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CULTURA

A síntese de uma Sepultura

No dia quatro de agosto de 1969, há 46 anos, nascia em Belo Horizonte o cantor e guitarrista Massimiliano Antônio Cavalera, mais tarde conhecido como Max Cavalera, um dos membros fundadores da banda de trash metal Sepultura. Ao lado do irmão, Iggor Cavalera, do guitarrista Andreas Kisser e do baixista Paulo Jr., viveram o auge do gênero no fim dos anos 80 e início dos anos 90. Hoje o Sepultura ocupa um lugar de destaque no cenário do metal, sendo considerada uma das bandas mais importantes do gênero. A banda também foi responsável por popularizar o metal no Brasil, abrindo espaço para inúmeras outras bandas.

Iggor e Max Cavalera tiveram uma infância de classe média alta. O pai deles, Graziano Cavalera, trabalhava na embaixada da Itália em São Paulo. A vida deles tomaria um rumo completamente inesperado em 1979, com a morte a do pai. Em sua autobiografia, entilulada My Bloody Roots, lançada em 2013, Max conta que o impacto da morte do pai, que desencadeou em um vazio inexplicavel em sua mente de 10 anos e dificuldades financeiras para a família, foi decisiva para que sua carreira musical existisse. A busca por algo brutal que servisse para expressar o ódio gerado na cabeça do músico devido à perda precoce do pai foi escencial para a existência da banda.

Traumas

"Sempre digo a mim mesmo que se ele não tivesse morrido, talvez nunca tivéssemos nos tornado músicos - hoje, provavelmente, estaríamos em casa, trabalhando com ele na embaixada, com o cabelo curto e vestindo paletó e gravata, e nada disso teria acontecido". Muito jovens, Max e Iggor Cavalera passaram de futuros executivos a órfãos sem futuro de uma hora para a outra. Graziano Cavalera morreu de repente, vítima de um mal súbito do coração. Não houve tempo algum para que seus filhos se preparassem.

A mudança de comportamento dos irmãos Cavalera foi gritante, como explica Max. "As nossas vidas mudaram. Um ano antes, éramos ricos e tínhamos um pai que trabalhava na embaixada. Um ano depois, morávamos com a nossa mãe e não tínhamos dinheiro algum. Fomos salvos pela nossa avó, que nos deu um pequeno lar nos fundos de sua casa". Nesse período de adaptação, Iggor e Max foram expulsos de praticamente todas as escolas que frequentaram.

Em My Bloody Roots, Cavalera tenta explicar anos depois o vazio existencial que sentia na época, e que levou-o a buscar refúgio. "Eu e Igor pensávamos: 'que caralho está acontecendo? Por que isso teve que acontecer?'. Não compreendíamos, então nos rebelamos. Uma rebelião total. Deixamos de ser bons alunos. As nossas notas foram pelo ralo e fomos expulsos de duas escolas. A minha mãe tentou nos manter na linha, mas éramos rebeldes demais". O choque de realidade enfrentado por Max Cavalera deixou-o refém de suas emoções durante alguns anos. Até que ele encontrasse na música o refúgio necessário para a superação da perda e se reerguesse, passou por vários empregos como funcionário. De sorveteria a sapataria.

Em um diálogo íntimo com a materialização da Vida, descrito em sua biografia, Max Cavalera descreve o momento em que percebeu que deveria tomar as rédeas de sua própria vida para conseguir sair da situação deplorável em que se encontrava. "A vida dizia: 'Lidem com essa porra agora! Não importa a idade de vocês ou se estão preparados. Não dou a mínima. Não têm escolha e precisam seguir adiante. Ele está morto, foi embora e vocês estão quebrados. A vida está toda fodida. Bem-vindos ao mundo'. Aquele foi o nosso estalo".

Música

Em um show da banda britânica de hard rock Queen, com toda a euforia que visualizou na banda e no público, Max Cavalera se deu conta de que queria os palcos para sua vida. Daí pra frente passou a buscar os extremos do rock, chegando a bandas de metal em alta nos anos 80, como Venom e Slayer. "Aquele tipo de som era perfeito para um moleque enfurecido, então, quando decidi fazer a nossa própria música, empreguei a mesma raiva, a mesma energia e a mesma violência. Era dali que vinha a brutalidade do Sepultura: da morte do meu pai.

Todo interesse pela brutalidade do metal veio do sofrimento acumulado por Max durante os anos em que se viu em um limbo, sem saída ou perspectiva de futuro. Da morte do pai, da ausencia de sentido da vida, ele procurava maneiras de expressar sua ira. Através da música ele percebeu que poderia fazer algo prazeroso para si e para as pessoas, e ao mesmo tempo, ter seu grito ouvido. "Depois, quando descobri que poderia me expressar com guitarra, vocais e letras, tudo mudou, cara. Ganhei uma arma. Ganhei uma voz. Ganhei uma nova maneira de pensar".

"A música salvou a minha vida, de verdade. Não fosse ela, as mionhas opções teriam sido bem sombrias e tristes. Provavelmente me envolveria com drogas ou com o crime, levando em consideração a àrea onde morava e as merdas que curtíamos", conta. No início do Sepultura, em 1983, Cavalera conta que não tinha noção de que uma guitarra precisava ser afinada, nem de que ele precisaria de um amplificador para que dela saísse som. E de uma pedaleira para que pudesse construir toda a distorção que ouvia nos discos de metal.

Sepultura

Através dos LPs, Max Cavalera aprendeu o inglês. Ele se empenhava em traduzir as canções que gostava. Foi desse costume que surgiu o nome da banda. "No disco Another Perfect Day, do Mothorhead, havia uma canção chamada 'Dancing on Your Grave'. A tradução de grave para o português é 'sepultura'. Pensei: 'taí um nome maneiro', então desenhei o logo num caderno, que hoje está no Rock and Roll Hall of Fame ". O Hall da Fama do Rock and Roll ao qual Cavalera se refere trata-se de um museu norte-americano que se dedica a registrar a história dos mais conhecidos e influentes artistas e produtores que tiveram grande impacto na indústria do rock e do pop em todo o mundo.

A banda Sepultura surgiu de forma embrionária em meados da década de 1980. "Agora tínhamos uma banda: eu na guitarra, Iggor na bateria, Wagner nos vocais e um cara chamado Rob no baixo. Aquele foi o início do Sepultura, em 1983", descreve Max. A formação clássica da banda veio apenas alguns anos depois de ouvirem as mais variadas vaias em todo tipo de palco que subiam. De 1987 a 1996, ano em que Max deixou o grupo, todos os discos lançados pelo Sepultura tiveram grande repercussão mundial. Hoje, os dois irmãos não fazem mais parte do grupo, mas sentem-se orgulhosos de terem feito parte da fundação da, segundo muitos, maior banda de metal brasileira de todos os tempos.

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