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Kastelijns: Uma viagem pelas estrelas

O rapaz é bom. Descrevo com simplicidade e objetividade, um trabalho extremamente autêntico que vem ganhando certa notoriedade em alguns meios e espaço da capital. Não tem como confundir, se você apreciar uma vez uma obra, rica em detalhes e texturas, certamente vai reconhecer quando ver outro Kastelijns.

Com breves 18 anos de idade, nascido lá para os lados do Paraná, na cidade de Ponta Grossa, porém “goiano de coração” nas palavras do mesmo. Pedro Kastelijns criou uma estética específica para suas ilustrações, a maioria feitas em bicos de pena, com nanquim e coloridas com aquarela.

Recentemente participou de uma exposição coletiva na galeria Potrich, chamada FAKE FAKE Ilustraciones, onde mostrou sua arte junto com outros ótimos ilustradores da capital. Também fez desenhos que estampam camisetas, agora pela Europa, dos garotos dos olhos da capital, a banda Boogarins (destaque mundial na nova música psicodélica).

Os personagens criados nas obras únicas de Kastelijns, transpassam uma ideia de inocência, com um aspecto um tanto infantil e com desdobramentos fantasiosos. É um mundo meio de sonhos mesmo, surrealista e acolhedor. As casas, a arquitetura impossível, os ambientes fechados e as galáxias soam como devaneios, alguns pesadelos, porém sem perder a ternura.

O jovem ilustrador está presente em rolês de zines e publicações independente e publica uma página no Facebook e um Tumblr  com suas obras, e vez ou outra presenteia os fãs com novas criações e fritações pessoais.

Eu conversei com o caro Kastelijns e ele me revelou um pouco dos segredos que rondam a mente criativa por trás das canetas e pinceladas do rapaz:

DM Revista -Pedro, você desenha, pinta e faz música, a arte para você é expressão de angustia, sonhos ou necessidade de existência?

P. Kastelijns- Eu sou um bocado ansioso com a vida e a existência e adoro pensar em coisas fantásticas ou romantizar situações a ponto delas se tornarem mágicas, místicas. Eu penso em sons, cores e cenas o tempo todo. Então acho que é uma mistura dos três somada com satisfação pessoal. Adoro me perder nas minhas ideias enquanto desenho ou gravo música, porque na verdade, a vida, as vezes (ou quase sempre) é tão chata e engessada que dentro das minhas ideias e mundos eu me encontro. Eu desenho desde criança e sempre tive contato com música, teatro e várias formas de expressão artísticas desde cedo. Eu realmente não sei fazer muito bem nada fora disso e sem fazer meus desenhos ou gravar música eu seria bem infeliz e nada mais faria muito sentido. Então eu direciono minhas ambições e planos de vida em cima dessas coisas e vejo onde vou indo.

DM Revista - Como funciona esse processo criativo todo, como se organiza para desaguar seu fluxo de inspirações nos produtos?

P. Kastelijns-É bem doido porque eu sou meio desorganizado e preguiçoso. As vezes eu tenho uma ideia na minha cabeça que demoro mais de um mês pra materializar, até lá ela já sofreu mil influências e quando faço vira outra coisa, hehe. Eu tenho sempre pessoas e amigos pra me darem empurrões. O zine que lancei esse ano, o Taparatas, que tem 6 contos ilustrados, eu não teria feito se não fosse o Bruno Abdala, da Propósito Records, selo independente de música eletrônica daqui de Goiânia. Ele me falou pra fazer um zine e que ele produziria, daí eu posterguei esse momento por um tempão. Um dia ele me apertou, comecei a fazer uns desenhos pra encher linguiça e quando ví a coisa tomou um rumo muito bonito e eu fiquei muito orgulhoso no final. Esse tipo de coisa acontece muito comigo. Eu fico realmente orgulhoso das coisas que faço quando elas tomam vida própria e transcendem sem o meu controle. Depois que acabo eu fico "de onde saiu isso?!"

DM Revista - Seus traços e cores são bem singulares, porém tem alguma influência ou referência estética que você reivindica na sua obra?

