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Quando o filho vira uma peste

Era um pai, no auge do desespero, recorrendo ao professor Múcio de Melo Álvares como última esperança. A dramaticidade que envolveu aquele encontro permanece-nos viva até hoje na mente.

Disse o pai:

– Foi só crescer, nosso filho virou uma peste. Tudo que faz é para nos contestar e irritar. Briga com a mãe e comigo o dia inteiro. Nossa intenção é sumir, para nos livrar dele e ter um pouco de paz!

Respondeu o diretor do Instituto Araguaia, que durante mais de meio século educou milhares de filhos alheios, crianças e adolescentes e, por tabela, também muitos genitores:

– Não façam isso. Tenham paciência e não se omitam em suas obrigações. Em casos assim, geralmente o filho é um inimigo reencarnado, alguém que veio cobrar dívida moral contraída em vidas passadas. Completado o pagamento, o filho lhes deixará de ser problema e será solução.

Anos depois, encontrando o professor Múcio, que chegava de uma viagem a Brasília, ele se lembrou daquele fato e nos contou o seguinte:

– Um dia desses eu caminhava na W-3, quando alguém me chamou de dentro de uma loja que vendia chaveiros e pequenos enfeites. Para minha surpresa, era o filho daquele casal desesperado que você conheceu. Veio me abraçar muito gentil e me levou para ver seus pais, que moravam com ele nos fundos do estabelecimento. A idade os abatera mas estavam bem cuidados e aparentavam tranquilidade, elogiando o rebento inconveniente de ontem, que afinal amadurecera e se tornaram amparo e proteção de ambos.

Melhor ainda foi que pai e mãe deixaram o professor Múcio muito feliz, ao lhe agradecer a sábia e providencial orientação que lhes dera em momento de tanto sofrimento e dúvida, impedindo-os de fugir ao dever.

Filhos assim são credores do lar

“Credores do Lar”, uma página do Livro da Esperança, de Emmanuel e Francisco Cândido Xavier, ante dificuldades como aquela, tão comuns atualmente, recomenda exatamente como o fez o saudoso educador goiano:

“Quando te vejas, diante de filhos crescidos e lúcidos, erguidos à condição de dolorosos problemas do espírito, recorda que são eles credores do passado a te pedirem o resgate de velhas contas.

Busca auxiliá-los e sustentá-los com abnegação e ternura, ainda que isso te custe todos os sacrifícios porque, no justo instante em que a consciência te afirme tudo haveres efetuado para os enriquecer de educação e trabalho, dignidade e alegria, terás conquistado em silêncio o luminoso certificado de tua própria libertação”.

Quando chegam são joias de luz

“Credores do Lar” ainda detalha ao leitor informações preciosas sobre o assunto, como:

“No devotamento dos pais, todos os filhos são jóias de luz, entretanto, para que compreendas certos antagonismos que te afligem no lar, é preciso saibas que, entre os filhos-companheiros que te apóiam a alma, surgem os filhos-credores, alcançando-te a vida por instrutores de feição diferente.

Subtraindo-te aos choques de caráter negativo, no reencontro, preceitua a eterna bondade da Justiça Divina que a reencarnação funcione, reconduzindo-os a tua presença, através do berço. É por isso que, a princípio, não ombreiam contigo, em casa, como de igual para igual, porquanto reaparecem humildes e pequeninos.

Chegam frágeis e emudecidos, para que lhes ensine a palavra de apaziguamento e brandura. Não te rogam a liquidação de débitos, na intimidade do gabinete, e sim procuram-te o colo para nova fase de entendimento. Respiram-te o hálito e encorajam-se em tuas mãos, instalando-se em teus passos, para a transfiguração do próprio destino.

Embora desarmados, controlam-te os sentimentos.

Não obstante dependerem de ti, alteram-te as decisões com simples olhar.

De doces nomes do carinho, passam, com o tempo, à condição de examinadores constantes de tua estrada. Governam-te impulsos, fiscalizam-te os gestos, observam-te as companhias e exigem-te as horas. Reaprendem na escola do mundo com o teu amparo, todavia, à medida que se desenvolvem no conhecimento superior, transformam-se em inspetores intransigentes do teu grau de instrução.

Muitas vezes choras e sofres, tentando advinhar-lhes os pensamentos para que te percebam os testemunhos de amor. Calas os próprios sonhos, para que os sonhos deles se realizem. Apagas-te, a pouco a pouco, para que fuljam em teu lugar. Recebes todas as dores que te impõem à alma, com sorrisos nos lábios, conquanto te amarfanhem o coração.

E nunca possues o bastante para abrilhantar-lhes a existência, de vez que tudo lhes dás de ti mesmo, sem faturas de serviço e sem notas de pagamento”.

Então, quando o pagamento da conta do passado se completa, tudo muda em benefício dos pagadores, que passam a receber o bem que lhes é devido pelo exercício da responsabilidade e paciência, como aconteceu ao casal que o professor Múcio de Melo Álvares esclareceu com seus conhecimentos espíritas cristãos.

(Jávier Godinho, jornalista)

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