Texto: Júlia Lee
Houve um momento recente da história brasileira de tesão, utopia e subversão. Claro que existiu, caro leitor, quiçá já esteja distante em sua memória coletiva, mas na memória daqueles que viveram o ano de 2016 a esperança de uma zona autônoma ainda reside em nossos corações calejados.
É, a história é dura. Ainda mais quando só a observamos a partir da narrativa do monopólio de mídia que sustenta a manutenção do poder.
Lembro-me bem, em meados daquele ano, reportagens com manchetes sensacionalistas sobre os estudantes que ocupavam a Universidade Federal de Goiás (UFG) contra os retrocessos do governo vampiróide de Michel Temer (MBD). Havia esperança nesses dias. A brisa do vento era quente, forte e trazia consigo o combustível do mundo novo que estávamos gestando em dias de embriaguez, utopia e tesão.
O ápice do movimento foi quando 11 camaradas ocuparam as ondas radiofônicas da Rádio Universitária, vinculada a UFG, colocando no ar a saudosa Rádio Libertária por 11 dias ininterruptos. Eram dois programas diários e ao vivo, com cerca de uma hora um e duas o outro. A Rádio Libertária foi a maior ocupação de meio de comunicação estatal da história do País, esses jovens anarquistas e comunistas ultrapassaram até o mais revolucionário dos revolucionários, o querido companheiro Carlos Marighella na ocupação da Rádio Nacional Paulista (afiliada a Rede Globo).
Foi, de fato, um momento memorável que aconteceu na pacata Goiânia. Por que digo tudo isso, jogado ao vento? Ora, é muito simples, você pode conhecer essa história profundamente no primeiro livro do escritor e jornalista Marcus Vinicius Beck, em seu livro “Diário Subversivo: Dias de embriaguez, utopia e tesão”, que foi lançado pela editora Kelps.
Mas prepare-se: estamos falando de um livro-reportagem à lá gonzo ao melhor estilo Hunter Thompson, nos anos 1970. Drogas, revolução, sexo e fatos. Opressão, medo e ansiedade. Temos sentimentos e sentidos misturados em uma narrativa jornalisticamente esquizofrênica que retrata bem a cabeça dos jovens revolucionários que tomaram as ruas e universidades goianas na maior ocupação de um meio de comunicação e de prédios da UFG da história da cidade.
Cuidado, você pode se apaixonar, e consequentemente um sentimento de raiva irá tomar seu pacato coração, aos olhos de quem estava lá, como uma mosca observando atentamente os acontecimentos que se tornaram um marco na luta pela liberdade dos povos brasileiros. Um livro que narra explicitamente os cortes maldosos da elite brasileira na educação com a PEC 241, conhecida carinhosamente pelos companheiros como ‘PEC fim do mundo’, que congelava os gastos com educação por 20 anos na educação pública no Brasil.
Ah, caro leitor, um spoiler político: a PEC ainda está vigente e foi aprovada pelo congresso e pelo senado, mesmo com uma ocupação de todas as universidades federais do país e protestos em massa em todas as cidades.
A juventude foi, sim, massacrada, perdemos companheiros para o fascismo, choramos, tivemos amores rompidos e momentos de dor e opressão. Mas esses jovens também viveram o amor, o fogo revolucionário e, principalmente, a solidariedade e comunhão nas ocupações. Tornando-se um movimento de esperança, pois foi possível construir zonas autônomas por alguns meses que ficaram na parede da memória de toda uma geração sofrida e impactada pelo golpe de 2016 e os protestos de 2013.
“Diário Subversivo: dias de embriaguez, utopia e tesão” é uma leitura obrigatória pra quem quer entender a história da luta pela liberdade dos povos brasileiros.
Ficha Técnica
‘Diário Subversivo: dias de embriaguez, utopia e tesão’
Autor: Marcus Vinícius Beck
Gênero: Livro-reportagem
Editora: Kelps
Preço: R$ 15
Para adquirir: (62) 98277-1900