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CULTURA

Fusão sonora

A banda Caboclo Roxo dialoga com a cultura popular e acrescenta à sua singular sonoridade timbres e texturas próprias da música contemporânea. Em seu álbum homônimo, cuja estreia será virtualmente amanhã, às 18h, as composições abordam a força da natureza e a riqueza musical do sertão goiano. Ao longo de 13 faixas – sendo duas delas bônus –, o grupo passeia pelas origens dos batuques ancestrais, do gingado característico que faz parte da dança do povo preto, dos povos indígenas e do povo mestiço por meio de tambores, bits eletrônicos e eletricidade transgressora do rock´n´roll. É, de fato, uma experiência musical à moda de Nação Zumbi.

Convenhamos: em tempos onde as culturas originárias são achincalhadas pelos reacionários da farda que governam o País, a temática, a sonoplastia, as letras, tudo aquilo que compõem o universo artístico da Caboclo Roxo, é um bem-vindo alento cultural para suportar a demência coletiva que paira sob o Brasil. A arte, por isso e muito mais, é uma necessidade em dias escuros. Mais: a arte existe para nos ajudar a respirar, a rir, a chorar, a gritar, a escarrar. E isso é o que guia a rapaziada do Caboclo. Inspirados na ciência do som de Chico Science, o grupo caprichou no disco de estreia ao adicionar o tempero do frevo e congada aos riffs de guitarra.  

“Chico Science é a coisa que a gente mais vislumbrou quando estávamos começando a banda em 2002, quando conhecemos o Mestre Alemão, que é um cara que é consultor de instrumentos. Foi o início de tudo com a formação de um grupo chamado Coró de Pau”, conta o guitarrista César Faleiro, membro da banda desde o início. Mas o Coró, continua ele, acabou e daí nasceu o Caboclo. “Alguns integrantes faziam parte desse bloco no início. Foi naquele auge que o Chico Science tava tocando maracatu de tambor com guitarra. A gente tava aqui ouvindo essa sonoridade roots, maculelê e aí surgiu essa oportunidade”, completa.

Formada em 2002, a trajetória da Caboclo Roxo começa durante aulas de percussão ministradas em Goiânia. No currículo, o grupo tem apresentações nos palcos dos principais festivais e eventos do circuito alternativo goiano, como Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica), Festival de Culturas Tradicionais, Festival de Artes de Goiás, Goiânia Noise, Matamba Tropic, Eixo Musical e Cidade Rock, este com relevante importância para os primeiros passos da banda. Desde os primórdios, vale lembrar, o grupo assimilou as discussões afirmativas sobre manifestações populares, respeitando e compreendendo seu lugar de fala.

Essa miscelânea sonora, meio roots, meio maculelê, mas bastante original, contou ainda com a participação de nomes como Luciana Clímaco, Domá da Conceição, Xochitzin, Luis Maldonalle, Nego Henrique (Cordel do Fogo Encantado) e Mestre Alemão. “Essa banda tem muita importância na minha história de vida, foi ela que me fez entrar no universo profundo da cultura popular, me fez perceber a importância de nossas origens, me levou ao reencontro com a minha história familiar e a buscar inspiração no meu caminho interno”, conta Rodrigo Kaverna, um dos integrantes do grupo e também compositor.

As composições do Caboclo, diz o cantor Kleuber Garcez, remetem ao melhor da música goiana e brasileira. “Vem dos rincões e mananciais da mais rica cozinha rítmica do nosso cancioneiro, fincando a bandeira do divino nas dez cordas da viola caipira, demarcando o território goiano na sonoridade universal”, atesta Garcez. E de fato “Caboclo Roxo”, o disco, legitima as palavras do artista. “Esse disco já estava pronto e já estava sendo encaminhado para este ano o lançamento, mas por causa da pandemia a gente precisou mudar”, diz Faleiro. Mas por que lançar um disco em plena era das mídias digitais? “Acredito no consumo de mídia física, tenho CD e vinil em casa”, afirma.

Em tempo: o lançamento do disco “Caboclo Roxo” será no canal da banda no Youtube e Twitch. Românticos que nadam contra a maré do consumo de música a partir das mídias digitais, os goianos acreditam que ainda um álbum feito por meio das mídias físicas é “bem legal” e “bonito”. “Tínhamos uma base sede que chamava ninho cultural e o pessoal do Coco, aqui de Goiânia, tinha uma casa e ensaiava religiosamente todo sábado”, conta Faleiro. Na maioria das vezes, diz o músico, o vocalista chegava com a letra e o esboço da harmonia. Ao todo, participaram do processo criativo oito músicos. “Muitos músicos com muitas musicalidades”, recorda-se.  

Serviço

Lançamento Caboclo Roxo

Dia: amanhã

Horário: 18h

Onde: canal do youtube e Twitch

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