De tempos em tempos, o Globo de Ouro se mete em escândalos que lhe arranham a credibilidade. No próximo domingo, 7, quando o tradicional evento hollywoodiano chega sem glamour à sua 79ª edição, bem diferente de quando era considerado uma premiação relevante à televisão e ao cinema, o tapete vermelho não terá cobertura da imprensa, muito menos transmissão da NBC após debandada da emissora e nem do público que não seja a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que esteve sob a mira dos jornais Los Angeles Times e New York Times em reportagens.
Neste ano, a cerimônia de entrega será discreta. Em vez de badalado elenco composto por carinhas reconhecidas nas páginas das revistas de celebridade, com atores se revezando na hora de revelar os vencedores, a festa não será de arromba, a exemplo do que ocorreu em dezembro do ano passado na transmissão ao vivo pelo Youtube, onde o músico Snoop Dog e a jornalista Helen Hoehne, presidente da Hollywood Foreign Press Association, responsável pela premiação, informaram quem vai concorrer em qual categoria. Sem TV. Sem estrelas. Por pouco, não passou batido.
Em Hollywood, no entanto, o espetáculo jamais deve parar. Mesmo com a NBC abrindo mão do programa de maior audiência não esportiva dos Estados Unidos, cujos direitos de transmissão custavam em 2020 27,4 milhões de dólares, a sala de estar do Oscar tentou manter certa coerência – sem as aberrações do passado, como “O Turista”, péssimo filme estrelado por Angelina Jolie e Johnny Deep, e “Emily em Paris”, série mequetrefe – entre os atores, atrizes, diretores, filmes estrangeiros ou não que estão no páreo para levar um troféu do agora ex-aclamado Globo de Ouro.
Na categoria Melhor Filme de Drama, por exemplo, a disputa reúne obras que estão sendo bem faladas no início do ano, como o drama que foge dos clichês do Velho Oeste “Ataque dos Cães”, da diretora neozelandesa Jane Campion, grande favorito para abocanhar a estatueta. Os outros que estão na briga são “King Richards: Crianças Campeões”, de Reinaldo Marcus Green, “No Ritmo do Coração”, película de Sian Heder, “Duna”, obra de Denis Villeneuve, e a comédia “Belfast”, de Kenneth Branagh.
Mas os melhores longas, em matéria de cinefilia, estão em disputa na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Responsável por colocar o cinema espanhol nas salas, Pedro Almodóvar investiga em “Madres Paralelas” o passado franquista da Espanha. Penépole Cruz interpreta uma fotógrafa de moda que está na meia idade e teve uma aventura com um homem casado. Na maternidade, prestes a dar luz, não há sinal do pai. Ela divide o quarto com uma mulher mais nova. Ambas são solteiras. Uma está na meia idade, teve a gravidez planejada. A outra, adolescente, com apenas 17 anos, engravidou por acidente e sente medo pelo que possa lhe acontecer.
Outro bambambã da categoria de filme estrangeiro é “A Mão de Deus”, do cineasta italiano Paolo Sorrentino. Felliniano com traços da clássica comédia italiana, o título da longa faz referência ao gol de mão feito pelo craque argentino Diego Armando Maradona na Copa de 86 em jogo contra a Inglaterra, cuja mística e feitos maradonianos fazem parte do pano de fundo que acompanha o personagem principal em sua descoberta do cinema, a perda da virgindade com uma mulher mais velha, a tia que toma banho pelada e deixa o desconcertado, o pai comunistão. Anote: filmaço.
Filmaços também são “Drive My Car” e A Hero”. Inspirado nos contos de “Homens Sem Mulheres”, do escritor japonês Haruki Murakami, o primeiro leva o espectador a refletir sobre o vazio deixado pela partida de alguém querido. É uma produção do país do sol nascente dirigida por Ryusuke Hamaguchi que acompanha a história Yūsuke Kafuku, ator e diretor teatral de sucesso, casado com uma linda roteirista: quando ela morre, restam perguntas sobre seu relacionamento, sobra arrependimento de nunca ter se esforçado para compreendê-la. Ainda não estreou no Brasil.
