Rubel, conquistou o brasil com sua sensibilidade artística e singularidade ao compor canções que te transportam para uma realidade paralela, e provocam saudade até de um amor não existente. O músico e roteirista brasileiro é um dos principais nomes da nova MPB. Em setembro de 2018 seu álbum Casas recebeu nomeação ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Amanhã (20), o cantor chega na capital goiana com a nova turnê em voz e violão, dos discos Casas e Pearl. O show acontecerá no tradicional Teatro Goiânia e promete uma imersão poética na produção do artista.
O DM Online conversou com o cantor de forma exclusiva e, durante o papo, Rubel levantou suas pontuações sobre arte, cultura, sociedade, e claro, cinema.
A preocupação do artista com o público é evidente, não apenas com a recepção artística, mas com a formação cultural da sociedade como um todo. Rubel acredita que a arte trabalha na construção identitária de qualquer nação, logo, é necessário que seja fomentada e incentivada.
A pluralidade do cantor em seus conhecimentos também é uma forte marca que ressoa para sua música. As influências do cinema, literatura e sociologia coexistem na produção do artista harmonicamente, e estão intimamente relacionadas com as convicções de Rubel. A lógica empírica presente nessa identidade confirma que, veementemente, a arte imita a vida.
Confira a entrevista concedida com exclusividade ao DM Online.
DM Online: Qual a expectativa para o show em Goiânia?
Rubel: Minha expectativa é muito boa, eu já toquei duas vezes em Goiânia, no Evoé, bem no início da carreira e foi muito importante para entender que a música estava de fato saindo da minha bolha. Depois voltei com a banda, tenho uma relação boa e muito afetiva com a cidade e as pessoas dai.
DM Online: Você gravou “Medo bobo” qual sua relação com a música goiana, de onde você tirou essa ideia?
Rubel: Acho que essa música ao mesmo tempo que é muito brega é muito bonita; ela consegue ser os dois ao mesmo tempo. Além disso, ela consegue ser muito simples e também sofisticada na forma de contar a história que ela conta. Acho que ela tem essa coisa de ser uma bela história contada de uma forma muito esperta. Eu sempre gostei dessa música e comecei a tocar nos shows como uma brincadeira, pelo fato dela ser muito distante e diferente do que eu faço. Toquei como uma piada em uma rádio e o dono da rádio insistiu para que eu gravasse, eu recusei, passei um ano e meio adiando essa gravação e ele continuou insistindo. Eu gravei e quando vi a música estava em 1° lugar na rádio, coloquei no Spotify depois e se tornou também uma das músicas mais ouvidas.
DM Online: É engraçado como isso está distante do que você produz enquanto artista, gera um efeito de estranhamento, mas um bom estranhamento.
Rubel: Exatamente, era uma brincadeira séria. A graça é bem essa, é isso que traz a graça e faz as pessoas se interessarem.
DM Online: Você estudou cinema, levando em consideração que seja praticamente impossível um rompimento com essa área e se desvencilhar dela, qual sua relação com a arte cimatográfica atualmente?
Rubel: Impossível me desvencilhar e nem quero me desvencilhar. Hoje em dia eu escrevo e dirijo scripts para mim mesmo. Pretendo dirigir também, no momento quero escrever uma série para a televisão, está em desenvolvimento e eu quero muito trabalhar com isso.
DM Online: Sua área de estudo dialoga com sua arte?
Rubel: Essa influência existe em duas partes. Primeiro, o cinema me influencia muito na forma de contar histórias. Acho que por ter estudado cinema eu enxergo a música como um veículo para contar uma história. É uma criação de narrativas. Outra forma que me influencia é na forma de produzir, o cinema te obriga a trabalhar de 12 a 20 horas por dia. O número de gente é muito grande, exige uma dedicação integral e eu acabei levando muito isso pra música. Eu vejo isso como uma forma de trabalho, uma dedicação absurda.
DM Online: Qual a sua opinião sobre a atual conjuntura cultural do país?
Rubel: Eu acho extremamente preocupante e assustadora. Isso é um desmonte consciente, claro e assumido contra a cultura nacional. Com a extinção do Ministério da Cultura, temos várias politicas associadas a censura, como ocorreu na Bienal, ataque a mídia, cortes de verbas em editais. É muito grave isso, porque no Brasil, cultura está associado a esquerda e tudo o que for associado a esquerda será extinto, o problema é isso. É grave porque isso não deveria estar associado a nenhum partido ou viés político, eles não detém a cultura, a cultura é nosso marco identitário como nação, ela constitui nossa identidade. Desmontar a cultura é desmontar a identidade da nação, é muito sério e crítico isso que está acontecendo. E não é preocupante apenas para quem trabalha com arte, quem precisa de arte é o povo, sabotando a produção artística, sabotamos nossa identidade.
DM Online: Você tem alguma música especial em “Pearl” e “Casas?”
Rubel: O Velho e o Mar e Mantra; eu acho que O Velho e o Mar é uma carta do inconsciente, o reflexo do que eu quero viver com minha música e minha carreira. Mantra já é uma música espiritual.
DM Online: Quais as suas referências na música atualmente?
Rubel: Hoje em dia eu tenho escutado praticamente só rap, de rap nacional escuto muito Racionais, Criolo e Djonga, de internacional escuto muito Kendrick Lamar. Gosto bastante jazz, MPB dos anos 60 e 70 e hip hop.
DM Online: Você tem algum músico ou álbum para indicar?
Rubel: Tem o álbum que estou escutando agora, se chama Sobrevivendo no inferno, dos Racionais. É um material obrigatório para quem quer estudar história do Brasil.
DM Online: E um filme?
Rubel: Bacurau, que está nos cinemas agora. É um filme que retrata através de uma alegoria de faroeste qual é a realidade social do nosso país. É uma produção muito relevante, indicado a vários prêmios, e sendo assim é importante que o publico apoie e assista. É uma das maiores produções que tivemos em muitos anos.
DM Online: Está trabalhando em algo novo? Quais são seus próximos projetos?
Rubel: Estou compondo novas músicas. Minha ideia é, no que vem, parar turnê ou diminuir o número de shows para me dedicar ao novo disco, compondo e gravando.
Serviço (Rubel)
Formato: Voz & Violão
Data: Sexta-feira, 20 de setembro de 2019
Horário: 20h
Local: Teatro Goiânia | Goiânia / GO