Home / Cultura

CULTURA

Além do cinema, Arnaldo Jabor teve destaque na imprensa e se tornou conhecido do grande público

Polemista à mesma linha de Paulo Francis, o jornalista Arnaldo Jabor, 81, escreveu sobre política, economia, cinema, literatura, música e comportamento onde se mostrou dono de estilo provocativo. Em entrevista ao programa Roda Viva em 2005, Jabor disse que ingressou no jornalismo por não conseguir pagar as contas fazendo filmes, porém os motivos iam além do aspecto financeiro. “Era uma coisa meio romântica da minha geração, de interferir na realidade do país”, comentou o escriba.

“Eu fiz cinema por 30 anos, e, como todo cineasta, sofria de duas angústias básicas, ansiedade e frustração. Fiz nove filmes, e, mesmo assim, passava necessidade para sustentar minhas filhas, um dia falei: ‘Enchi. Chega de sofrer’. Encontrei Fernando Gabeira num avião e pedi que ele me recomendasse à Folha, onde ele escrevia. Pois não é que o bom Gabeira me indicou ao Otavinho Frias, que me empregou? Sou grato a Gabeira e pelo importante trabalho desse grande brasileiro", disse o jornalista.

Em suas colunas, ainda no início dos anos 1990, tecia críticas ao então presidente Fernando Collor de Mello. "Collor é uma caricatura caligulesca da burguesia brasileira e tem a missão inconsciente de desnudá-la, como quem desvenda um crime, cometendo-o”, publicou, na Folha, em junho de 92. Simpático a Itamar Franco? Nem pensar. Só o tucano Fernando Henrique Cardoso tinha o privilégio de ser elogiado por Jabor.

Durante os governos Lula e Dilma, não poupou críticas aos escândalos de corrupção que eram publicados na imprensa. Após o impeachment e os desdobramentos da Lava-Jato, que o jornalista achava ser o primeiro passo para o Brasil “sair da barbárie”, pode-se dizer que Michel Temer foi blindado por Jabor. As críticas, em alto e bom som, só retornaram quando Jair Bolsonaro se elegeu presidente, em 2018.

Pelo estilo teatral com que interpretava seus comentários de um minuto e meio na tela da Globo, Jabor, também na entrevista ao Roda Viva, disse ter uma semelhança entre o ofício do cinema com o que fazia inicialmente no Jornal Nacional e depois no Jornal da Globo. “É quase uma performance, não apenas opinião. Um cinema de mim mesmo, em que sou ator e diretor”, afirmou o jornalista, na ocasião.

Durante os protestos que ficaram conhecidos como Jornada de Junho de 2013, chegou a dizer que os manifestantes faziam parte da classe média e eram tomados pela “ignorância política, burrice misturada a um rancor sem rumo”, numa tentativa de reeditar o que falou Nelson Rodrigues, seu mestre, sobre a Passeata dos Cem Mil.

Além do ofício televisivo, com o qual o entrou na casa das pessoas e se tornou conhecido do grande público, Arnaldo Jabor publicou crônicas primeiro na Folha. Em seguida, passou a escrever no O Estado de S. Paulo e O Globo, onde semanalmente – até 2017 – comentava os assuntos mais importantes do país. Após ler um artigo, a cantora Rita Lee compôs a canção de mesmo nome, sucesso da cantora nos anos 2000.

“Rita Lee fez uma música com letra tirada de um artigo que escrevi, sobre amor e sexo. A música é linda, fiquei emocionado, não mereço tão subida honra, quem sou eu, quase enxuguei uma furtiva lágrima com minha gélida manína por estar num disco, girando na vitrola sem parar com Rita, aquela hippie florida com consciência crítica, aquela hippie paródica, aquela mulher divinamente dividida, de noiva mutante ou de cartola e cabeça vermelho que, em 67, acabou com a caretice de Sampa e de suas lindas minas pálidas”, divagou o cronista, na apresentação do livro "Amor é Prosa, Sexo é Poesia".

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias