O fotógrafo, ativista e ambientalista, Sebastião Salgado, falou para mais de mil pessoas na primeira temporada de 2015 do projeto Sempre um Papo em Belo Horizonte sobre a crise hídrica. “Matamos os nossos rios e as nossas florestas, e não há partido político que vá resolver isso sozinho”, atesta Salgado. Para ele, o problema da crise hídrica brasileira é de toda a sociedade, “Todos somos seres políticos e temos responsabilidades sociais”.
Muito além de um discurso afinado, o fotógrafo de 71 anos desde 1998, junto de sua esposa Léila Wanick, mantém o Instituto Terra que é responsável pelo plantio de mais de 2 milhões de árvores em Aimorés, no interior de Minas Gerais. De acordo com Sebastião Salgado, a falta de água tem sido mais sentida agora, “mas esse problema já vem acontecendo há muito tempo. Se estivéssemos cuidando dos rios e florestas, não estaríamos tão dependentes das chuvas para encher nossos reservatórios”.
É este Sebastião Salgado engajado e defensor de seus ideais que o filme O Sal da Terra mostra. Com a direção do alemão Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, filho do casal, o filme concorreu ao Oscar na categoria ‘documentário’. O lançamento do filme no Brasil está previsto para essa quinta-feira, dia 26, e apresentará além de suas obras artísticas, o agente social e ambientalista que faz parte da identidade de Salgado. Para Lélia, o documentário “é mais que um filme sobre a fotografia ou sobre a história de um homem, é um filme que mostra um ponto de vista sobre o mundo”.
Veja o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=pG3YLpZKomE
Em sua apresentação ao projeto Sempre Papo, que leva escritores e artistas diversos para conversarem com o público, Sebastião Salgado arrancou aplausos. “A solução para a crise hídrica é simples: não medir esforços. O Brasil é um País incrível, mas parece que o brasileiro não percebe isso. Ainda somos muito pessimistas em relação à nossa própria gente”, alertou.
Sebastião afirma que “hoje temos um Brasil moderno, mas que foi construído sobre as florestas e os rios”. Por isso, devemos repensar o consumo. “Depois do segundo governo do PT, há um acesso de 40 milhões de pessoas à classe média. Isso nunca aconteceu e é positivo, mas gera demanda de água”, explica, “A solução para o problema é preservar nossas nascentes. É absolutamente necessário que todas as instituições, sejam públicas ou privadas, façam sua parte”.
É seguindo essa perspectiva que o projeto Olhos d’água pretende revitalizar todas as nascentes da bacia do Rio Doce, que tem o tamanho de Portugal. O fotógrafo revelou ao público que a iniciativa do Instituto Terra “é um projeto que custa bilhões, mas, comparativamente, sai mais barato do que comprar aviões caça da Suécia”.
Apesar da atual crise que o país está passando, Salgado mostra otimismo com o País. Em entrevistas antes da palestra, ele afirmou que “pela primeira vez, os que estão no governo [federal] não são os mesmos que dominam os meios de comunicação, e por isso há informações sobre corrupção. Pela primeira vez, os corruptores estão pagando. Antes, só alguns intermediários eram acusados de corrupção. O Brasil já é um grande País e está cada vez mais sério”.
Algo que Sebastião aprendeu com suas viagens e experiências é que, para ele, se reaproximar da natureza é fundamental para compreendermos nosso lugar na Terra. “Hoje somos extraterrestres no nosso próprio planeta, não conhecemos nada sobre pássaros e plantas. Não temos a noção de que somos apenas uma espécie no meio de milhares. As árvores, por exemplo, são as responsáveis em manter a água no solo e o oxigênio no ar. Mas a cada dia cortamos mais árvores e poluímos mais a água e o ar. Temos que voltar em direção à Terra."