Certa vez o saudoso Renato Russo gritou na música ‘Química’ da Legião Urbana, já deu a letra:
“Chegou a nova leva de aprendizes/ Chegou a vez do nosso ritual/ E se você quiser entrar na tribo/ Aqui no nosso Belsen tropical/ Ter carro do ano, TV a cores/ Pagar imposto, ter pistolão/ Ter filho na escola, férias na Europa/ Conta bancária, comprar feijão/ Ser responsável, cristão convicto/ Cidadão modelo, burguês padrão/ Você tem que passar no vestibular [...] ”
E a bola da vez meus amigos, é o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) que substituiu o clássico vestibular na maioria das universidades públicas do país, inclusive na nossa UFG. Mais de 7 milhões e 746 mil estudantes se inscreveram para o Exame de 2015. O ENEM vai ser realizado, em todo o país, no próximo final de semana, nos dias 24 e 25 de Outubro.
Depois de meses fazendo intermináveis listas de exercícios, dezenas de redações de temas diversos, cálculos absurdos e acumulando uma quantidade sobre-humana de conhecimentos aleatórios que provavelmente jamais serão utilizados ou aproveitados após esse fim de semana fatídico. E nessa pressão externa, interna, familiar e do universo do status quo, como um todo, é inevitável uma certa ansiedade e nervosismo.
Uma das mudanças anunciadas no exame exigirá maior controle emocional dos candidatos, este ano às 13h todos devem estar em sala, porém o exame iniciará apenas às 13h30. Nesse meio tempo tente manter a mente controlada, sem se desesperar ou contar os minutos. Talvez um dado que possa te acalmar (ou te desesperar) é imaginar que ao mesmo tempo outras milhões de pessoas estão passando pela mesma situação que você, uma vez que esse rito de suposto teste de conhecimentos gerais e genéricos, é obrigatório para todos que pretendem adentrar uma instituição de ensino público de nível superior.
Só na região Centro-Oeste foram 703 mil e 669 pessoas inscritas. No Norte 816 mil e 288. Em Goiás são exatos 31 mil e 348 estudantes inscritos. A prova objetiva será aplicada no dia 24. Já a temida redação deve ser escrita no segundo dia. O texto da redação deve ser dissertativo-argumentativo, tendo no máximo 30 linhas. O aluno zera a redação caso não atenda à proposta solicitada, se entregar a folha de redação em branco ou escrever apenas 7 linhas ou menos de texto. No texto, o aluno precisa defender seu ponto de vista sobre o assunto, embasando-o com argumentos fortes de maneira a convencer a banca corretora. Quem zera a redação, já está fora e não pode mais pleitear uma vaga.
Conversamos com o professor João Gabriel da Fonseca,que dá aula no Instituto Federal Goiano, é mestrando em História (UFG) e autor de três livros. João já se tornou um especialista em provas e concursos e recentemente começou um aulão grátis e com certa frequência pela internet. Via YouTube, Fonseca e alguns outros professores amigos comentam temas recorrentes em provas de vestibular e no próprio ENEM.
Em entrevista para o DM Revista ele deu valiosas dicas para você que é estudante de primeira viagem no ENEM e nunca passou pela pressão de fazer dois dias seguidos de provas densas e muitas vezes até mesma confusa. Confira:
DM Revista-Professor, o que você considera um estudo diferenciado para o estudante se dar bem no Enem?
Pf. João Gabriel - O estudo diferenciado para o ENEM é aquele que o aluno tem a capacidade de raciocinar sobre o conteúdo trabalhado pelas escolas e que ele deve ter sempre o tempo para repensar sobre o assunto. Por exemplo, ao trabalhar os Direitos Humanos em sala de aula, o aluno além de ter a explicação necessária sobre (contexto, motivos de criação, etc.) precisa ter um tempo para refletir, ler e reler o documento, aplicar teoricamente em redações, ou algo do gênero.
Como toda a questão tem o elemento interpretativo, o aluno(a) necessita uma leitura atenta, coerente e concentrada para compreender o conteúdo. Ou seja, o aluno deve ter tempo de estudo que não deve ser suplantado pelo tempo de sala de aula. Um bom local de estudo, com clima propício (complicado nessa cidade), sem barulhos, etc. são indicações que favorecem um bom estudo.
DM Revista-Hoje em dia, basta devorar o conteúdo dos livros e decorar repetidamente as questões?
Pf. João Gabriel -Estudar os conteúdos sem aplicar na prática não tem funcionalidade no ENEM. Veja só: conforme foi dito, tempo para fazer uma aplicação social dos conteúdos é fundamental, pois tira o aluno do campo de ser “alguém que decora” para o “ser que compreende”. Assim, refazer as provas anteriores é fundamental apenas para ver a forma, modo, estrutura das questões e como elas são trabalhadas, sempre lembrando que as questões não se repetem, mas tem uma estrutura básica comum entre elas. Isso já deixa claro que o velho ritmo de cursinho de Goiânia mudou, ou se não, deve mudar: aluno preparado para o ENEM é aquele que sabe o que escreve.
DM Revista - Enem é uma prova bastante longa, quais dicas você daria para o momento de realização da prova, para quem vai fazer o teste nesse fim de semana?
Pf. João Gabriel -Algumas dicas são importantes faltando um dia para a prova. Vou enumerar para ser mais didático:
Na realização da prova:
DM Revista- O que levar para a sala?
Pf. João Gabriel- O candidato deve levar caneta esferográfica preta, em material transparente, documento de identificação original com foto válida.
O mais importante é o que NÃO LEVAR:
Lápis, lapiseiras, borrachas, livros, manuais impressos ou anotações de quaisquer dispositivos eletrônicos, tais como: máquinas calculadoras, agendas eletrônicas ou similares, telefones celulares, smartphones,tablets, ipods®, pen drives, mp3 ou similar, gravadores, relógios, alarmes de qualquer espécie ou qualquer transmissor, gravador ou receptor de dados, imagens, vídeos e mensagens.
DM Revista-Qual é o impacto no fato do ENEM ser um exame nacional onde todos os alunos do Brasil concorrem entre si?
Pf. João Gabriel -O impacto positivo de concorrer com o Brasil é a possibilidade do contato cultural de estudantes de vários estados, contribuindo para quebra de preconceitos e a possibilidade de vislumbrar novos ares. Algo negativo, é o constante preconceito e perseguição que certos grupos estudantis receberam (já recebiam por conta de racismo, segregação econômica e cultural) e que se amplia. Ao pensar assim, podemos notar que uma leve democratização de acesso dos estudantes no ensino superior público vem ocorrendo, aumentando a possibilidade de concorrer a vagas diferentes em universidades diferentes sem gastar com viagens e, principalmente, possibilitar a ida de universitários a outras universidades com as bolsas de financiamento.
Por fim, desejo a todos e todas uma excelente prova e lembrem-se que os gabaritos são muitos e as referências são tão contraditórias que nenhuma prova, nota ou qualquer número que reduza sua vida para a palavra “aprovado” ou “reprovado” poderá ser referência para a vida de qualquer ser humano que criou as provas e virou vítima delas. Boa prova a todos os leitores!