Documentário mostra os devaneios da jovem democracia brasileira em direção à sua própria perdição
Gabriel Araújo
Depois de algumas semanas de atraso por questões de saúde e a própria dificuldade em escrever sobre a atual situação nacional, ou seja, escrever sobre as mais estúpidas situações em que o atual Governo vem deixando o país, eu decidir trazer um filme que já é considerado um dos melhores do ano, um filme que explora a densa e complexa realidade de um país que já deixou a beira do colapso e mergulhou de vez no caos que é sua economia, sua política e suas pessoas.
Hoje temos claramente um Brasil dividido em dois pontos completamente opostos, a Esquerda e a Direita, e esses dois lados lutam um com outro usando o Brasil como campo de batalha o que, muitas vezes, acaba destruindo algo que teve resultados bons para a população somente por não fazer parte de um viés ideológico oposto a quem esta no poder.
Esse é o tema do documentário Democracia em Vertigem, da cineasta Petra Costa, e é justamente na briga, vitória e derrota que a maior parte do filme se debruça. Com um ar de memoir e com opiniões expressas de forma clara, Petra mostra como os Governos do Partido dos Trabalhadores (PT) influenciaram a construção de uma nova realidade no Brasil e, além disso, como a forma de governar de Lula e Dilma, levou o próprio Governo ao colapso.
Com imagens dos anos de 1980, 1990 e 2000, o filme mostra a visão de uma garota quase tão nova quanto a nossa democracia, que teve seus pais torturados pela Ditadura Militar - sim, Ditadura, não me venha com "Regime Militar" - e sonhou com um país melhor. A visão inicialmente inocente e que se desenvolve para um olhar mais apurado e mais focado na realidade. Com a visão da menina de apenas 19 anos começa o governo Lula, onde as pessoas acreditavam que seria algo extraordinário, afinal, ele era um representante da classe trabalhadora, um nordestino e um cara que tinha lutado contra as grandes famílias do nosso país.
Petra explora justamente isso, o surgimento de Lula lá nos anos de 1980 liderando greves gerais, suas diversas candidaturas e derrotas até a sua mudança de discurso e eventual vitória no início deste século.
Uma história de derrotas
Apesar de se colocar como “Esquerda”, Lula foi um dos presidentes mais rentáveis para as grandes famílias brasileiras – não estou falando de classe média ou os que se acham ricos, estou falando das famílias que são verdadeiras oligarquias nacionais, as pessoas que nem eu nem você sabemos que existem, mas são eles que realmente tomas as decisões sobre os rumos do país. Bancos faturaram bilhões, investidores receberam benefícios e incentivos para entrar no país, os níveis de exportação aumentaram, foi descoberto o Pré-sal, grandes obras foram realizadas e o Brasil passou a figurar entre as principais economias do planeta.
O Lula que entrou na política nos anos de 1980 não era o Lula presidente, e esse é o principal motivo por ele ter conseguido se manter no poder, ele sabia que não conseguiria governar sozinho. Petra explora esse aspecto de Lula com uma certa dor em suas imagens, ele parecia que seria algo diferente, mas somente se perdeu em meio ao sistema. Com ele o Brasil cresceu, a economia estava boa e as grandes famílias estavam satisfeitas e esse não foi o caso de Dilma.
Com uma montagem entre tempos de memórias e a realidade atual, Petra conseguiu criar uma noção mais profunda de passagem do tempo e isso é algo muito importante para o filme, principalmente para as gerações mais novas. É a partir da visão dela que vemos como as coisas mudaram, como o Brasil passou de adorar um partido para culpá-lo por tudo de ruim que vem acontecendo.
Existe uma discussão no meio audiovisual quanto a profundidade que a opinião pode moldar documentário, se isso realmente pode acontecer ou não e, até, se isso realmente acontece, e aqui temos um exemplo de um documentário que registra os fatos e os interpreta a partir de uma visão de mundo – poderia dizer aqui que houve golpe na derrubada de Dilma enquanto outros dirão que não – a verdade é que sem uma interpretação é impossível entender qualquer fato e, pela direção optar por mostrar exatamente qual é sua opinião, o filme ganha uma validação mais profunda e real.
“Democracia em Vertigem” é um filme duro e profundo que busca entender como um país pôde mudar tanto em um período de tempo tão curto. Mostra a realidade de um país dividido por opiniões e como essas opiniões são criadas por pequenos grupos e, acima de tudo, mostra como o Brasil é controlado por uma pequena minoria que poucos sabem que existe. A verdade por trás dos governos do PT é simples, se você escolhe ficar do lado das oligarquias nacionais ou, no mínimo não interferir com elas, você consegue governar um país, caso contrário você será expulso de forma ilegal e completamente destruído por elas.