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Sem poder subir aos palcos, Titãs exibem show histórico de 'Cabeça Dinossauro'

Eis a definição mais apropriada: “Cabeça Dinossauro” é uma porrada. Lançado em junho de 1986, o terceiro LP dos Titãs vive ganhando eleições de melhor álbum da história do rock brasileiro. Em sua gênese, ele é curto e grosso. Um sofisticado ataque punk às instituições (“Família”, “Igreja” e “Polícia”), eu diria, mas que escancara o lado mesquinho dos engravatados (“A Face do Destruidor”, “Bichos Escrotos” e “Porrada”) com suas letras sintéticas e até mesmo guturais (“AA UU”). Sua sonoridade alimenta o teor politizado do disco, e é menos pop do que “Titãs” (1984) e “Televisão” (1985). O ‘cabeça’ marcou uma virada na trajetória do grupo.

Se dois anos antes a banda flertou com a new wave e emplacou nas rádios o single “Sonífera Ilha”, com ‘cabeça’ o caminho foi completamente inverso: o underground. Num primeiro momento boicotado pelas rádios em razão de suas letras, o LP tornou-se um sucesso comercial, vendendo 250 mil cópias – bem mais que seus anteriores. No contexto pós-abertura política, “Cabeça Dinossauro” ousou desafiar a censura prévia até então vigente e mostrou composições com contundentes críticas sociais e de costumes. Sim, o que dá unidade estética à obra é a oposição entre civilização e barbárie. Do início ao fim, começando no título, vale lembrar.  

Esqueça a nostalgia, no entanto. Em sessão a ser realizada nesta quarta-feira (21), às 20h, no Youtube, os Titãs dão pontapé inicial no projeto “Em Tempos de Pandemia” e exibem o antológico show em comemoração aos 30 anos de estrada, quando tocaram “Cabeça Dinossauro” ao vivo. “Em tempos de pandemia, já que não estamos podendo fazer shows ao vivo, decidimos mexer no baú e trazer para os fãs alguns dos melhores registros de shows nossos em diferentes épocas e fases. Para iniciar a programação, nada melhor que o show histórico de Cabeça Dinossauro, que gravamos no Circo Voador, Rio de Janeiro, em 2012”, explica o guitarrista Tony Bellotto.

O show foi filmado em preto e branco, com câmeras tão furiosas quanto as guitarras, baixo, bateria, teclado e letras eternizadas nos cantos e arranjos do disco. Os músicos durante o espetáculo conversaram pouco com o público, mas isso não significa falta de empatia com a platéia, já que “Cabeça Dinossauro” foi escutado por muitos ali desde suas adolescências. Gravado em 9 de junho, o espetáculo foi registrado em CD e DVD e o lançamento ocorreu em dezembro de 2012. Os clássicos “AA UU”, “Bichos Escrotos”, “Família” e “Porrada” são uma cacetada, além de “Tô Cansado”, cantada por Branco Mello, e a emocionante “O Quê”.  

Álbum conceitual, ou disco manifesto”, como queiram, as letras de “Cabeça Dinossauro” reforçam a presença do punk no universo sonoro dos Titãs, o que tinha sido visto até então apenas na faixa “Massacre”, do LP “Televisão” (1985), antecessor do ‘cabeça’. Mas, mesmo tendo findado aqueles anos de fervor provocados pela abertura política, as letras do disco continuam assustadoramente atuais. “Polícia”, por exemplo, é ouvida com frequência em protestos de rua. Enquanto “Bichos Escrotos”, com seus versos escatológicos, é cantada sempre que figuras bizarras despontam por aí. E “Homem Primata” leva o capitalismo a nocaute com jovens sonhadores.

Cabeça Dinossauro – Wikipédia, a enciclopédia livre

Para rememorar os quase 40 anos de carreira e acalentar os fãs, o Cine Titãs será veiculado no canal do Youtube da banda. “Vamos colocar uma série de shows à disposição na nossa página do YouTube, vai acontecer como se fosse um festival de cinema, as pessoas vão poder ver diferentes shows ao longo desses próximos meses. Com certeza esse inaugural é muito interessante”, diz o tecladista Sérgio Britto, autor das composições “AA UU”, “Porrada”, “Bichos Escrotos” e “Homem Primata”. Britto revela ainda que a apresentação terá todas as músicas do disco, como a banda nunca fez: “Nem na época do lançamento chegamos a tocar todas reunidas.”

Branco Mello completa: “É um festival de obras importantes, escolhidas por nós, para revermos e celebrarmos com os fãs”. Será uma experiência muito bem-vindas nesta época em que as incertezas, a mesquinharia e as instituições do Estado voltam a cair nas críticas da população, com seus métodos desastrosos. Isso, aliás, foi tornou o clássico LP “Cabeça Dinossauro” um dos triunfos revoltados do rock brasileiro ao lado de “Dois” (1986), da Legião Urbana, “Vivendo e Não Aprendendo” (1986), do Ira!, e “Rádio Pirata” (1986), do RPM. Em tempo: as outras sessões virtuais serão divulgadas em breve. Enquanto isso, vamos de “Cabeça Dinossauro”.

Serviço

‘Cabeça Dinossauro’ Ao Vivo

Quando: nesta quarta-feira (21)

Horário: às 20h

Onde: Canal dos Titãs no Youtube

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