Walacy Neto,Especial para DMRevista
Desde pequeno minha mãe dizia que rosa é pra menina e azul é pra menino. Também que certas situações são específicas para um gênero, como por exemplo, os trabalhos de casa. Atualmente tenho certo espanto, mas sabemos que se trata de uma alteração no pensamento global sobre fatos. Nunca antes se falou tanto em questões tidas como polêmicas como a homossexualidade ou o uso de drogas, por exemplo. São períodos de efervescência de ideias e falas, muitas falas sobre diversos pontos de vistas. Hoje em dia sei muito bem que a cor da roupa que uso tem um significado não de gênero, mas de expressão quanto ao interno.
Outro aspecto social que tem ganhado palco, e também tem ligação com o que acabei de citar, são as drag queens. No dicionário, o teor da palavra é o seguinte: “aquele que se produz com roupas femininas, usa maquiagem de forma extravagante, se vale de grande expressividade gestual e que, normalmente, se apresenta como artista em espetáculos, festas, shows, etc.”. Também se usa da extravagância, do exagero, uma simples peça de roupa não seria necessário para causar o impacto pretendido, acredito. Em uma matéria publicada no jornal O Globo, no final do ano de 2014, o repórter afirma que existe “uma nova geração de drag queens”. Ele fala de jovens que se montam para aproveitar a noite do Rio de Janeiro.
De acordo com a matéria, alguns fatos desencadearam essa maior disposição das drags para se apresentar ao público em geral. O reality show norte-americano Ru Paul’s Drag Race, por exemplo, tem 14 drags em uma disputa para um prêmio de US$ 100 mil e um megassuprimento em maquiagem. A utilização da mídia dessas ocorrências é vista com olhos pessimistas na maioria dos casos, porém, para as drags a divulgação significa colocar o assunto em prática.
O nosso País é considerado o mais violento quando se refere às travestis e aos transexuais. Apenas de 2006 a abril de 2013, foram registradas 486 mortes no Brasil. O valor ultrapassa o que é medido em países como o México, registrado como segundo lugar onde mais se mata travestis e trans no mundo. Esse relatório é baseado no número de casos reportados, o que indica que ele pode ser ainda maior e não só no Brasil, mas em todo mundo, já que países como Irã e Sudão não possuem dados disponíveis sobre esse tipo de crime.
Crossdressing
Recentemente, a cartunista Laerte Coutinho tem colocado em pauta a questão da indentidade e as significâncias e preconceitos que cercam os adeptos. Em entrevista ao jornal Diário da Manhã, no dia 9 de junho, ela falou sobre a liberdade de expressão e combate ao conservadorismo, que atualmente tem se mostrado frequente na boca de alguns brasileiros. “A gente tem mudado. Isto são sinais de movimentação na sociedade. Eu, pessoalmente, me coloco de um lado, do que busca a liberdade de expressão, da pessoa que combate o conservadorismo. Mas é uma luta dinâmica, um cenário difícil de definir de forma linear. Não é uma linha só que está acontecendo. É um quadro complexo. Eu vejo assim”, disse.
Laerte tem 64 anos e assumiu sua transsexualidade aos 57 anos. Estudou Comunicação e Música na Escola Estadual Coronel Frazão da Universidade de Itaguara, porém não se formou nestes cursos. Como quadrinista, participou das publicações nos períodicos Balão e no O Pasquim. Também foi colaborador das revistas Veja e Istoé, dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Afirmou em entrevista recente, no ano de 2010, que abandonara alguns dos personagens para dedicar a prática pública do crossdressing (usar vestimentas de armários femininos, no seu caso). Nesse momento conseguiu abrir a pauta dessa discussão, tornando-se um dos principais nomes quando se fala das manifestações a favor da liberdade de expressão. “Eu sei o que eu quero fazer neste quadro, defender meus pontos de vista de forma razoável e precisa. Mas um país é uma coisa bem diversificada”, afirmou.
A militância também é a vestimenta, o jeito de se portar em público e como se apresentar, ao menos nestes casos. A quebra do tabu, gigante por sinal, começa logo nesse momento: o ato de escolher uma simples peça em meio ao guarda-roupas. Vinicius Rafael é estudante de ALGO e mora em Goiânia. “Desde sempre brinquei de usar roupas e brinquedos de menina, desde criança me comportei dessa maneira diferenciada. Já usava maiôs, colocavam saltos e já sabia da minha sexualidade também, estas coisas. Mas agora durante o período da faculdade eu participei de um Saiaço e tive que arrumar uma saia com alguém. Peguei com uma tia que me deu a saia e um salto (ela inclusive é da Igreja Assembleia de Deus). A partir daí eu comecei a utilizar mais do guarda-roupa feminino e militar nessas questões de gênero como a homofobia, o machismo e etc.”, diz.
Ele afirma que faz parte de coletivos de discussão sobre gêneros, também cooperou na organização da última edição da Marcha das Vadias. Com uma saia vermelha, barba, batom e flores na cabeça, Vinicius tenta se assemelhar com a artista plástica Frida Kahlo. “Eu uso a roupa como uma ferramenta política, a fim de dizer que sou homem e tenho o direito de usar o que eu quiser e onde eu quiser, do jeito que eu me sentir bem”, declara. Vinicius diz já ter recebido convites para animar festas e afirma que tem interesse em trabalhar dessa forma. “Inclusive vai ter uma festa em setembro, uma festa de drags em Goiânia, ainda nem sei onde vai ser. Mas estou convidado para trabalhar na animação e divulgação. É uma forma de mostrar meu lado político em um ambiente novo, uma balada no caso”, concluiu.