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“Você acha que vai ser famosa?”, indaga o jornalista Garry Mulholland à cantora Amy Winehouse, em entrevista que faz parte do documentário “Amy”, lançado em 2018 e dirigido por Asif Kapadia. “Acho que não. Minha música está escalada, às vezes, eu gostaria que estivesse, mas eu não ser nem um pouco famosa. Eu acho que não aguentaria. Provavelmente, eu enlouqueceria”, responde a artista, antes de ganhar os holofotes pela musicalidade e estilo de vida nada convencional.
Nascida no subúrbio de Londres em 14 de setembro de 1983, Winehouse teve contato pela primeira vez com soul e jazz na infância. Daí para o posto de melhor artista britânica deste século foi um pulo, mas sua história tem vários percalços. Logo no primeiro disco, “Frank”, de 2003, a cantora já mostrava sua capacidade lírica e harmônica, e deixava os críticos impressionados com tamanho talento que remetia à escola das americanas Ella Fitzgerald, Dinah Washington e Etta James.
O sucesso veio mesmo com o disco “Black to Black”. Lançado em 2006, o álbum é o melhor retrato da sonoridade de Winehouse, porém ele foi marcado por um episódio triste: a separação dela do seu namorado à época, Blake Fielder-Civil. Esse relacionamento, cheio de problemas e tretas, alimentou a depressão que acometeu a cantora durante boa parte da vida, e se tornou o combustível de músicas como “Rehab”, “You Know I'm No Good", “Love Is a Losing Game”, entre outras.
“Black to Black (de volta ao luto, em tradução livre) significa o momento em que você termina um relacionamento”, explicou Winehouse ao tablóide The Sun, em 2006, de acordo com a biografia “Amy, Amy, Amy”, escrita pelo jornalista Nick Johnstone. “Quando você volta a fazer o que é confortável para você. Meu ex-namorado reatou com a outra namorada e eu voltei a beber e passar mal”, confessou a artista, ao jornal inglês.
Um ano depois, “Black to Black” fez de Winehouse a cantora britânica mais premiada numa única edição do Grammy (maior premiação da música) e passou a ser o disco mais vendido no século XXI. Nesta época, as plataformas de streaming estavam apenas engatinhando e as cópias se esgotaram na forma clássica de consumir música: era preciso adquirir determinado produto cultural – no caso, “Black to Black” – nas lojas que comercializam discos.
Morta aos 27 anos, no dia 23 de julho de 2011, em Londres, na Inglaterra, a cantora Amy Winehouse ainda conseguiu gravar uma versão jazzística do hino da bossa nova, “Garota de Ipanema”, canção composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes. A música, que tem o charme, a rouquidão e a potência da voz de Winehouse, remete o ouvinte à década de 40, 50, quando o jazz estava a pleno vapor por bares por Estados Unidos. Por essas e por outras, Winehouse é foda.
Tanto que, a partir dela, o público passou a admirar o trabalho das divas brancas do soul, como Adele – que até hoje ela não demonstrou uma postura . Se o gênero nos Estados Unidos parece exclusividade dos artistas negros, na Inglaterra ele sempre foi abertos a todos, mas desde a década de 70 não havia no país uma cena tão forte. Winehouse pavimentou uma geração de cantoras que curtem Dusty Springfield, Aretha Franklin e querem fazer um som como essas divas.
Dependência
Vinte e sete anos! Uma idade estranhamente misteriosa para a música pop desde a década de 1930. Como explicar o porquê tantos nomes saíram de cena com este tempo de vida? Difícil. Para começar, a lista é enorme: Robert Johnson, Brian Jones (guitarrista dos Rolling Stones), Jim Morrison (mítica vocalista da banda The Doors), Janis Joplin, Jimi Hendrix e Kurt Cobain. Todos eles tiveram problemas por conta do consumo exagerado de álcool e drogas.
Embora tenha feito gigantesco sucesso de crítica e público, em função da voz potente cheia de influência das cantoras de soul e jazz dos anos 50, Amy também ganhou as páginas dos jornais por conta de sua dependência química. Ao longo da carreira, ela teve de conviver com manchetes que alimentaram por anos os jornais sensacionalistas ingleses: “Justiça convoca Amy para depor” ou “Amy passa tarde em delegacia”.
Seis meses antes de morrer, Winehouse cantou no Brasil, mas sua apresentação não ganhou elogios. As críticas abordavam o comportamento da artista, que àquela altura já dava sinais de problemas maiores. Sua primeira apresentação rolou em Florianópolis (SC), no dia 8 de janeiro de 2011. Quando se apresentou no Rio de Janeiro e São Paulo, o estereótipo da cantora doidona foi reforçado pelos jornalistas que cobriram a série de concertos dela no País.
No texto “Amy Winehouse põe público para dormir em São Paulo”, publicado em 17 de janeiro de 2011, o crítico do jornal Folha de São Paulo, André Barcinski, não teve papas ao analisar o show. “Amy foi um show de horror: além de desafinar, esqueceu letras, atropelou a métrica e errou o tempo de várias canções, tudo isso enquanto ostentava uma tromba daquelas. Parecia que ela estava fazendo um favor à plateia”, escreveu o crítico.
O essencial para conhecer Amy Winehouse
Frank (2003) - Lançado pela gravadora Island Record, “Frank” é o primeiro disco da cantora Amy Winehouse. Nele, ela apresenta ao público uma sonoridade cheia de elementos próprios da soul e do jazz americano dos anos 50. Disco foi indicado ao prêmio Mercury Music Prize e o título é uma homenagem ao cantor Frank Sinatra. (Frank: https://www.youtube.com/results?search_query=frank+amy+winehouse+)
Black to Black (2006) - Após terminar com o namorado, a cantora entrou num momento de profunda depressão. E o resultado foi um clássico. Músicas “Rehab”, “You Know I'm No Good", “Love Is a Losing Game” estão neste trabalho. Ouvi-lo é se deliciar com a obra impactante e potente de Winehouse. (Rehad: https://www.youtube.com/watch?v=KUmZp8pR1uc)