Não tem jeito: é lendo os clássicos da literatura que encontramos repertório para perambular pelo universo das palavras e refrescar nossos olhos com pitadas delicadas de humor e lirismo. A vida, já dizia o velho e genial Machado de Assis, é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito.
Cronista deste Diário da Manhã dos costumes, vícios, virtudes, maldades, tendências da moda e política, o escritor e médico João Joaquim areja o carregado noticiário com textos inteligentes e sedutores. Ou, como melhor define a escritora Maria Júlia Franco, cuida “dos corações das pessoas com tanto carinho e desvelo”. A crônica está viva.
Sim, os escritos de João bebem na fonte da elegância despretensiosa dos três Rubens da nossa literatura: o Braga, o Alves e o Fonseca. E sempre com boas tiradas. “Em meus escritos semanais nunca falei em dinheiro. Primeiro porque não sou economista e depois porque fui educado compulsoriamente a não depender desse indigitado bem para a plena felicidade; embora ciente que ele (dinheiro) integra os itens da felicidade e sobrevivência da maioria das pessoas”, fuzila João, em “Dinheiro e Felicidade”.
Atual, não? Lógico: esse libelo verbal do humanismo não mereceria cair no ostracismo perecível dos jornais. João, sem perder tempo, reuniu suas publicações na obra “Espelho Social”. “Já escrevo há muitos anos. Paralelo a minha profissão de médico, sempre fui um leitor assíduo. Lia gibis, quadrinhos, clássicos da nossa literatura”, revela o escritor a este repórter, que interpelou, curioso: quais clássicos o senhor lê?
“O primeiro é Machado de Assis. Vários deles: desde os contos, romances, como “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas”. Leio, releio, treleio. Tenho ele como referencial. Gosto muito de poesia, José de Alencar. Nossos clássicos em geral”, comenta. Machado, porém, é seu xodó literário: “Quase todo dia leio alguma coisa dele”’.
O livro, cuja capa é assinada pelo artista visual Nonato Coelho e tem charges de Chico Fróes acompanhando os textos, passa ao largo de ser considerado um calhamaço de páginas enforcadas numa linguagem de terno e gravata. As abordagens, concisas. Diversificados, os temas. Sem querer ficar tecendo loas gratuitas ao autor, o que vemos do início ao fim de “Espelho Social” é um deleite movido pelo prazer da escrita.
Seria, na verdade, meio óbvio isso. “A gente escreve aquilo que a gente lê. Um bom leitor vai criando repertório. Esse livro é uma espécie de uma antologia”, diz João. É importante lembrar, contudo, que o autor é formado em medicina e isso certamente explica tamanha versatilidade - como a que vemos “Educação Como Libertação do Indivíduo”- ao passear por pensamentos dos educadores Jean Piaget e Paulo Freire.
“Na sua filosofia da educação Paulo Freire sofreu influência de outros pensadores como Karl Marx (marxismo), Jean Paul Sartre e Kierkegaard. Ele dava relevo especial à conscientização do indivíduo nas políticas da educação como um processo pedagógico libertador. Na instrução, crítica e conhecimento como um processo do desenvolvimento do homem ou da mulher que por ventura encontra-se numa condição de opressão ou submissão (pedagogia do oprimido)”, sentencia, no texto.
Vixe, para usar uma expressão genuinamente goiana, trata-se de um tema importante demais da conta. Pena que Freire não teve o devido reconhecimento dos políticos de seu tempo. É, meu caro João, esse tipo de coisa é bem típica do nosso País, né?
João avisa: vem uma novela por aí. Título? “Morte Social de um Ébrio. É uma narrativa que pelo título já diz bastante. Conta a história de um sujeito que era um funcionário público que depois virou funcionário de uma hotelaria e foi se envolvendo com o alcoolismo. Foi se acabando e se isolando socialmente. Gira muito em torno dele e da família dele”. O lançamento, em e-book e livro físico, deve ocorrer até o meio do ano.
Enquanto isso, leiamos “Espelho Social”.
‘Espelho Social’
Autor: João Joaquim
Gênero: Crônica
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