Candangos, termo que se refere aos homens e mulheres que toparam a missão de levantar uma cidade no meio do cerradão. Mas por se tratar da alcunha que designava os operários que construíram a cidade, não se sabe ao certo desagrada alguns filhos da capital.
A palavra “candango” é originalmente uma expressão iorubá, de cunho pejorativo. Assim os negros escravizados denominavam os dominadores portugueses. Mas o ciclo da história resignifica muitas coisas e o sentido da palavra mudou. De acordo com o estudo de James Holston, tornando-se sinônimo de pioneiro, desbravador, brasileiro comum e operário de Brasília.
Sangue no planalto
O operário e sindicalista Geraldo Campos, que trabalhava na estatal responsável por fiscalizar para as empreiteiras, na época, relatou em entrevista para a rádio CBN “serviam comida estragada, as pessoas não tinham um tratamento digno, como ser humano, era aquela montoeira de gente em alojamentos de tábua”.
Fevereiro de 1959, haviam cortado a água dos canteiros de obras espalhados no domingo de Carnaval, para impedir que os operários saíssem para se divertir. De acordo com Geraldo Campos o episódio mais forte e simbólico de violência e desrespeito com os operários foi este: “No pôr-do-sol daquele dia, uma caminhonete cheia de soldados chegou ao acampamento que estava construindo o Palácio do Planalto e, pelo que eles os trabalhadores lhe contaram, “houve muita violência, pancada, tiroteio”.
Debaixo do planalto uma mancha de sangue está coberta pela grandiosidade do concreto. Mortos e feridos graves teriam sido colocados em um basculante (parte móvel de veículos de carga) e enterrados em algum lugar de Brasília. Mas a história oficial da cidade não diz quantos morreram naquele massacre.
A cabeça por trás das formas
Oscar Niemeyer, foi um dos arquitetos dessa empreitada, em entrevista a BBC brasileira, falou sobre o início da construção da capital: “Quando resolveu fazer Brasília, Juscelino foi me procurar na minha casa nas Canoas. Ele me contou que iria construir a nova capital, que seria uma cidade fantástica, que tinha que fazer tudo em três anos, e a coisa começou. A primeira vez que ele foi a Brasília, eu fui junto, de avião, com os ministros dele. E eu fiquei espantado, achei longe demais, o fim do mundo. E realmente quando começaram os trabalhos e tive que ir para Brasília, era uma solidão terrível. A gente não tinha comodidade nenhuma para viver, ficava nuns barracões de zinco. Mas havia entusiasmo, vontade de fazer a coisa. E Juscelino se empenhava, estava presente”.
Niemeyer também ressaltou as mudanças estruturais em outras cidades acarretadas pela implantação da cidade administrativa no meio do Centro Oeste: “O sonho de Juscelino que Brasília levasse o progresso ao interior se realizou. Outro dia fui a Goiânia e vi. Essa cidade durante a construção de Brasília era um arrabalde, uma cidadezinha qualquer, hoje é uma cidade grande, com progresso, prédios grandes, parques, cinema, tudo”.