Música, mortes e igrejas queimadas

O guitarrista Euronymous foi uma influente figura da primeira cena de Black Metal da Noruega no início dos anos 1990. A subcultura, bastante presente nos países escandinavos na época, trazia em sua essência a crítica ao cristianismo e a outras religiões institucionalizadas, através de canções de cunho apocalíptico com frequentes referências à figura de Satan, descrito nos antigos textos hebraicos como aquele que traz a tentação e a maldade. Euronymous era guitarrista da banda Mayhem e foi assassinado por Varg Vikernes, da banda Burzum, em 1993. Vikernes passou vários anos na cadeia, e através de declarações frias tornou-se uma das figuras mais simbólicas e controversas do Metal.

O assassinato de Euronymous alimenta o imaginário do estilo junto com suas outras maldições. Adeptos da subcultura, inclusive os músicos, estavam envolvidos na queima de vários templos cristãos em protesto à constante influência da Igreja no modo de vida do mundo ocidental. Entre 1992 e 1995, mais de 20 tentativas de incêndio de templos foram organizadas por membros da cena. Os escândalos do Black Metal ajudaram a colocá-lo com frequência nos noticiários, o que acabou apresentando-o para várias outras partes do mundo. Apesar do Black Metal não ter surgido especificamente na Noruega, os músicos envolvidos à cena escandinava são vistos como criadores do Black Metal moderno.

Trata-se de uma vertente extrema do Heavy Metal que possui estrutura melancólica, e explora nas letras temas como paganismo e depressão. Em palco, os músicos geralmente utilizam visual sombrio – maquiagem preta e branca, peças de estética medieval, cruzes invertidas e pentagramas, por exemplo. A mitologia nórdica também alcança algumas bandas em meio às composições. As influências musicais vem de discos que nos anos 1980 traziam fórmulas inovadoras do chamado ‘metal extremo’, como o disco ‘Black Metal’, da banda britânica Venom, de 1982, ou até mesmo o disco ‘I.N.R.I.’ (1987) da banda brasileira Sarcófago, fundada em Belo Horizonte e conhecida mundialmente.

Assassinato

Euronymous completaria hoje 48 anos. Quando foi assassinado, tinha apenas 25, e trabalhava no primeiro álbum de estúdio da banda Mayhem. O disco ‘De Mysteriis Dom Sathanas’, lançado em 1994, é considerado um dos mais influentes do gênero. Começou a ser escrito em 1987, mas só foi concluído e lançado sete anos depois. Duas mortes atrasaram a finalização do trabalho: ao suicídio do compositor e vocalista Dead Ohlin e ao assassinato de Euronymous. O titulo do álbum vem do latim, e significa ‘Sobre o mistério do Lorde Satan’. Na época em que o guitarrista foi morto, o assassino Varg Vikernes fazia parte da line-up do Mayhem como baixista

Na época, Varg justificou o assassinato dizendo que Euronymous planejava torturá-lo até a morte e gravaria um vídeo do ato, utilizando como desculpa para o encontro mortal uma suposta reunião sobre contratos. Varg contou à polícia que agiu em legítima defesa ao esfaquear Euronymous até a morte. Mesmo assim, foi sentenciado a 21 anos de prisão, dos quais cumpriu 15, sendo libertado em 2009. O projeto musical de Varg, Burzum, onde ele tocava todos os instrumentos, também é responsável por álbuns importantes do estilo, como ‘Hvis lyset tar oss’, de 1994 e ‘Filosofem’, de 1996. Todos gravados antes da prisão de Vikernes.

Segundo a Revista Noize, Euronymous sempre manteve um semblante soturno. “Era do tipo satânico e obcecado pela morte. Foi acusado de queimar inúmeras igrejas e comer pedaços do cérebro de um amigo”. Seu nome artístico é derivado de ‘Euronymo’, um demônio da mitologia grega. A Noize fala ainda sobre a postura de Euronymous diante do suicídio de Dead, ex-vocalista do Mayhem. “Quando o vocalista Dead, amigo e parceiro de banda tirou a própria vida com um tiro de espingarda na cabeça, Euronymous pegou sua câmera e fez vários cliques do defunto. Uma das fotos chegou a virar capa do álbum Dawn of the Black Hearts, de 1995”. Euronymous é hoje uma das personalidades artísticas mais lembradas de seu país.