por Leon Carelli
Se uma pessoa que viveu no século XIX, antes da invenção da fotografia, fosse teletransportada diretamente para 2015, qual seria a reação dela diante do bombardeio constante de imagens, que flutuam em televisões, aparelhos celulares, computadores, outdoors, entre outros? Focado em questões da dinâmica da comunicação e das imagens, Roland Barthes é um dos mais importantes estudiosos do século XX. Escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo, nasceu na França no dia 12 de novembro de 1915. Faleceu aos 64 anos, em 1980.
Em suas análises, Barthes revela o papel político de objetos comuns no dia-a-dia das pessoas, como revistas e propagandas. Também contribuiu bastante no estudo sistemático da fotografia, um dos elementos mais presentes na vida contemporânea. O abstrato, as viagens visuais, chegam não fazendo sentido, em um primeiro momento. Interpretar esses estímulos visuais não é uma tarefa fácil devido ao costume engessado que existe em perceber a mensagem das imagens, sempre associadas a um sentido textual consistente.
Fotografia
No livro A Câmara Clara, escrito em 1980, Roland Barthes inicia uma busca pela verdadeira essência do objeto fotografia. Ele movia suas observações no rumo de um estudo que mostrasse as peculiaridades desse tipo de representação da realidade, sem interferências que desviassem o objetivo único: enxergar a fotografia como ela é, explicá-la sem se perder no meio do caminho com definições conceituais externas a ela. “Eu queria saber a qualquer preço o que ela era ‘em si’, por que traço essencial ela se distinguia da comunidade das imagens”.
A princípio, ele analisa o interesse público que uma fotografia pode despertar. “Podemos: seja desejar o objeto, a paisagem, o corpo que ela representa, seja amar ou ter amado o ser que ela nos dá a reconhecer; seja espantarmo-nos com o que vemos, seja admirar ou discutir o desempenho do fotógrafo, etc.”. A partir dessa observação, ele levanta vários elementos que justificariam a existência e propagação do estilo fotográfico pelo mundo, mas não consegue encontrar nesses elementos a essência da mesma.
Ao chegar a essa conclusão, Barthes tenta isolar algumas essências da foto, os tipos de conhecimentos que são acessados em nossa memória quando nos deparamos com a fotografia em si, como objeto de estudo. “É bem verdade que eu adivinhava na Fotografia, de um modo muito ortodoxo, toda uma rede de essências: essências materiais (que obrigam ao estudo físico, químico, óptico da foto) e essências regionais (que dependem, por exemplo, da estética, da História, da sociologia)”.
Significados
Em um ponto mais avançado da análise de Barthes, ele identifica dois elementos que seriam os regentes do processo comunicativo de cada fotografia. A esses elementos ele chama de studium e punctum. “O primeiro [studium], visivelmente, é uma vastidão, ele tem a extensão de um campo, que percebo com bastante familiaridade em função de meu saber, de minha cultura. O segundo [punctum] vem quebrar (ou escandir) o studium, Dessa vez, não sou eu quem vou buscá-lo , é ele eu parte da cena, como uma flecha, e vem transpassar.”.
Barthes identifica à sombra dessas palavras latinas, duas identidades que criam a relação entre uma pessoa e a fotografia que esta analisa. Outra reflexão de Barthes que merece ser citada é a relação entre fotografia e fotógrafo. Para ele, obra e autor estão acorrentados de forma irreversível, e um é responsável pela eternidade do outro. O fotógrafo eterniza a fotografia clicando-a. A foto eterniza o fotógrafo sendo-lhe atribuída.
Ele escreve: “Diríamos que a fotografia sempre traz consigo seu referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade amorosa ou fúnebre, no âmago do mundo em movimento: estão colados, um ao outro, membro a membro, como um condenado acorrentado a um cadáver em certos suplícios”. Apesar da escrita acadêmica, Barthes não deixava de lado o lirismo e a ironia, o que fazia dele um notável irreverente. Atualmente, qualquer curso superior que tenha enfoque em mídias passa obrigatoriamente pela obra de Barthes.