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Minissérie retrata missão humanitária de brasileira que salvou judeus na Segunda Guerra

Aracy Carvalho desquitou-se. Em 1935, divorciada do primeiro marido e com um filho pequeno, ela parte para Hamburgo atrás de trabalho e consegue um no consulado brasileiro da cidade alemã. Ali, viu de perto o horror do nazismo, chocou-se com a máquina de assassinato criada por Adolf Hitler e salvou judeus do Holocausto ao facilitar a emissão de vistos ao Brasil – Aracy simplesmente ignorava as restrições impostas pela burocracia e driblava os entraves que surgiam em seu caminho.

Aracy Moebius de Carvalho Guimarães era uma mulher determinada, forte, que não se deixava abalar e muito justa, justíssima. Bela e simples, ela chamou atenção não só do cônsul-adjunto do Brasil, o diplomata João Guimarães Rosa, que se tornou aliado dela em missões humanitárias e também no amor, como de um capitão da SS, a temida polícia política de Hitler: Thomas Zumkle, papel do ator alemão Peter Ketnath, ficou obcecado por Aracy, queria descobrir seus segredos, apesar do caso dele com a cantora judia Vivi, que vive às margens do perigo.

Além de incomodarem Aracy, as investidas do oficial nazista ameaçam colocar em risco toda a ajuda que a brasileira oferecia aos judeus. “Essa jornada de Aracy é muito poderosa, vivê-la em cena me despertou para a importância de se ter coragem na vida, de agir pelo coração, seguir adiante sem temer, não deixar o medo tomar conta”, afirmou em coletiva de imprensa realizada na sexta-feira, 10, a atriz Sophie Charlotte, que vive Aracy Carvalho em “Passaporte Para a Liberdade”, minissérie que estreia na Globo na próxima segunda-feira, 20, após a novela “Um Lugar ao Sol”.

O fio condutor da narrativa é desenrolado quando Guimarães Rosa, personagem interpretado pelo ator Rodrigo Lombardi, é chamado para ocupar o cargo de cônsul-adjunto do Brasil na cidade de Hamburgo. Em seu primeiro dia de trabalho, Guimarães conhece Aracy e, sem demorar, encanta-se por ela. Mas percebe que a brasileira lhe esconde algo, e era bem isso mesmo que acontecia: mantinha encontros com judeus às escondidas junto com seu cúmplice e melhor amigo. Colocada na parede e questionada sobre seus mistérios, explica sua missão voluntária para o diplomata.

Guimarães hesitou, porém não demorou muito para compreender que Aracy estava certa. “O João Guimarães Rosa que conheceu essa guerreira era ‘só um cara’, que, apaixonado, chega (depois, ao Brasil) e se torna um dos maiores autores de todos os tempos”, diz Lombardi, destacando que, mesmo depois de ter vivido tudo o que viveu durante a Segunda Guerra Mundial, ele conseguiu escrever sem se lembrar o que tinha acontecido naqueles anos. “É de uma riqueza tamanha essa história”, pontua.

Passaporte para Liberdade': saiba tudo sobre a nova minissérie da Globo |  TV & Famosos | Gshow
História bonita é poderosa e pautada pelo amor e resgate ao próximo - Foto: Globo/ Divulgação

É uma história bonita, poderosa, pautada pelo amor e resgate ao próximo, como se fosse um convite à ação, um chamado para que as viúvas dos períodos sombrios da História não mais se sintam encorajados a expressar as excrescências que levaram milhares de pessoas à morte. Sim, é possível ter um discurso articulado e interessante, porém o melhor é fazer algo efetivo para transformar a vida daqueles que mais precisam. Aracy, a partir de uma interpretação poderosa de Sophie, luta por aqueles que não tinham ninguém para lhes estender a mão enquanto o nazismo os matava.

“Espero que as pessoas despertem para esse olhar de empatia, de estender a mão. Abrir o coração para escutar e receber o outro”, declara a Sophie. Para o diretor Jayme Monjardim, o momento histórico exige reflexões grandes e “Passaporte Para a Liberdade” chega com uma proposta de mostrar as coisas que “podem estar acontecendo ao nosso lado e a gente não sabe”. Ele destaca ainda os desafios de filmar certas cenas: “A gente não imaginava, por exemplo, conseguir fazer a destruição da Noite dos Cristais com 12 pessoas. Temos que agradecer à tecnologia.”

Ao voltar da Alemanha em 1942, após o fim das relações diplomáticas entre o Brasil e o país germânico, Aracy estabeleceu residência no bairro de Perdizes, em São Paulo. Dois anos depois, foi morar em Copacabana, no Rio de Janeiro, num apartamento cuja vista dava para o Arpoador, junto com o segundo marido, o escritor e diplomata João Guimarães Rosa, que nos anos seguintes viria a escrever o cultuado romance “Grande Sertões: Veredas” e colocaria seu nome em definitivo entre os grandes autores da literatura brasileira. A história dos dois é contada detalhadamente em “Justa – Aracy de Carvalho e o Resgate de Judeus: trocando a Alemanha Nazista pelo Brasil”, obra lançada pela historiadora Mônica Schpun em 2011.

Aracy Carvalho morreu aos 102 anos em decorrência de Alzheimer. Guimarães Rosa foi vitimado por um ataque cardíaco aos 57, em 1967.

Passaporte Para a Liberdade

Quando: segunda-feira, 20

Horário: após ‘Um Lugar ao Sol’

Onde: Globo

Disponível também no Globoplay

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