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Claudio Willer ministra ciclo de palestras sobre Rimbaud

Anos 1920: “O poeta hoje está obrigado a desistir de sua vocação porque já demonstrou seu desespero, já reconheceu a própria incapacidade de comunicar-se. Ser poeta era antigamente a vocação mais sublime; hoje é a mais fútil”, disse o escritor norte-americano Henry Miller em “A Hora dos Assassinos”, obra publicada no Brasil pela editora L&PM.

O trecho, com o espírito subversivo e desbocado característico a Miller, refere-se à personalidade libertária e conturbada do poeta Arthur Rimbaud e elenca as descobertas de novas perspectivas literárias por parte do autor de "Trópico de Câncer. “O homem de gênio é preguiçoso, lerdo, volúvel, traiçoeiro, mentiroso, ladrão e vadio. Causa descontentamento onde quer que apareça”, teoriza.

Passados oito décadas e mais alguns anos desde que Miller escrevera "A Hora dos Assassinos", Rimbaud será objeto de estudo no ciclo de palestras “Visões de Rimbaud: Uma Guia Para a Leitura”, que será ministrado pelo poeta, ensaísta e tradutor Claudio Willer e terá três sessões, de duas horas cada – as inscrições estão abertas até o dia 16 de outubro e custam R$ 150,00, valor que pode ser dividido em até 12 vezes.

Com o objetivo de estimular a criação literária, as palestras estão previstas para acontecer nos dias 20 e 27 de outubro e em 3 de novembro, sempre às 20h. O material bibliográfico reúne, entre outros textos, volumes da obra de Rimbaud, bem como de Guillaume Apollinaire, George Bataille, Charles Baudelaire e William Blake, além de Allen Ginsberg e Jorge Luis Borges.

Nascido na cidade francesa Charleville em 20 de outubro de 1854, mas morto precocemente no dia 10 de novembro de 1891, Rimbaud é um dos expoentes mais loucos e maus da literatura, porém sua maldade deve ser entendida no sentido dialético-metafórico: era uma combustão poética de desregramento da existência e libertação dos sentidos.

Em uma de suas andanças pela França, conhece o poeta simbolista Paul Verlaine - com quem vivera um relacionamento amoroso - e colhe o material que seria reunido no livro “Uma Temporada no Inferno” (1873), clássico com nove poemas em prosa responsáveis por influenciar movimentos de poesia moderna do século 20 e fazer a cabeça dos beats.

“Escreveu (Rimbaud) poesia do século XX, com uns 50 anos de antecedência, acho. Minhas primeiras leituras de Rimbaud foram por volta de 1960: a tradução de “Uma Temporada No Inferno e Iluminações” por Ledo Ivo. Autor de especial predileção de Roberto Piva, poeta e meu amigo. A impressão que tive foi de que, se aquilo era possível, então tudo era permitido na criação literária”, recorda-se Willer.

Ensaísta Claudio Willer - Foto: Zé Naklem/ Reprodução

Não só ele, porém, teve essa sensação: gente muito boa era fã de Rimbaud, tal como o surrealista André Breton, o romancista Henry Miller e a cantora Patti Smith. Além de Ginsberg, é claro, que sempre levava um retrato do autor de "Iluminuras" em suas viagens e o pendurava na parede.

Willer, um dos responsáveis pela disseminação da literatura beat no Brasil com suas traduções, conta que adquiriu a obra completa de Rimbaud pela Gallimard, casa editorial francesa fundada em 1931 por Jacques Schiffrin e considerada uma das mais importantes guardiãs de obras literárias com alto valor.

Desde então, o ensaísta deu palestras e coordenou um grupo de estudos. "Publiquei ainda artigos e um capítulo sobre Rimbaud em meu livro “Um Obscuro Encanto: Gnose, Gnosticismo e a Poesia Moderna” (Civilização Brasileira, 2010)”, revela.

Celebrado pela sua estética surrealista, que explora a realidade por meio de imagens poéticas provenientes do inconsciente, Willer não tem dúvida que a forma com a qual se expressa é resultado de leituras que mexeram com a sua cabeça. “Ou, melhor dizendo, me impactaram”.

“De Rimbaud, é claro; de Lautréamont; do García Lorca de “Poeta em Nova York”; dos surrealistas; dos beats; e tantos outros. Em língua portuguesa, de Pessoa, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Campos de Carvalho, entre outros”. Por isso, o ciclo “Visões de Rimbaud: Uma Guia Para a Leitura” é - antes de mais nada - uma ode ao legado daquele que transformou a poética do século 20.

Mas, com o alto grau de analfabetos funcionais no País, como despertar a alma das pessoas para os versos vagabundos, bêbados conturbados de Rimbaud? Willer arrisca: "Se relaciona com o presente estado de coisas; com reaparições do fascismo, inclusive. Rodas de leitura, oficinas literárias e cursos extracurriculares têm, nesse contexto, uma função simultaneamente pedagógica e política".

Enquanto isso, fiquemos com um aforismo de Arthur Rimbaud, extraído da obra "Uma Temporada no Inferno: "Sim, chorar eu chorei! São mornas as Auroras!/ Toda lua é cruel e todo sol, engano:/ O amargo amor opiou de ócios minhas horas".

Serviço

‘Visões de Rimbaud: Uma Guia Para a Leitura’

Inscrições: até 16 de outubro

Palestras: 20 e 27 de outubro e 3 de novembro

Horário: sempre às 20h

Onde: Google Meet

Preço: R$ 150 (dividido em até 12x)

Mais informações: https://willercursos.wixsite.com/willer

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