Embora seja uma iniciativa bem simplória, julguei necessário elaborar um pequeno guia de leitura para quem tem interesse em aventurar-se no universo do prolífico escritor russo Fiódor Dostoiévski. Por quê?
Pelo simples fato de que suas obras estão fortemente interligadas ao contexto histórico pessoal e social em que o autor viveu. Muitos leitores não têm absorvido o máximo que a leitura de seus romances tem a proporcionar pelo simples fato de desconhecerem as experiências do autor por trás de suas criações literárias; e, com isso, há uma grande possibilidade de subestimarem ou ignorarem as novelas menos populares – mas não menos importantes – como, por exemplo, as produzidas no início de sua carreira; e, consequentemente, limitarem-se apenas à leitura de seus romances mais conhecidos.
Para isso, é necessário saber que toda a obra de Dostoiévski está dividida em três fases: Juventude, Transição e Maturidade.
Juventude (1846 – 1849)
Dostoiévski escreveu seu primeiro livro em 1846, então com 25 anos e este período compreende o que os críticos consideram como a fase mais romântica do autor. As obras deste período possuem claras influências da literatura vigente de sua época (a francesa), porém, já é possível notarmos os traços estilísticos e as formas tão marcantes que o autor, independente das intempéries da vida, manteve durante toda sua vasta criação literária. Neste período também, Dostoiévski começou a se envolver com alguns círculos sociais de cunho político e literário que culminou em sua prisão, anos depois. Os livros desta fase são:
- 1846: Gente Pobre, O Duplo, Senhor Prokhatchin
- 1847: Romance em Nove Cartas, A Senhoria
- 1848: Noites Brancas, Polzunkov, Coração Fraco, o Ladrão Honesto, Uma Árvore de Natal e uma Boda, O Homem debaixo da Cama
Transição (1859 – 1865)
Os tais círculos sociais estavam tomando grandes proporções em São Petersburgo, na Rússia. Um em especial, denominado Círculo de Petrashevski – composto por vários intelectuais – dedicavam-se em discutir temas relacionados aos problemas sociais e políticos de sua época. No entanto, em 1849, Nicolau I, então o czar russo, começou a ver com maus olhos essas reuniões e, considerando-as como verdadeiras ameaças à autocracia, ordenou a prisão de todos os integrantes, entre eles Dostoiévski; condenando-os uns à prisão, outros ao fuzilamento. Então, a partir de 1859, depois de cumprir pena na Sibéria e prestar serviços militares (ainda como parte da pena imposta), o autor – completamente influenciado pela sua experiência de quase morte – retorna à literatura publicando obras densas de cunho autobiográficas, de características psicológicas, mas também enfocando sua maneira cômica e irônica de enxergar seu mundo e os problemas sociais da Rússia do século XIX. Os livros desta fase são:
- 1859: O Sonho do Titio, A Aldeia de Stiepantchinkov e seus Habitantes
- 1861: Humilhados e Ofendidos, Sonhos de Petersburgo em Verso em Prosa
- 1862: Recordações da Casa dos Mortos, Uma História Desagradável
- 1863: Notas de Inverno sobre Impressões de Verão
- 1864: Memórias do Subsolo
- 1865: O Crocodilo
Maturidade (1866 – 1881)
Esta fase, que encerra-se com sua morte, compreende o período em que Dostoiévski atinge o topo de sua carreira literária, fincando de uma vez para todo o sempre seu nome entre os principais e mais importantes escritores do mundo de todos os tempos. Nela, estão contidos seus principais romances que, junto com Memórias do Subsolo (1864), também contribuíram para a construção dos pilares da filosofia existencialista. Os problemas sociais, os aspectos psicológicos da mente humana, bem como suas crises, vícios e limitações são amplamente explorados pelo autor. Os livros desta fase são:
- 1866: Crime e Castigo
- 1867: O Jogador
- 1869: O Idiota
- 1870: O Eterno Marido
- 1872: Os Demônios
- 1873: Diário de um Escritor, Bóbok
- 1875: O Adolescente
- 1876: Uma Criatura Dócil, O Mujique Marei
- 1877: O Sonho de um Homem Ridículo
- 1881: Os Irmãos Karamázov
(Garimpo)