Marcus Vinícius Beck
Foi Norman Mailer o cara que documentou os movimentos pacifistas nos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. E por isso ele está com o nome gravado na história da literatura norte-americana. Expoente do chamado Novo Jornalismo (movimento que trouxe ao texto jornalístico elementos da literatura realista), o jornalista literário é um dos maiores nomes da contracultura norte-americana e publicou livros com críticas ácidas à política adotada pelo Tio Sam à época.
Nascido em 1923, em Nova Jersey, mas criado no Brooklyn, o escritor é considerado um dos autores mais polêmicos e importantes que surgiram no contexto pós-guerra, quando movimentos com pegada contraculturais, como a Geração Beat, passaram a despontar no meio artístico cultural americano. Sua estreia na literatura ocorreu em 1948 com o romance “Os Nus e os Mortos”, mas foi com a não-ficção que ele ganhou notoriedade.
Ao lançar “Os Exércitos da Noite”, livro que lhe deu o prêmio Pulitzer em 1968, Mailer revolucionou a linguagem jornalística com um texto cheio de recursos estéticos. Na sequência, ele lançou “Por Que Estamos no Vietnã” e rompeu a barreira entre os dois registros, como em “Marilyn: uma biografia”, cuja obra foi agraciada com mais um Pulitzer, em 1979. O ápice dessa transformação, contudo, aconteceu quando ele publicou o livro-reportagem “A Luta”, escrito em 1975.
Nele, Mailer narra a disputa pelo título mundial dos pesos-pesados entre Muhammad Ali e o então campeão George Foreman. Durante todo o livro, o jornalista deixa claro ao leitor sua preferência a Ali, que, naquela época, já havia desafiado o status quo ao tecer publicamente críticas aos Estados Unidos e ao seu adversário. A luta aconteceu em Kinshasa, então Zaire e hoje República Democrática do Congo. Ali nocauteou Foreman e recuperou o cinturão.
Agora, “A Luta” ganha nova edição pelo selo gaúcho L&PM, reconhecido no mercado editorial brasileiro por relançar clássicos em formato de bolso com preço acessível. O livro-reportagem deve chegar às lojas físicas e virtuais em breve. Com tradução de Rodrigo Breunig, a obra ganha segunda reedição – a primeira foi a versão pocket da Companhia das Letras, que fazia parte da coleção Jornalismo Literário.
A Luta
Norman Mailer não descreve apenas uma disputa pelo título mundial dos pesos-pesados. É além disso. O que o jornalista mostra é a maior luta de boxe de todos os tempos. Não foi simplesmente o confronto entre duas lendas do esporte, George Foreman, então campeão do mundo, e Muhammad Ali, o desafiante, que perdera o cinturão nos tribunais após ter se recusado a lutar na Guerra do Vietnã, conflito armado que, na ocasião, completava 20 anos.
Atuante nos movimentos antibelicistas, Ali representava a população norte-americana negra, enquanto Foreman era o protótipo da América branca, arrogante e armamentista – seu calção, inclusive, trazia as cores da bandeira dos Estados Unidos. A luta entrou para a história como um épico, contada com brilhantismo pelo jornalista literário Norman Mailer, um dos principais expoentes do Novo Jornalismo, ao lado de Truman Capote, Tom Wolfe e Gay Talese.
Com estilo único, Mailer desafiou as regras do jornalismo e, por isso, foi chegou a ser criticado. Dizem que o livro não possui dados biográficos consistentes e que ele teria romantizado demais o confronto. Mas tal afirmação soa um pouco arrogante, já que essas informações estavam nos jornais da época e o interessante – do ponto de visto do livro-reportagem – era abordar aquilo passou despercebido pelos jornalistas degolados pelo deadline.
Assim, o que importa para quem ler a “A Luta” são as descrições do jornalista literário, e não meros detalhes que não acrescentam em nada. Ainda hoje Mailer dá uma aula de reportagem.
Ficha Técnica
A Luta
Autor: Norman Mailer
Gênero: Livro-reportagem
Preço: R$ 28,90