Turistas contraditórios
Diário da Manhã
Publicado em 6 de julho de 2017 às 02:30 | Atualizado há 4 meses
- Na praia dos goianos, visitantes têm consciência sobre necessidade de preservação, mas são desorganizados e descuidados com o lixo
Uma contradição permeia o comportamento dos turistas que frequentam as praias do rio Araguaia nas férias de julho, no discurso, eles sabem que preservar o meio ambiente é importante, mas na prática, não cuidam do próprio lixo.
Essa constatação é de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), que averiguou a consciência ambiental e o comportamento de quem visitou o município de Aruanã em 2013 e 2014.
Coordenada pelo professor da Faculdade de Educação Física e Dança da UFG, Humberto Luís de Deus Inácio, a pesquisa questionou os visitantes sobre como eles cuidavam do meio ambiente e do lixo, se evitam fazer ruídos quando praticavam atividades na natureza, se priorizavam meios de transporte e produtos menos poluentes, entre outros.
As respostas analisadas acusaram consciência ambiental de média para alta. Em seguida, os pesquisadores observaram o comportamento dos turistas em três tipos de acampamentos para perceber se as declarações correspondiam com a prática.
Nos acampamentos promovidos por instituições como sindicatos, bancos e federações, em que existem regras de convívio, recipientes de depósito de lixo, coleta seletiva e horário estipulado para atividades, o comportamento ambiental se aproximou das declarações registradas nos questionários.
Nos acampamentos familiares, a diferença entre discurso e prática ficou diluída, uma vez que cada grupo reunido seguia uma dinâmica própria de convivência. O contraste maior, porém, se deu nos acampamentos de fim de semana, que recebem a maior parte dos turistas e onde estão os bares.
“As pessoas vão com as suas barracas, os seus equipamentos e se instalam onde querem. Há muita bebida e desorganização”, relatou o professor Humberto Luís de Deus Inácio.
Conforme o professor, os lixos mais comuns encontrado durante a pesquisa foram as garrafas Pet, latinhas, sacolas plásticas, pratos e copos descartáveis, além dos restos de fogueiras e de partes de barracas com os specks e coberturas.
Mas a pesquisa também indicou, que “os turistas produzem poluição sonora, com inúmeros aparelhos de som, cada um com sua música própria e com volume perturbadores; poluem o rio com lavação de louça e roupa e que o próprio movimento turístico polui o rio com resíduos dos motores dos barcos, além do alto ruído também provocado pelos mesmos”, explicou Humberto Luís.
Poder público
A ausência do poder público foi uma questão que chamou a atenção dos pesquisadores. “A prefeitura recolhe o lixo das ilhas. Os barcos passam em pontos estratégicos e recolhem os sacos de lixo. Então o barco para, o gari joga o saco para dentro e vai embora. O que está espalhado fica na ilha, ninguém pega”, explicou o professor.
“Quero observar que a pesquisa foi realizada em 2013 e 2014, portanto já há algum tempo, sob outras administrações públicas; há possibilidade de este quadro sociocultural tenha sido alterado desde então, mas não é provável”, afirmou Humberto Luís.
Os pesquisadores entendem como necessária a ampliação de programas e campanhas de Educação Ambiental antes e durante o período de férias. Também insistem em uma fiscalização maior, principalmente, nos acampamentos de fim de semana. “As campanhas de conscientização são importantes, mas nem sempre se convertem em conhecimento. E é o conhecimento, não a informação, que pode gerar significativamente alguma alteração comportamental”, ressaltou o professor Humberto Luís.