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CULTURA

Chacina de Quintino

Durante o período da ditadura militar brasileira (1964-1985), vários grupos políticos de resistência foram criados no país, principalmente após a emissão do Ato Institucional Nº 5 (conhecido como AI-5), que garantia aos militares o direito de punir arbitrariamente qualquer um que se manifestasse contra o regime vigente. O VAR-Palmares foi um desses grupos. Ele utilizava de táticas de guerrilha urbana em defesa do fim da ditadura militar e da instalação de um Estado Socialista no país. No dia 29 de março de 1972, Lígia Maria Salgado Nóbrega, Antônio Marcos Pinto de Oliveira e Maria Regina Lobo Leite Figueiredo, militantes do VAR,  foram assassinados por militares.

As mortes foram atribuídas a agentes do DIC/CODI (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna), criado para combater supostos inimigos da ditadura militar, e, consequentemente – segundo os militares, da segurança nacional. Para os opositores do regime militar, o DIC/CODI era na verdade uma ferramenta que visava manter o regime totalitário e silenciar qualquer iniciativa ideológica oposta aos militares. Eles alegavam que o grupo era responsável por diversos atentados à segurança nacional, através de assaltos, sequestros e ataques que ameaçavam a impermeabilidade e superioridade absoluta dos militares e colocasse em dúvida suas ações.

Mortes


Entre as vítimas da Chacina estava a guerrilheira Lígia Maria Salgado de Nóbrega. Ela tinha apenas 24 anos e estava grávida de dois meses. Em 2013, a Revista Istoé chama Lígia Salgado de “A Dilma que morreu”, afirmando que se a atual presidente não estivesse presa no início de 1970, poderia ter sido ela a estar na casa de Quintino. Cursou pedagogia na USP, e chegou a atuar como educadora. Em 1970 passou a militar e participar de ações da VAR-Palmares.  Natural de Natal, Rio Grande do norte, hoje é considerada um símbolo do movimento estudantil e da resistência ao totalitarismo. Segundo os agentes, Lígia teria sido atingida por um tiro na perna, apesar de seu corpo apresentar um tiro na cabeça e escoriações nas costas.

Também foi morta na ocasião Maria Regina Lobo Leite Figueiredo, de 33 anos, que também dedicava-se à pedagogia. Ela deixou duas filhas, Isabel e Iara, que tinham três e quatro anos em 1972. O pai das meninas, que também era militante da resistência à ditadura, tinha sido morto em abril de 1971 no recife. A outra vítima, Antônio Marcos Pinto de Oliveira, tinha apenas 22 anos. Antes de integrar a VAR-Palmares fazia parte da militância da Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil. Atuava no movimento estudantil carioca desde 1966, como secundarista. Entrou para a “clandestinidade” quando viu vários amigos serem presos ao realizar trabalho comunitário em 1971.

O caso foi reescrito 41 anos depois, pela Comissão da Verdade, responsável por investigar violações aos direitos humanos durante o período da ditadura militar brasileira. A Comissão conseguiu o depoimento de um especialista do IML, responsável por examinar os corpos em 1972. Ele afirmou que não havia vestígio de pólvora nas mãos das vítimas, o que descarta a versão dos militares, que alegava troca de tiros. Também foram consultados documentos antigos e testemunhas que presenciaram a ação na época. Elas contaram que Lígia foi assassinada, ainda na porta da casa, depois de se render.O assassinato dos três foi constatado pela comissão, o que permitiu que as famílias processassem o Estado.

VAR-Palmares


A Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) foi uma organização política que utilizava táticas de guerrilha urbana para combater a ditadura militar brasileira. Surgiu em 1969, tendo na primeira direção nomes como Carlos Lamarca (morto em 1971), Maria do Carmo Brito (socióloga) e Carlos Franklin de Araújo (ex-marido e pai da filha da atual Presidente da República) Dilma Rousseff. A maior operação do VAR-Palmares foi o roubo do cofre do recém-falecido ex-governador de São Paulo Adhemar Bastos, em 18 de julho 1969. O cofre continha cerca de 2,5 milhões de dólares (que hoje valeriam mais de 20 milhões de reais), e localizava-se na casa de sua secretária e amante Ana Guimol Benchimol Capriglione.

Foi o próprio Lamarca quem anunciou o sucesso da ação à imprensa, emitindo o seguinte comunicado: “Depois de uma longa investigação, localizamos uma parte da famosa ‘caixinha’ do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, enriquecido por anos e anos de corrupção. Conseguimos US$ 2,5 milhões. Esse dinheiro, roubado do povo, a ele será devolvido”. A organização sabia ainda de outros sete cofres deixados pelo ex-governador. O evento costuma ser lembrado por camadas da extrema direita, favoráveis à permanência dos militares no poder do País, como “

o maior golpe da história do terrorismo mundial". Dilma Rousseff fazia parte da organização, mas não atuou no roubo, afirmando ainda que "Se tivesse tido, não teria nenhum problema em admitir".

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