Aos poucos, a produção musical do compositor goiano Estércio Marquez Cunha se populariza nos concertos e recitais mais concorridos do país e do mundo. Professor de música da Universidade Federal de Goiás (UFG), Estércio é hoje um dos compositores de música erudita mais prolíficos da sua geração.
Estércio tem partituras que cobrem diversos gêneros e formações instrumentais. Peças para instrumento solo, orquestra, câmara e coro estão dentre suas especialidades. Violão, piano, trombone e vários outros instrumentos ganharam destaque nos pentagramas assinados pelo músico.
A dedicada construção de seu perfil musical ocorreu a partir de determinação de toda uma comunidade – principalmente a acadêmica, mas os intérpretes também ajudam a consolidá-lo.
Nas últimas três décadas suas obras passaram a figurar nas pastas de xerox, a serem debatidas nos corredores das escolas de música e a ser considerada nas orquestras como opção da música contemporânea.
O músico Jackes Douglas Nunes Angelo tem se dedicado a compreender, por exemplo, as três obras para trombone assinadas pelo compositor. É antes de tudo uma imersão na música da contemporaneidade. Afinal, Estércio consegue manipular a sonoridade mais refinada dos novos tempos, inclusive não se furtando de intervalos consonantes do passado. A própria “Música para trombone e percussão” já anuncia essa relação de silêncios (o ocaso da percussão) com a força da voz do trombone.
Apesar de não lecionar mais na UFG devido sua aposentadoria, Estércio é lembrado sempre como o compositor que cria canais de diálogo com os intérpretes. Ou seja, ele faz questão de dialogar com as pessoas que pretendem - pela primeira vez - interpretar suas composições. Vem daí sua inventividade criativa: ele pensa com e como os instrumentistas, dando a cada um liberdade de propor soluções estéticas, digitações, padrões rítmicos e mesmo sequências. Tornou-se, resumo da ópera, um compositor influente e tema de diversos estudos acadêmicos, artigos científicos, mestrados e doutorados.
No campo do trombone, um dos instrumentos que ele dedicou composições, é possível observar como insere a percussão, seja através de wood blok, bongos, finger cymbals, prato, caixa clara, gongo e mesmo a marimba.
Para Jackes Douglas, que investigou de forma detida os gestos que se originam da música de Estércio, o músico deve ter em mente a interpretação (musical e gestual), já que é um mediador da arte do compositor.
Para o instrumentista, a partir do gesto, inserido na performance musical, é possível “otimizar a comunicação interpretativa entre intérprete e público”.
A preocupação de Jackes é exclusiva com a arte de Estércio, mas traz ao mundo da música uma preocupação que é clássica: a performance no palco. De Mozart a Paganini, de Lennon a Foo Fighters, o desempenho visual do músico ajudou a transmitir emoção aos espectadores – daí o tratamento do gesto ser tão interessante, semiótico e intelectual.
Ao lado do movimento corporal, o gesto influencia a expressividade do intérprete, interfere no ato da performance e cria expectativas futuras nos ouvintes que ‘enxergam’ a música.
O estudo tem grande importância acadêmica e serve para conhecer melhor o caráter introspectivo e sensível da arte de um dos principais compositores eruditos da atualidade.
Quem é Estércio Marquez Cunha
Professor de composição na Universidade Federal de Goiás (UFG) durante as décadas de 1980 e 1990, Estércio Marquez Cunha foi aluno do Conservatório Brasileiro de Música. No período anterior, aprendeu piano com Dalva Maria Pires Machado Bragança, no Conservatório Goiano de Música.
É reconhecido como compositor de fôlego para música de câmara – caso dos quartetos de cordas e trios. Com o tempo acumulou um vasto repertório para piano.
Estércio Marquez Cunha teve uma longa passagem pelo Rio de Janeiro durante as décadas de 1950 e 1960, quando lecionou música nas escolas de primeiro e segundo grau. Ao retornar para Goiás, assumiu uma cadeira na UFG, onde lecionou harmonia, contraponto e fuga.
Trata-se de um dos maiores compositores de música seria da atualidade no país. Uma de suas composições para violão, “Suíternaglia”, interpretada inicialmente pelo grupo Quartenaglia, tem grande repercussão dentre violinistas do Brasil e Europa.