O mês de janeiro celebra a visibilidade transexual, e este é um assunto que tem ficado ainda mais em evidência nos últimos anos. Entretanto, por mais que o assunto esteja quebrando seus tabus, ainda existe o preconceito, que esbarra na vida de pessoas LGBTQIAP+ e, como resultado, dificulta o cotidiano destas pessoas.
Para entender o que é transexualidade, deve-se compreender que o conceito de transgênero abrange aqueles que não se identificam com o gênero que lhe foi concebido no nascimento, são eles os homens trans, mulheres trans e travestis.
DIREITOS INSTITUÍDOS, MAS DESRESPEITADOS
Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela crimilização da homofobia e da trasnfobia. No entanto, o as ofensas e agressões físicas e verbais contra transexuais não diminuíram. De acordo com O "Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras", da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), O Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis no mundo.
Somente em 2022, foram registradas 131 mortes de transexuais e travestis no país. Desde 2008, ano em que começou o balanço, o número de mortes subiu e oscilou, mas nunca ficou abaixo de 58 assassinatos. Em 2021 foram 140 mortes.
Fonte: Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras
As barreiras são grandes e pessoas transexuais ficam recesosas de sair na rua pelo simples fato de serem elas mesmas. Um preconceito que não tem explicação e nem justificativa mata pessoas que poderiam somar ainda mais para a sociedade, se esta fosse mais justa.
Val Costa: a força resiste e persiste
A autônoma Val Costa, de 23 anos, é uma mulher trans e conta que passou por vários momentos ruins durante a vida por "não responder àquilo que a sociedade solicita".
"Desde os meus 13 anos me assumi como garoto gay, mas aos 18 comecei a me entender como mulher trans, no início eu era taxada de chacota e me chamavam de aberraçao", conta.
Se para homossexuais o medo de sair nas ruas é grande, para pessoas transexuais, como Val, o medo é maior ainda, pois a sociedade discrimina sem pensar nas dores que isso pode causar.
"O mais difícil até hoje é estar em certos ambientes onde você não vê outras pessoas trans, as pessoas fazem piadas, usam termos pejorativos e marginalizam nossa classe", desabafa.
Val Costa, exemplo de força e coragem para enfrentar uma sociedade preconceituosa. (Foto: Arquivo pessoal)
A questão de conseguir emprego é um grande problema para transexuais, uma vez que existem poucas vagas para uma grande demanda. Muitas vezes estas pessoas acabam trabalhando em empresas que cobram demais, com horários que exploram - inclusive a saúde mental, além da falta de oportunidade de crescimento nas empresas.
"Desde que me tornei trans aos 18 anos, não consegui entrar em empresas, passei constrangimento em algumas entrevistas de emprego, hoje trabalho por conta própria fazendo alguns bicos", afirma
"Precisamos de oportunidades para entrar no mercado de trabalho, empresas têm que abrir as portas para nós mulheres trans que, assim como mulheres cis, podemos fazer um ótimo trabalho. Sem oportunidade de ter experiência não tem como a gente crescer profissionalmente Não nos dão oportunidades por preconceito e por acharem que não somos capazes, mas somos e vamos continuar lutando por isso", continua.
Val conta sobre como foi o processo em se descobrir mulher trans, o apoio dos pais e preconceitos enfrentados com parentes.
"Para mim foi um processo mais natural, bem aos poucos me sentindo melhor e me vendo mais feminina. No caso dos meus pais sinto que foi tranquilo também, me apoiaram desde o início e sempre me defenderam já com tios e tias foi diferente, muitos se afastaram e não tenho contato", conta Val
Até mesmo amigos se afastaram após Va se assumir como uma mulher trans.
"Muitos amigos me abandonaram com vergonha e com medo do que a sociedade tinha a pensar", afirma.
Sobre ser uma mulher trans, Val afirma que é necessário ser forte, não abaixar a cabeça para ninguém e ir à luta. Ela ainda deixa um recado para a sociedade.
"Espero que pesquisem mais e procurem entender que nós só queremos ser incluídas na sociedade como pessoas normais, estamos no século XXI ano de 2023, apenas cinco minutos de pesquisa no mínimo ja vai deixar vocês sabendo o básico e a aprender a não nos ofender com termos pejorativos. Eliminem o preconceito da vida de vocês e espalhem mais amor".