Já se foram vinte anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, mas a mancha de sangue não se apaga dos corações e mentes de quem luta pela terra. Foram 19 assassinatos cometidos por conta da desigualdade e da defesa a qualquer custo de um patrimônio arbitrariamente conseguido.
Todos os anos esse dia é lembrado pelos movimentos de democratização da terra. O MST anualmente faz um ato em revolta a ação violenta que culminou nos assassinatos e em homenagem aos mortos.
O confronto ocorreu quando 1.500 sem-terra que estavam acampados na região decidiram fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras, principalmente as da Fazenda Macaxeira. A Polícia Militar foi encarregada de tirá-los do local, porque estariam obstruindo a rodovia BR-155 que liga a capital do estado Belém ao sul do estado.
A Polícia Militar mostrou nesse triste episódio histórico que não mede esforços para defender os interesses da parcela da sociedade a quem ela serve, os donos da terra, do poder e do dinheiro.
A ordem recebida do secretário de segurança da época, Paulo Sette Câmara, no governo de Almir Gabriel, era interromper a marcha a qualquer custo, mesmo que o uso de munição letal fosse necessário. E assim fizeram os policiais, obedeceram rigorosamente as ordens dadas. Como diria em um certo filme sobre a polícia brasileira “Missão dada é missão cumprida”.
Os policiais militares que participaram da operação, 155 homens, foram indiciados sob acusação de homicídio pelo Inquérito Policial Militar (IPM).Porém com a nossa lei penal, não há como punir um grupo, pois a conduta precisa ser individualizada. Como não houve perícia nas armas e projéteis para saber quais policiais atingiram determinadas vítimas, os homicídios e as diversas lesões, permanecem impunes.
Só apenas o acontecimento desse fatídico episódio o governo federal na época nas mãos de Fernando Henrique Cardoso, decidiu criar o Ministério da Reforma Agrária. As consequências foram muito brandas aos ligados direta e indiretamente, o ministro da agricultura deixou seu cargo e o comandante da operação Mario Pantoja ficou em prisão militar por 30 dias e perdeu o comando do seu batalhão.
O mandante do crime, sim esse crime teve mandante, foram os fazendeiros da região encabeçados pelo dono da terra “Macaxeira”, ocupada pelo movimento sem terra na época. Um dos fazendeiros em depoimento admitiu que ele mesmo contribui na “vaquinha” organizada para oferecer propina a polícia militar. Quando o dono da terra manda matar e o aparato policial acata sem pestanejar vem a superfície a enraizada relação do poder e da violência, com a conivência irrestrita do Estado.
Mesmo com tudo isso a tona os poderosos donos de terra paraenses não tremeram a mão por nenhum minuto, mesmo com a repercussão extrema do caso. O Monumento Eldorado Memória, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para lembrar as vítimas do massacre dos sem-terra, inaugurado no dia 7 de Setembro de 1996, em Marabá, foi destruído dias depois. Um dos líderes dos sem-terra do Sul do Pará afirmou que a destruição foi encomendada pelos fazendeiros da região. O arquiteto disse que já esperava por isto. "Aconteceu o mesmo quando levantamos o monumento em homenagem aos operários mortos pelo Exército na ocupação da CSN, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro", comentou Niemeyer na época.