Já “Um Herói”, produção iraniana assinada por Asghar Farhadi, conta a história de Rahim. Ele está preso por conta de uma dívida que não conseguiu pagar. Ganhou uma condicional, mas só de dois dias. Então, ao arregaçar as mangas, busca convencer seu credor a retirar a queixa, comprometendo-se a pagar parte do que deve. No entanto, nada é tão fácil assim. E essa sinopse, resumida, não dá conta de explicar a complexidade de um capitalismo opressor, que aprisiona uns aos outros com débitos.
Devoto ao belo jornalismo da New Yorker e suas reportagens literárias, o diretor Wes Anderson e “A Crônica Francesa” mereceram uma apagada menção na categoria Trilha Sonora. Pouco. O mesmo aconteceu com a sátira “Não Olhe Para Cima”, inspirada em “Doutor Fantástico”, de Stanley Kubrick. Ambos, em contexto de ascensão das práticas e discursos extremistas, vêm bem a calhar, porque um deles enaltece o bom jornalismo enquanto o outro ri da turma que ruminou contra a ciência. Justo foi o filme "A Partida da Filha", dirigido pela atriz Maggie Gyllenhall em sua estreia atrás das câmeras, estar concorrendo em Melhor Direção.
Já “Lupin”, “The Morning Show”, “Pose”, “Round 6” e “Succession” foram indicadas na categoria melhor série de drama. E “The Great Hacks”, “Only Murders in the Building”, “Reservation”, “Dogs” e “Ted Lasso”, em melhor série musical ou comédia. “Morning Show”, após abordar assédio sexual nos bastidores de um importante telejornal americano após o movimento Me Too, colocou o cotidiano da covid-19 em cena. Jennifer Aniston e Reese Witherspoon estão bem. Não por acaso, entre as produções televisivas, lidera a lista de indicações com quatro indicações.
Saiba onde ver os principais filmes
Ataque dos Cães
O filme “Ataque aos Cães” coloca no centro da história Phil, personagem interpretado por Benedict Cumberbatch, e George, papel de Jesse Plemons. Eles são irmão, possuem poder aquisitivo e são donos de uma fazenda em Montana. Suas semelhanças acabam aí, no entanto. Se o primeiro é um sujeito interessante porém cruel, já o segundo se mostra gentil e compreensivo, bem diferente do irmão. Está disponível na Netflix.
Madres Paralelas
Pela primeira vez, o legado do franquismo será abordado pelo cineasta de maneira direta. “Mães Paralelas” não será tão autorreflexivo quanto o último filme de Almodóvar, “Dor e Glória”, porém é o mais introspectivo do diretor, em matéria de política. Na obra, Almodóvar volta ao terreno do melodrama. Ainda não estreou no Brasil. Segundo a Variety, a Netflix irá distribuir o longa-metragem no começo do ano.
Não Olhe Para Cima
Kate e Randall vão até a presidente dos States, Janie Orlan. Sabem que um asteroide vai destruir a Terra. Viram motivos de chacota por um jornalismo subserviente. Junto de Dr. Clayton Oglethorpe, do Escritório de Coordenação da Defesa Planetária da Nasa, os cientistas expõem o problema. Mas quem se importa? Não Janie. Nem seu gabinete de incompetentes, negacionistas e poderosos preocupados com dinheiro, fama, cabelo bonito e outras futilidades do tipo. Também está na Netflix.
A Mão de Deus
“A Mão de Deus” conta a história de um menino, Fabietto Schisa, interpretado por Filippo Scotti, na tumultuada Nápoles dos anos 1980, onde a lenda do futebol Diego Maradona vai jogar após deixar o Barcelona. No entanto, uma tragédia surpreendente. O título é uma homenagem do cineasta Paolo Sorrentino ao gol de mão feito pelo craque argentino na Copa de 86. “A Mão de Deus” tem no catálogo da Netflix.
The Morning Show
Bradley Jackson continuou a frente do “The Morning Show” com um novo parceiro. Mas ela não está satisfeita. Assim, ela tenta a todo custo ir para o jornal da noite, quando ela sofre uma rasteira do próprio Cory. Ele manda o novo parceiro de Bradley para o jornal, a partir da visão dele que o único jeito de salvar o programa, em queda livre na audiência e qualidade, é trazendo Alex Levy de volta. A série está na Apple TV+.