Em março de 2020 o mundo se viu diante de uma ameaça invisível e sem precedentes, o que mudou radicalmente a vida de toda a população. Comércios, bares, restaurantes, academias fecharam. Tivemos que nos habituar a uma nova realidade.
O setor cultural também foi vítima da pandemia, museus, teatros e centros culturais tiveram que fechar suas portas e aderir mais ainda à tecnologia para se manter conectado com o público.
No Brasil, grande parte dos museus são públicos e recebem verbas anuais do Governo para o funcionamento. Já os museus privados tiveram que aderir a novas estratégias para que suas atividades não fosssem encerradas para sempre.
Para fugir do cenário de crise, os museus apostaram em exposições online, sites foram aprimorados e lives começaram a substituir as palestras presenciais.
Os museus conseguiram provar sua incrível capacidade de readaptação e reimaginaram suas visões, missões e impactos, buscando por maior acessibilidade e atendendo às necessidades do grande público.
A maior adesão às redes sociais, com visitas remotas, conteúdos que interagem com o público, planejamento para futuras exposições, compartilhamento de experiências e encontros via internet para manter a rede de afetos tem fortalecido a relação dos museus com a comunidade.
Em Goiás
Em Goiânia, o Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (MA - UFG) se reinventou e apostou nas mídias sociais e visitações online.
Em 2020, o museu planejava comemorar seus 50 anos de existência com a exposição "Redes, saberes e ocupações", porém, com a necessidade do distanciamento social e os altos índices de contágio por Covid-19 na capital, as equipes do MA e do Digital Lab da UFG descobriram uma forma de aproximar o público da cultura. Ambos desenvolveram um tour virtual em 360º que permite que o visitante conheça as novidades e exposições da instituição sem sair de casa.
O diretor do MA, Manuel Ferreira Lima Filho, afirma que a plataforma Tainacan disponibilizou coleções do museu já digitalizadas e que a escolheu por ser uma ferramenta pensada dentro do âmbito acadêmico.
“De maneira paralela à montagem da exposição, nós tivemos o desafio de dar continuidade à extroversão do imenso potencial documental, museológico, arqueológico, etnográfico presente tanto nas nossas reservas quanto nos nossos laboratórios, na nossa biblioteca. A virtualização não significa substituição do presencial, mas um novo modus operandi de pensar as nossas coleções, a nossa relação compartilhada com o público, com os nossos colaboradores e com a sociedade”, disse.
Os desafios museais na pandemia e perspectivas futuras
O Diário da Manhã entrevistou Pablo Fabião Lisboa, Doutor em Artes e Cultura Visual e professor de Museologia na UFG. Para ele, os museus, na sua generalidade, não estavam preparados para enfrentar uma pandemia.
"Alguns deles no Brasil e no mundo, e em Goiânia, tinham seus sites, seus perfis de Instagram, seus perfis de redes sociais, mas não estavam preparados para um universo de interação no mundo digital", afirmou.
Segundo Pablo, medidas foram tomadas para manter o público próximo dos museus, como a interlocução com várias instituições museais, que tem trazido bons resultados por conta da pandemia. Além disso, os tours 360º que vem sendo realizados desde o ano passado também tiveram grande aprovação pelos gestores dos museus.
"É importante mencionar que a pandemia vai pressionar e está pressionando por muitas ações no âmbito da cultura digital por parte dos museus, no entanto, é importante frisar que essas atividades não são substitutivas às ações físicas. Um museu digital não supera o museu físico, são coisas distintas e que devem caminhas de forma dialogada", completou.
Quando questionado sobre as perspectivas futuras dos museus após o cenário pandêmico, Pablo afirma que o grande desafio do campo museal de quem trabalha nos museus, seja na ação museológica ou reflexão da museologia, é necessário convencer a sociedade de que as instituições funcionem no seu âmbito físico.
"A gente teve e está tendo um grande avanço na cultura digital do patrimônio cultural, no entanto, é importante saber que são duas questões distinas e que devem caminhar de mãos dadas", disse.
Pablo ressalta que lançar mão de ações digitais, sejam lives, tours virtuais, escaneamento de objetos para disponibilização digital e toda sorte de ações que podem ser feitas no âmbito digital, é necessário de estudo, formação e vontade política. "Eu falo isso, porque no Digital Lab, a gente tem um investimento que não é muito profundo. Nós gastamos por volta de R$ 2 mil por mês e acabamos entregando produtos de qualidade, portanto, as instituições devem atentar-se para a formação de seus quadros, nem é tão caro, mas tem que tem vontade política e formação", completou.
É importante manter-se contectado a cultura como um todo, e mesmo sem sair de casa é possível ter acesso aos acervos dos museus que contam a história do estado e da capital. Os profissionais da área trabalham incansavelmente, todos os dias, para manter a cultura viva dentro do goianiense e do turista, mesmo que de longe.
Para ter acesso ao tour virtual do Museu Antropológico, clique neste link e visite a mais recente exposição "Redes, saberes e ocupações". O Digital Lab conta com outros tours 360º e basta entrar aqui para conhecer novas instituições e museus.
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