Antes de qualquer coisa é preciso reconhecer que a cineasta paulistana Eliza Capai, diretora do documentário “Espero a Tua (Re) Volta”, premiado no Festival de Cinema de Berlim no início deste ano, retrata honestamente as manifestações que chacoalharam o País entre 2013 e 2018, com destaque às ocupações de escolas públicas pelos secundaristas, em 2015.
O filme - que foi exibido no último sábado (21) no ponto de cultura A Casa Vidro, localizado na 1º Avenida, no Setor Leste Universitário - é um documento histórico importante em tempos estranhamente esquisitos. Após a projeção, houve debate com a presença do estudante Mateus Ferreira da Silva, da historiadora Juliana Marra e da Militante do Levante Popular da Juventude, Helen Clara.
No belo longa-metragem de Capai, os estudantes são retratados como pessoas que lutam para preservar o direito à educação. São fortes, idealistas, utópicos. Querem que a mudança aconteça com pressa, para ontem. Além disso, temem pela educação pública de qualidade. E desejam ter as mesmas chances dos filhos da burguesia. Cá entre nós, quem falou que isso não é bem-vindo, ainda mais do ponto de vista do cinema?
Nem precisa dizer que é algo que está em falta. Veja bem: tudo começa pela narração em off carregada de identitarismo, consciência coletiva e análise de conjuntura. Três estudantes conduzem a história: Marcela Jesus, Nayara Souza e Lucas “Konka” Penteado. Como possuem estilos e vivências diferentes, o longa-metragem tem um ponto em comum: a marginalidade social. É preciso dar voz àqueles que habitualmente não a tem e, assim, historicamente suas lutas são criminalizadas.
Também chama atenção uma das palavras de ordem bradadas pelos secundaristas paulistanos que ocuparam mais de 200 escolas públicas, em 2015, e a Assembleia Legislativa de São Paulo, no ano seguinte. “O governo pode esperar tudo de nós, menos silêncio!”, gritam. Silêncio não foi o que vimos naquela época. Foram dias de embriaguez intelectual, utopia política e tesão em buscar o novo.
Por isso, as imagens cedidas pelo fotógrafo e videomaker Caio Castor escancaram o sentido de tudo aquilo que os secundas faziam, rechaçando a narrativa equivocada de que ocupantes eram vândalos, marginais e outras coisas atrocidades do tipo que até hoje são contadas por aí. Capai, por essas e por outras, conseguiu levar o público a refletir sobre a violência semeada pela Polícia Militar em diversas ocasiões naquele período histórico.
Numa bela cena, quando as escolas da capital paulista já haviam sido desocupadas, a ansiedade de Marcela Jesus é mostrada a partir de imagens distorcidas. Ali, naquele momento, compreendemos o que de fato “Espero a Tua (Re) Volta” significa. Trata-se da dor imposta pelo braço armado do Estado sempre que a juventude vai às ruas para lutar por seus direitos e são reprimidos. “Espero a Tua (Re) Volta)” é um filme importante.
Ficha Técnica
Espero a Tua (Re) Volta’
Duração: 93 minutos
Gênero: Documentário