Eis um assunto que sempre, sempre mesmo, gera polêmica, assusta quem não conhece, deixa um frio na espinha. Pois bem, o DMRevista resolveu tentar dar uma explicadinha sobre o que é o Satanismo, para vermos se conseguimos contribuir de certa forma para diminuir as confusões que propagam acerca do tema. Ou talvez deixemos ainda mais dúvidas, mas vamos lá.
O artigo Satanomicon, de autoria de Lord Ahriman, explica, em primeiro plano, as duas vertentes existentes do Satanismo. A primeira delas é o Satanismo Ateu ,que dispensa uma figura, ou símbolo, segue apenas os ideais e princípios satanistas, sem culto à personificação de algo. Estes ideais são liberdade, independência, antinomia, inconformismo e rebeldia, por exemplo, e pode ser representado como a energia negra da natureza. A maior corrente desta vertente do Satanismo provém da Igreja de Satan, nos Estados Unidos. Dentro do proposto, compreende-se a existência de um deus dentro de si próprio, ao passo que questionamentos e comportamentos autônomos requerem responsabilidade. Todos nós podemos ser nosso próprio deus.
Existe ainda o Satanismo Teístico. Seus seguidores acreditam realmente na existência de Satan, ou entidade equivalente, sendo este o maior foco de culto. O maior representante desta escola é a Igreja de Set, opositora à Igreja de Satan. Mesmo havendo certa desavença, desencontro de ideais entre estas correntes, os princípios são bastante semelhantes, e o estudo de ambas quase nunca é feito em separado.
Segundo Andreia Cardoso, moderadora do Grupo de Estudos Satanismo Brasileiro, a maioria das correntes satanistas no Brasil segue bases filosóficas de instituições oriundas de outros países, tanto em relação ao Satanismo Moderno quanto o Satanismo Tradicional. “Existe uma grande variedade de satanismo, mas que no contexto geral podemos classificá-lo entre Moderno – que hoje em dia é o mais seguido e mais conhecido–, e também o Tradicional, que tem uma gama enorme de vertentes que vai desde gnóstico, agnóstico, Satanismo Racional, Satanismo Caos Gnóstico”, diz Andréia Castro.
No Brasil, apesar de legalmente ser um Estado Laico, culturalmente é um País católico. Há sempre uma cultura de demonização do desconhecido. Assim como sempre foi propagado acerca das religiões de matriz africana, como a Umbanda e Candomblé, julgados como cultuadores de demônios, e acusados de realizarem trabalhos de magia negra, a “razão” para a desgraça da vida de muitos, o Satanismo também é mitificado neste sentido. “Satanomicon foi escrito por um dos satanistas mais experimentados da atualidade, e que também é brasileiro. Seus ensinamentos vão em busca de demonstrar que tudo o que foi pregado até hoje, não só sobre o satanismo, mas com relação a todas as religiões que não fazem parte do núcleo dominante (cristão), terminaram por ser demonizadas através de uma falsa ideologia para sectarizar a grande maioria, para não enxergarem, ou para que tenham medo de conhecer outros modelos religiosos como alternativa”, explica Andréia.
O black metal e o Satanismo
O black metal é sempre apontado como um estilo musical inerente ao satanismo, mas apesar de muitas letras de músicas do estilo evocarem o nome de Satan, ou pregarem seus ideais filosóficos, nem todos os que se dizem satanistas, podem assim ser considerados. O black metal não está para o Satanismo assim como a música Gospel está para as religiões cristãs. É simples: segundo o artigo Satanomicon, se um adolescente “rebelde”, vestido de preto, portando um pingente de pentagrama invertido assim se comporta por pura vaidade, com o objetivo de chamar a atenção dos pertencentes ao seu círculo social, este não deve ser considerado satanista. Bem como uma banda de black metal, que inclui a filosofia satanista em suas composições com mero objetivo comercial, também não deve ser considerada satanista.
No site Satanismo Real, de Agnes Farias e Délcia Farias, no artigo “Black Metal não é Satanismo”, os autores apontam que alguns fãs do black metal se propagam satanistas, mas sem o profundo conhecimento da doutrina. “A questão é o conhecimento da doutrina, o conhecimento e a prática da verdadeira filosofia satânica. Você não precisa ser uma aberração para ser satanista, não precisa agredir as pessoas, não precisa profanar símbolos religiosos publicamente, não precisa ter nenhum tipo de conduta escandalosa. Cultuamos Satã em nosso coração, em nossa alma, estamos com ele e ele está conosco e isso nos basta. Black Metal é um estilo musical e não uma forma de Satanismo Real.
Satanismo e homossexualidade
No site Satanismo Real existe uma sessão especial destinada a explicitar o ponto de vista dos adeptos do segmento religioso diante da homossexualidade, assunto que, além de ser um tabu social, é tratado com desprezo e condenação por parte da maioria das religiões do planeta, como o judaísmo, islamismo e cristianismo – três maiores religiões monoteístas do mundo. “Não nos cabe julgar ninguém e muito menos opinar em suas opções sexuais. O simples fato de uma pessoa sentir prazer em se relacionar sexualmente com alguém do mesmo sexo não é motivo para que a vejamos diferente e muito menos que deixemos de reconhecer as suas qualidades individuais”, expõe o site.
A repressão de vontades sexuais é vista como um problema que pode impedir os indivíduos de viver com plenitude, além de impactar profundamente em sua condição social e emocional. “Essa opção também está inclusa no livre arbítrio, no direito de fazer aquilo que lhe faz sentir melhor”, afirma o autor da sessão do site. “Reprimir esse sentimento, esse desejo, isso sim deixará a pessoa infeliz e frustrada, travando uma luta interna contra uma coisa que muitas vezes é mais forte do que ela.” A postura do satanismo diante da homossexualidade mostra-se bastante humana. “Muitas pessoas se preocupam em julgar e condenar homossexuais e fazem coisas muito piores com as suas vidas.”
Baphomet, o Logos
Segundo o artigo de Lord Ahriman, este foi um signo criado pelos Templários, representando o absoluto, “o próprio Tao”, sendo seus dois cornos a representatividade do dualismo, a polaridade. “Entrar em sinestesia com Baphomet significa dar plena expressão ao Self, adquirir o estado de consciência cósmica, tornar-se o seu próprio deus, que o símbolo de Baphomet representa. Baphomet desvela a verdadeira face da divindade. Baphomet é o logos, um ser preternatural e transpessoal. Baphomet, como o logos, é o verbo, que traduz movimento e repouso simultaneamente, possuindo uma forma temporal e outra atemporal. É o alfa e o ômega; está no princípio e no fim. Cabalisticamente, Baphomet seria o Ain Soph Aur, o princípio de todas as emanações. No Tarot relaciona-se com a carta 15 (O Diabo). Eliphas Levi o descreve como um andrógino, com face e cascos de bode. Alquimicamente, ele é a chave do Inri (Igne Natura Renovatur Integra)”, diz um dos trechos de Satan..