O Conselho Federal de Psicologia divulgou nesta segunda-feira (05/02) uma nota em seu site criticando a forma com que a novela da Globo "O Outro Lado do Paraíso" tem abordado sobre a questão do abuso sexual e saúde mental da personagem Laura vivido pela atriz Bella Pietro. Na trama, a jovem foi abusada sexualmente pelo o seu padrasto quando ainda era criança. Ela nunca denunciou o crime, no entanto, agora casada, a personagem não se sente confortável e passa a ter problemas sexuais com o marido.
No texto, a Instituição afirma que a novela "presta um desserviço à população" e que aborda o trauma da jovem com “simplismo” e “interesses mercadológicos”. Na novela, Laura é instruída por Clara a procurar Adriana que é coach. A advogada usando as técnicas de coaching e hipnose consegue acessar as memórias reprimidas.
Ainda de acordo com o texto, o Conselho aponta que as pessoas com sofrimentos mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia.
Confira a nota na íntegra:
Mesmo compreendendo o caráter de uma obra de ficção, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) entende que a telenovela “O outro lado do paraíso”, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância.
Quanto ao argumento de que se trata ‘’apenas’’ de ficção, lembramos que são as novelas da Rede Globo que, como estratégia de elevar a audiência, frequentemente buscam embaralhar as barreiras do ficcional e do real, entre outras formas, introduzindo nas tramas fatos e temas candentes da sociedade.
É consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que tem a habilitação adequada. Isso é amplamente reconhecido por diversas políticas públicas, entre elas o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que empregam essas profissionais em larga escala. Mesmo na saúde suplementar, o exercício do cuidado psicológico é reconhecido e regulamentado. Há normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que obrigam os planos de saúde a oferecerem atendimento por profissionais da Psicologia.
Somos uma profissão regulamentada pela Lei 4.119, de 27 de agosto de 1962, os cursos de Psicologia são aprovados e fiscalizados pelo Ministério da Educação e o Ministério da Saúde reconhece a Psicologia como uma profissão da saúde. As mais prestigiadas universidades públicas e privadas oferecem formação em Psicologia e nossa ciência e profissão passam rotineiramente pelo escrutínio das pesquisas acadêmicas. Tudo isso confere segurança à sociedade de que se trata de uma ciência e profissão respaldadas ética e tecnicamente.
Saudamos como positiva a manifestação de diversos grupos e escolas de coaching, que, manifestando-se sobre o ocorrido, afirmaram compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental.
(Foto: divulgação)