Não é novidade que políticas públicas para o campo da cultura passaram longe de ser prioridade de quem sentou na principal cadeira do Palácio do Planalto nos últimos 30 anos. E essa constatação não chega a ser necessariamente uma novidade: o País tem dificuldade em compreender e assimilar a importância das leis de incentivo às artes e à cultura para a consolidação da identidade nacional, bem como reconhecer e dialogar com a pluralidade que faz parte da sociedade brasileira.
Reconhecido como um dos principais programas de fomento à cultura do País, o Rumos Itaú Cultural, em edital relativo ao biênio 2019-2020, cuja abertura foi anunciada na manhã de ontem, na sede do instituto, em São Paulo, tem como uma de suas bandeiras defender as várias manifestações artísticas que dão singularidade à cultura brasileira.
Da meia-noite de hoje até as 23h59 do dia 28 de outubro, os interessados poderão inscrever projetos em qualquer linguagem, seja em pessoa física ou jurídica.
Em entrevista coletiva realizada na sede do instituto na Avenida Paulista, o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Salon, ratificou a importância desse tipo de iniciativa e destacou que o edital faz diferença na vida dos artistas, impactando diretamente a produção artística nacional e se consolidando como referência de fomento à cultura.
Segundo ele, é fundamental que haja projetos que deem visibilidade às mais diversas manifestações artísticas, sempre de olho na diversidade e nas pautas identitárias. “Com este edital certamente a gente se torna um dos mais longínquos programas de fomento à cultura do País”, afirma Salon, acrescentando que a diferença para o novo edital em relação aos anteriores é a preocupação com as necessidades da arte.
“Acompanhando a vitalidade e as necessidades de nossos artistas, pesquisadores e produtores, seguimos abrindo novos editais e buscando respostas para o desafio constante da criação”, complementa.
Curadora do “Rumos Itaú Cultural” desde a primeira edição, em 1997, a professora Vânia Leal lembrou que os projetos inscritos sempre foram em sua maioria das regiões sul e sudeste, o que denota uma desigualdade em relação às demais regiões do País.
Questionada se o cenário político irá influenciar os trabalhos apresentados, ela foi taxativa: “A arte não é desassociada da vida, porque arte é vida e vida é arte. Por isso, questões políticas vêm com força e veemência”, diz ela, que reside em Belém, no Pará.
Em seus 22 anos de existência, o “Rumos” recebeu 64 mil inscrições e, deste montante, 1,4 mil foram selecionadas. A primeira seleção é feita por uma comissão de avaliação composta por 40 pessoas, que não têm seus nomes divulgados.
Na segunda etapa, os projetos passam pelo crivo da seleção de comissão, que neste ano conta com 24 membros. Os projetos devem ser encaminhados por meio do site do “Rumos Itaú Cultural”.
A Caminhada Rumos chega a Goiânia no próximo dia 17, mas a localização de onde o encontro ocorrerá não foi divulgada pelos organizadores até o fechamento desta reportagem.
Último edital
No último edital, relativo ao biênio 2017-2018, o “Rumos Itaú Cultural” recebeu mais de 12 mil inscrições e selecionou 109 projetos. Foram disponibilizados R$ 15 milhões para que projetos de várias linguagens artísticas saíssem do papel e ganhassem forma. O investimento é realizado pelo orçamento do instituto e, portanto, não é usado algum mecanismo de captação de recursos, como as leis de incentivo à cultura municipal, estadual e federal.
*Jornalista viajou a convite do Itaú Cultural