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O amor é como aquele filme que fica melhor com o passar dos anos

Foto: Reprodução

Viver é como um “Blow-Up” na sala escura, meu caro Antonioni.

Com toda a licença deste mundo, digo ao querido leitor (a) que irei escrever sobre uma coisa estranha, estranhíssima, dessas que há muito tempo estão no cocuruto do cronista e fazem os dedos dele coçar. Como se fosse aquele filme que a gente vê e gosta todavia não dá bola e eis que ele vai ficando em nossa mente, saca?

Assim como aquele encontro, aquele beijo, aquela foda que não foi monumental naquela hora, mas que te deixou apaixonado e com uma única certeza na cabeça: ir atrás da moça, ou do moço, para continuar com aquela sensacional epopeia sexual.

Algum tempo depois, com uma baita fome de viver, aquele encontro, aquele beijo, aquele sexo vem crescendo, crescendo, crescendo, crescendo na nossa mente e deixam a gente com um puta tesão para amar.

Assim são alguns filmes, assim são alguns encontros, assim são alguns livros, assim são alguns discos, assim são alguns beijos, assim são alguns desejos, assim são alguns amores: como aquele clássico da nouvelle vague de Truffaut e Godard.

Preste atenção neste lirismo vagaba, amigo (a): da mesma forma que há filmes, peças, obras de arte que vão crescendo no imaginário da gente, assim deveria ser um encontro entre homem e mulher.

Sabe aquela cena do clássico “Eu Vos Abraço, Marie”, de Godard, que você nem entendeu direito, mas que entrou para o rol das suas referências cinematográficas?

Assim pode ser o amor rápido, o sexo sem compromisso, a vida maldita e ordinária, onde Fellini, Pasolini e Bertolucci se debruçaram para entender, e fizeram obra maravilhosas que nos alimentam a alma com poesia, com lirismo, com metáforas.

Amar é uma metáfora em construção no meio da frase; amar é uma elipse que dá vida às ideias do cineasta; amar é a nota tocada pela guitarra do músico durante um show. Amar faz nosso juízo, mexe com nossas entranhas; amar é o combustível que faz a vida valer.

Depois daquele beijo, com licença meu caro Xico Sá, o blow-up vira blow-job, o filme cabeça vira prenúncio para o amor e derrete o coração do homem da meia-noite, este miserável que fica com a cabeça martelando na boêmia sobre aquele filme, aquele beijo, aquele sexo, sobre aquela pessoa.

Coisa mais linda é quando uma simples foda, daquelas em que a gente está bêbado igual um gambá, cresce em nossa cabeça ao ponto de virar – até mesmo – a razão para viver. Rola isso e este jovem cronista de costumes sabe com propriedade.

A grande transa é aquela em que a gente não dá nada, mas ela vai crescendo, cheia de reviravoltas, tal como um Henry Miller, em “Trópico de Câncer”, ou Truffaut, em “O Garoto Selvagem” – sem dúvida um dos melhores da filmografia do francês, que, aliás, filmara o amor como poucos.

Amar é um filme que melhora a cada segundo após a gente deixar a sala escura. Alguns encontros, que à primeira vista não representam nada, viram homéricos casos, até rola casamento, pra gente ter uma ideia.

Vamos imitar Antonioni, lindona.

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