Existem em Goiânia, além do circuito profissional de cinema e audiovisual, as produtoras que trabalham com vídeos e materiais publicitários, temos também os entusiastas da experimentação artística, sonora e visual que a sétima arte pode possibilitar. Nessa nova leva de produtores, temos os amadores, que batem na tecla de se fazer o cinema de baixo orçamento, levantando essa bandeira em cada edição publicada.
Usando como a tela de exibição a internet, em especial os canais no Youtube, um pessoal obscuro que emergiu da zona extrema da região sudoeste, já lançaram cerca de nove filmes, todos experimentais, tanto no roteiro, quanto no uso das angulações e dinâmica de câmera. Também é interessante ressaltar a trilha sonora, que alterna entre músicos noruegueses de shoegaze e trilhas autorais, feitas a partir de estúdios digitais caseiros. Essa pode ser uma possível descrição do pessoal do Veredas Filmes.
O Veredas Filmes é uma organização produtora de vídeos com sede no Residencial Veredas dos Buritis, em Goiânia. Teve início em 2009, e de lá para cá vem lançando vários filmes, sendo o seu maior clássico o épico Karamazov, que mostra a busca pelos confins do inconsciente materializando locais e personagens. Em 2012, tal corporação entrou em hiato devido a desencaixes psicológicos. Além de três curtas, e de filmes extra-oficiais nunca divulgados, um gigantesco acervo de mais de 3 anos de imagens esta arquivado e podem ressurgir a qualquer momento no canal do Youtube dos caras.
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Cada produção em média, tem cerca de 15 a 20 minutos. Em conversa com um dos integrantes do coletivo, um dos produtores que também atua nas obras, Jerônimo (22), comentou sobre a questão financeira: "não tenho nenhuma perspectiva quanto ao meu futuro, mas gosto de fazer esses filminhos e pretendo continuar fazendo enquanto eu continuar gostando, e ir aprimorando a técnica e tudo mais." O que se vê é o ânimo de se produzir cinema, dentro das possibilidades materiais de cada um. Uma mensagem que aparece no final do último filme responde bem a essa questão: “Este filme foi produzido de forma independente e sem fins lucrativos (mas também não estamos recusando dinheiro, né?)”.
Websérie
Outra proposta de audiovisual inovadora que surgiu a pouco tempo, chama-se Koan. Formado por um coletivo de 6 cineastas convidados e com apoio do curso de Audiovisual da UEG. Eles apostaram na Websérie de vídeos curtos e experimentais, onde se explora as diferentes sensações sonoras e visuais que podemos ter a partir de efeitos de câmera e outras técnicas do cinema.
A descrição na página do Facebook do coletivo, explica o significado de Koan e já dá uma dica da intensão imagética da websérie:
“Um Koan é uma sentença ou pergunta, uma palavra, um sentido, um diálogo ou parábola de caráter enigmático e paradoxal, usado em práticas monacais de meditação com o objetivo de dissolver o raciocínio lógico e conceitual, conduzindo o praticante a uma súbita Iluminação intuitiva. A finalidade de cada Koan é libertar a mente das ciladas da linguagem. O Koan é um pequeno enigma Zen, contraditório ou paradoxal, de solução aparentemente irresolúvel numa análise lógica.
Os Koans mais famosos é um conjunto de 48 Koans, chamado Mummonkan, que foram compilados no início do século 13 pelo mestre Zen chinês Wumen Hui-k’ai (1183–1260) da Dinastia Sung. O prefácio de Wumen indica que esses escritos foram publicados em 1228 , sob o título de Wu-men kuan (Mummonkan) – “O Portal sem porta”.
O Koan é conhecido como “enigma do mestre”.
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A iniciativa, mostra que tem várias pessoas dispostas a fazer e experimentar, quando o assunto é cinema, e que essa é uma área ainda a ser melhor explorada, aqui na capital. Sobre a série virtual, conversei com um dos idealizadores do projeto, o estudante do 2º ano do curso de Cinema e Audiovisual da UEG, Samuel Peregrino:
DM Revista - Como surgiu o Koan?
Samuel Peregrino - Foi uma ideia que tive ano passado quando descobri o que era o Koan vagando pela internet. Meu plano era escrever um roteiro para uma websérie usando a temática do Koan de pano de fundo e achar um diretor experiente pra uma parceria. Foi aí que encontrei o Gabriel Newton (egresso do curso) que entende muito do gênero de séries para TV e também é roteirista. Ele topou a gente produzir juntos e sugeriu várias alterações importantes para o formato atual, inclusive, a colaboração de outros cineastas, tornando a websérie num coletivo criativo. Ainda com muitas incertezas quanto à estrutura, convidamos a professora do curso, Jô Levy, que nos orientou a viabilizar o projeto em parceria com o TRAMA - Narrativas Audiovisuais e Criação de Roteiros, projeto de extensão da UEG, coordenado por ela. Foi daí que conseguimos estabelecer as "regras do jogo".
DM Revista - Qual o principal objetivo dessa série?
Samuel Peregrino - Eu diria... Experimentar.
DM Revista - Como é o processo de criação e produção?
Samuel Peregrino - Com seis episódios de três minutos cada, a websérie coletiva exibiu cada semana a visão de um dos participantes do projeto sobre diferentes Koans – que são métodos de caráter paradoxal utilizados em práticas de meditação Zen budista.
A grande questão do processo final de cada vídeo era: como representar em imagem e som um enigma zen? Para participar da experiência é preciso aceitar as regras do jogo e tais regras são definidas pelo coletivo. Os três participantes escolherem outros três. Toparam participar os realizadores Ana Paula Akino e Érico José, alunos do curso de Cinema e Audiovisual, e Luciano Evangelista, profissional da área de Cinema e Audiovisual. Os seis participantes se encontraram no dia 10 de maio, chamado Dia Zero, para a apresentação geral do projeto e para o sorteio de um Koan. Cada um teria 30 dias para resolver audiovisualmente o seu Koan em um vídeo de até três minutos de duração em restrição de gênero (ficção, documentário, animação) Todos os participantes tiveram que guardar segredo sobre a experiência e não revelar aos outros qual era o seu Koan.
DM Revista - Para você, como é o espaço do audiovisual em Goiás?
Samuel Peregrino - Posso dizer que estamos vivenciando um movimento exponencial, criativo e colaborativo, onde, em contra-partida à uma instabilidade dos recursos públicos destinados ao setor, percebo, uma cena efervescente produzindo na força e na coragem por aqui. Poderíamos ter muito mais espaço e visibilidade no meio audiovisual nacional se houvesse, no mínimo, mais esforço na continuidade dessas políticas públicas, sem termos que reivindicá-las todo semestre.
DM Revista - Quais outros projetos você participou?
Samuel Peregrino - Como diretor produzi duas curtas em colaboração com alunos do curso de Cinema, o programa Pan TV em parceria com a TV UFG, e como roteirista o episódio-piloto do programa para TV "Vida de Cinema" com mais três episódios em produção.
DM Revista - O que o público que acompanha a série Koan pode esperar?
Samuel Peregrino - Mais uma temporada pela frente a partir de outubro.