P. Kastelijns-Eu tenho muitas influências. Eu gosto muito dos desenhos do Tim Burton, do Pedro Cobiaco, das aquarelas do Bretch Evens, e dos pesadelos da Aleksandra Waliszewska. Esses são nomes marcantes pra mim, me inspiram muito! Eu também sou apaixonado por Van Gogh e amo os impressionistas. Adoro o Poteiro! Algumas coisas específicas dentro da arte contemporânea me interessam muito. Eu gosto de muitas coisas e as vezes acabo me perdendo por não saber pra onde ir, haha. Meu trabalho tem muito de ilustração mesmo, mas no momento gostaria de trazer algo mais próximo de arte contemporânea pra ele. Ao mesmo tempo, independente de referências estéticas, o mais importante tem sido passar uma experiência onírica, pura e que me represente.

                                         Foto por Beatriz Perini

DM Revista - As figuras humanas que você cria tem uma certa constância de formas e expressões, seriam alguns personagens que estão por vir, talvez alguma história ou enredo?

P. Kastelijns-Acho que esses personagens tem essa constância pois na maioria das vezes acabo me retratando dentro dos desenhos. Cada vez que eles aparecem, muitas vezes, e nem sempre intencionalmente acabo retratando algum momento da minha vida ou sentimento meu. Talvez eles façam parte de um grande enredo todo desconexo e em algum momento será válido registrar isso de forma mais detalhada e linear, daí farei isso.

DM Revista - Qual sua verdadeira relação com as estrelas?

P. Kastelijns-Eu e as estrelas temos um relacionamento sério, mas ao mesmo tempo somos livres pra ir e vir, hahah. Uma cumplicidade mística. Eu sou apaixonado pelo céu e o espaço! É muito magnifico, majestoso, misterioso, inexplorado, infinito. Desde o meio de 2014 e praticamente todo esse ano de 2015 imprimi em quase todos os meus desenhos um punhado de estrelas. Acho que nenhum desenho meu se passa durante o dia. Eu gosto de usar o preto. Mas tenho deixado as estrelas um pouco de lado e me apaixonado pelos animais e as plantas. O espaço é distante demais de todos nós. Tem sido bom por os pés no chão também.

DM Revista - Questão de publicações, você já fez alguns zines, como surgiu o projeto URSA?

P. Kastelijns-A URSA surgiu ano passado, em 2014, quando o Vitor Cadillac, um dos produtores do Vaca Amarela, festival de música independente daqui de Goiânia, chamou eu e a Beatriz Perini, minha amiga, pra fazermos um zine pro festival. A gente até então não tinha feito nenhum zine, mas já conversávamos de fazer algo fazia um tempo, então aproveitamos o empurrãozinho e foi bem legal. Juntamos meio que na correria desenhos nossos já feitos e produzimos alguns inéditos, unimos tudo e demos vida pra URSA!

DM Revista - Como você avalia a produção independente de ilustrações em Goiânia?

P. Kastelijns-Acho que a produção independente de ilustrações em Goiânia dá passos pequenos, porém constantes. Parece que a maioria das pessoas fazem isso dentro de trabalhos de design ou tatuam. Eu acho isso válido, mas geralmente não me instiga muito. Sinto que são poucas as pessoas daqui que estão em busca de uma linguagem própria ou que se interessam em fazer um trabalho instigante que realmente dialogue com o público e a cena cultural da cidade. Ao mesmo tempo Goiânia é uma capital relativamente nova e com fortes aspectos interioranos, logo é normal que a ilustração (e não só ela) ainda esteja se achando por aqui, tanto a respeito dos artistas como do público. Mas com certeza estamos caminhando pra algo legal.

DM Revista - Você já ilustrou cartazes, flyers, murais e zines, que tipo de projetos você tem em mente que gostaria de realizar?

P. Kastelijns-Eu gostaria de aumentar a escala dos desenhos! Talvez pintar num elefante.

DM Revista - Na área da música, você vem produzindo algo, o que os leitores podem esperar dessa sinestesia criativa de Kastelijns?

P. Kastelijns-Ah, não esperem nada demais! Hehe, só eu me divertindo com os sons.

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