A crença de que a Terra é plana é uma ideia presente em várias culturas antigas. Alguns exemplos são a sociedade grega do período clássico ou a sociedade chinesa até o século XVII. Nas Américas, tal interpretação também era difundida entre culturas aborígenes. O paradigma da Terra esférica surgiu na filosofia grega, com Pitágoras, no século 6 a.C. Atualmente, a ideia de terra esférica é amplamente aceita pela ciência e pela população mundial. Em contrapartida, há quem acredite que a Terra seja plana, como nos mostra a página ‘Terra Plana – Astronomia Zetética’, do Facebook, com mais de três mil curtidas.
Na página, o administrador defende a pseudociência da Terra Plana, bem como faz reverências à teoria criacionista, apresentado um discurso anti-científico com nuances de conspiração. A página já apresentou inclusive um vídeo onde supostamente um avião voa acima do sol, além de vários vídeos do horizonte plano, com zooms faraônicos em objetos muito distantes, que deveriam estar escondidos caso a Terra fosse um globo. Também são postadas críticas sociais na página, como a da homogeneidade educacional. “Ninguém é burro, apenas somos obrigados a aprender mentiras que não fazem sentido mesmo. Somos convencidos sobre o que aprendemos, não é intuição”.
Boa parte dos seguidores da página acompanham seu desenvolvimento principalmente pela indagação intrigante e completamente anti-status-quo que ela apresenta. De forma geral, a página questiona principalmente a falta de provas convincentes de que a Terra é um globo, chamando qualquer tipo de material gráfico apresentado por instituições como a NASA de montagens baratas, que foram confeccionadas com o intuito de alienar a sociedade. O administrador da página também argumenta que tal material circula mundialmente com o objetivo de afastar as pessoas de Deus.
Além dos vídeos que idolatram as capacidades da filmadora Nikon Coolpix P900, devido ao seu zoom com poderes que vão além de qualquer estudo científico, a página apresenta ainda algumas outras evidências de que estaríamos vivendo em uma mentira global. Tais evidências seriam parte baseadas em cálculos matemáticos pouco acessíveis para quem não se dedica à área, e parte em depoimentos de ex-pilotos de avião, instaladores de antenas elétricas e cientistas. Algumas pessoas famosas que aderem ao movimento também são aclamadas pela página, como o caso do rapper norte americano B.o.b.
Rob Sika é uma das testemunhas. Ele diz: “Tenho trabalhado com torres de comunicação por 15 anos e agora sim: a Terra é plana. Tão plana que eu posso pegar um sinal de micro-ondas Fresnel a mais de 965 km de distância, o que seria impossível se a Terra fosse esférica. E posso ver Bismarck, Dakota do Norte (Estados Unidos) de Grand Forks, no mesmo estado. Se você considerasse a teoria da Terra Esférica seria impossível. Eu sei que a Terra é plana. Estive lidando com comunicações sem fio durante toda a minha vida, e a matemática mostra isso. Deus abençoe”.
Síntese
A teoria moderna da Terra Plana surgiu através do escritor inglês Samuel Rawbothan (1816-1884). Baseado em observações do Rio Old Bedford, Rawbothan publicou um panfleto de 16 páginas com intitulado ‘Astronomia Zetética’. Mais tarde, o panfleto foi esticado em um livro de 430 páginas chamado ‘A Terra não é plana’. Nesse livro, a Terra é descrita como um disco plano com o polo norte ao centro e a Antarctica nas bordas. O Sol e a Lua estariam a uma distância de 4800 km (e não 149,6 milhões e 384 mil km respectivamente) e o ‘cosmos’ estaria a apenas cinco mil quilômetros da Terra.
A hipótese da Terra plana ganhou força no século XX através da Flat Earth Society (Sociedade Terra Plana). Tal sociedade foi criada em 1956, pelo compositor musical Samuel Shenton. Tal organização baseava-se ainda mais em argumentos religiosos, em comparação com os adeptos da Astronomia Zetética. Quando confrontado por imagens de satélite da Terra esférica, Shenton dizia coisas como “é fácil ver como uma fotografia como essa é capaz de enganar um olho destreinado”. Várias manchetes de jornais sobre a Terra plana surgiram nas décadas de 1970 e 1980. A partir daí, o assunto perdeu força, sendo retomado com menos relevância na década de 2000 com a popularização da internet.