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Mc Carol quebrando a banca

Morro do Preventório, Niterói, Brasil. No começo dessa semana essa favela foi palco de uma grande manifestação por ocasião de mais um jovem de periferia ser baleado pela polícia. Um rapaz de 25 anos, ferido em uma operação policial. O Preventório deu o grito que não aguenta mais o massacre da periferia. Uma das habitantes ilustres deste morro está espalhando esse grito pelo País. “Na televisão a verdade não importa. É negro favelado, então tava de pistola” canta MC Carol.

Em um momento que a cena rock se apresenta cada vez mais reacionária, os sons de periferia como o rap e o funk ganham importância como música de teor político. Carol é funkeira e sua música “Delação Premiada” é um bom exemplo deste cenário, um som pesado que denuncia o sistemático massacre da juventude de periferia e os privilégios dos criminosos de alta classe.

Em tempos plásticos, porém em transição, Mc Carol chega com uma aparência completamente fora de padrão. Mulher, negra, com uma silhueta muito diferente das funkeiras as quais o público está acostumado, que lançam mão de seus corpos e sensualidade nas vias do sucesso. O humor e politização de Carol renovam a cena do funk nacional.

O funk denuncia

“Cadê o Amarildo? Ninguém vai esquecer. Vocês não solucionaram a morte do DG. Afastamento da polícia é o único resultado. Não existe justiça se o assassino tá fardado”. A violência policial figurada no caso Amarildo é apontada pela funkeira de forma ácida.

Relembrando o caso Amarildo, trata-se da ação de policiais de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Doze agentes da PM foram responsáveis pelo desaparecimento e morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no dia 14 de julho de 2013. Amarildo foi torturado e executado por um grupo de policiais no exercício de suas funções.

O major Edson Raimundo dos Santos. que teve pena decretada de 13 anos e sete meses, foi o cabeça dessa execução. Para a Justiça, o major Edson Raimundo dos Santos, comandante da UPP Rocinha desde a sua inauguração, “foi o mentor intelectual da tortura” contra Amarildo. Teria partido dele a ordem para que a vítima fosse capturada e levada à base da UPP.

O site DCM escreveu a seguinte colocação sobre Mc Carol: “Nem Chico, nem muito menos Caetano, nenhuma banda de rock, Seu Jorge de jeito nenhum. Quem faz a trilha sonora do momento político do Brasil é MC Carol”.

Do humor À política

Mas nem só de letras politizadas é feita a estrela do funk Mc Carol, mas de músicas engraçadas que conquistaram o apreço do público. Por exemplo o hit Jorginho me empresta a 12. “Me trancou em casa. Me deixou sem dinheiro. Jorginho me empresta a 12, vou matar esse maconheiro”.

Mc Carol correu risco de sofrer uma grande rejeição do público ao fazer as pessoas pensarem além dos habituais funks que exploram a sexualização da mulher e a ostentação. “Tive muito medo de fazer letras em que denuncio o que um favelado sofre, de cantar algo que nem combina com festa”, disse a Mc em entrevista ao jornal Extra. O primeiro funk a conquistar em um viés mais politizado os formadores de opinião foi “Não foi Cabral”, que levanta a questão sobre a história do Brasil contada nas escolas.

O feminismo também entrou em pauta nas letras da Mc de Niterói, a música “100% feminista”, com participação da rapper Karol Conka, fala sobre violência e silenciamento da mulher. “Presenciei tudo isso dentro da minha família. Mulher com olho roxo, espancada todo dia. Eu tinha uns cinco anos, mas já entendia. Que mulher apanha se não fizer comida. Mulher oprimida, sem voz, obediente. Quando eu crescer, eu vou ser diferente”, fala a letra da música que é um dos novos hinos da luta de gênero.

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