Ludimila Mendonça
“Sou mais macho que muito homem. Sou rainha do meu tanque. Sou Pagu, indignada no palanque”. Este é um trecho da música “Pagu”, da cantora Rita Lee, que é uma referência a uma das mulheres precursoras do feminismo brasileiro, Patrícia Galvão. Figura que tornou-se símbolo da força e luta pela liberdade da mulher trabalhadora.
Patrícia Galvão, ou Pagu, sempre foi dada a “extravagâncias” de acordo com o padrão de comportamento das mulheres de seu tempo. Militante comunista, foi a primeira presa política do Brasil. Quando foi libertada da prisão, o Partido Comunista Brasileiro, ao qual era filiada, fez com que ela assinasse um documento, e neste papel era obrigada a se declarar uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”.
Pagu era uma “agitadora” a nível internacional. Foi presa e quase mandada a morte em 1935. Em uma de suas viagens filiou-se ao Partido Comunista francês, onde foi para fazer cursos na Universidade Sorbonne, em Paris. Foi então presa como militante comunista estrangeira. Na iminência de ser deportada para a Alemanha nazista, o embaixador brasileiro Souza Dantas conseguiu mandá-la de volta ao Brasil.
Pagu e o feminismo classista
Pagu se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. A escritora defendia a revolução socialista e lutava pela melhoria das condições de vida do proletariado feminino. Ela usava sua coluna “A mulher do Povo”, publicada no jornal paulista de esquerda “O Homem do Povo”, para falar a favor da mulher operária e da sua liberdade de expressão.
Em seus textos jornalísticos já criticava o feminismo que só incluía as “mulheres cultas”, isso na década de 30. Em seus textos ela criticava a linha classista da luta da mulher. Em artigo escrito para o jornal “O Homem do Povo”, em sua sua coluna, ela diz: “Uma elitezinha de ‘João Pessoa’ que, sustentada pelo nome de vanguardistas e feministas, berra a favor da liberdade sexual, da maternidade consciente, do direito do voto para ‘mulheres cultas’, achando que a orientação do velho Maltus resolve todos os problemas do mundo”.
No texto que inclui esse trecho ela criticava pessoalmente Maria Lacerda de Moura, militante que agia no feminismo anarquista. As críticas dela eram por conta das campanhas lideradas por Maria Lacerda e seguida por outras anarquistas em prol da libertação sexual e maternidade consciente. Pagu considerava que havia questões mais emergenciais a serem tratadas, como a pobreza e a exploração de classe das mulheres.
No jornalismo, ainda trabalhou nos jornais cariocas "A Manhã", "O Jornal", e nos paulistanos "A Noite" e "Diário de São Paulo". Sob o pseudônimo de King Shelter, escreveu contos de suspense para a revista "Detetive", e foi dirigida pelo dramaturgo carioca Nelson Rodrigues.
Companheiros de vida e luta
Um dos casamentos de Pagu foi com Oswald de Andrade. Um filho abastado da burguesia brasileira do fim do século XIX. Ele acabou por se tornar um jornalista e escritor irreverente e combativo ao lado de sua companheira, Patrícia Galvão. Oswald escreveu dois manifestos, o da “Poesia Pau-Brasil” e o “Antropófago”. Além desses conceitos culturais, escreveu poemas e peças de teatro.
Na companhia de Oswald, Pagu construiu alguns frutos, como as publicações subversivas do jornal “O Homem do Povo”. Periódico criado pelo casal para expressar suas ideias revolucionárias, mas que teve apenas oito edições por conta de seu conteúdo. Geraram também os dois um filho, Rudá de Andrade.
Depois de suas prisões e todas as outras intempéries por que passou, Pagu desligou-se do Partido Comunista. Deixou Oswald, quando foi repatriada após sua prisão na França. Ela então casou-se com o jornalista Geraldo Ferraz, com quem teve seu segundo filho, deixou de lado um pouco a militância de esquerda e dedicou-se mais a sua atividade como jornalista, escrevendo críticas literárias e de teatro.