo exagerado de alimentos que podem desencadear sintomas. (Foto: Arquivo pessoal)
"Os mais comum são os distúrbios da flora intestinal, como alterações na composição da microbiota intestinal, chamadas de disbiose, têm sido associadas. Sabemos que uma alimentação desequilibrada tem papel fundamental nisso. Consumo excessivo de: açúcar, gordura saturada e trans, alimentos ultraprocessados e adoçantes artificiais", explica a profissional.
Também sabemos que fatores emocionais como ansiedade podem agravar os sintomas Maíra Azevedo
Alguns alimentos devem ser evitados para quem possui a síndrome, para que haja diminuição dos sintomas. Os alimentos pertenem a uma sigla chamada FODMAP, que é um conjunto de alimentos fermentáveis que são mal absorvidos pelo organismo e que podem desencadear desconforto intestinal.
Segundo a nutricionista, a lista é grande, e inclui alimentos como frituras, alimentos gordurosos e ricos em gorduras saturadas, fast food e carnes gordurosas.
"Há alimentos que podem causar gases e inchaço, como feijões, brócolis, couve-flor, repolho, cebola e refrigerantes com gás. Alimentos picantes: condimentados, pimentas. Alimentos ricos em cafeína: bebidas cafeinadas, como café, chá preto, refrigerantes com cafeína e chocolate. Alimentos que contêm frutose em excesso, como refrigerantes, sucos de frutas, maçãs, peras, mel, xarope de milho rico em frutose e adoçantes artificiais", diz.
A SII pode vir acompanhada da intolerância à lactose, por isso, esses casos, é recomendado evitar leite, queijos, iogurtes e sorvetes. "No entanto, algumas pessoas com SII podem tolerar produtos lácteos com baixo teor de lactose ou optar por alternativas sem lactose. Por isso é importante conhecer o organismo e observar o que faz mal", alega.
A conexão entre cérebro e intestino
Os cuidados com a SII vão muito além da alimentação, pois um episódio de estresse pode gerar uma crise, portanto, a menutenção da ansiedade e terapia podem ajudar muito para quem possui a doença.
"Encontre técnicas de gerenciamento do estresse que funcionem para você, como exercícios de respiração, meditação, ioga ou atividades relaxantes. Exercícios físicos regulares: Mantenha uma rotina de exercícios físicos moderados, pois eles podem ajudar a regular o funcionamento do intestino e reduzir o estresse", explica Maíra.
"A terapia comportamental, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), pode ser benéfica para algumas pessoas com SII, ajudando a lidar com o estresse, a ansiedade e a melhorar a qualidade de vida", finaliza.
Hoje, Fernando faz acompanhamento multidisciplinar e já notou melhora no seu quadro e continua fazendo testes alimentares para evitar as crises.
"A terapia me ajuda muito com o controle da ansiedade, a nutrição me ensina quais alimentos eu devo comer com moderação ou evitar, e até aqueles que eu posso comer à vontade. Ainda estou testando algumas frutas e legumes, digamos que reinseri 80% e sei que alho e cebola estão fora de cogitação. Já o acompanhamento médico me dá apoio na questão medicamentosa contra depressão e no controle das crises, com remédios para a motilidade intestinal", afirma.