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‘Licorice Pizza’ reconstrói clima afetivo de Hollywood durante os anos 1970

“Licorice Pizza”, filme dirigido pelo cineasta Paul Thomas Anderson, merece ser visto. Nostálgico e amoroso, o longa-metragem, em sessão no shopping Flamboyant, parte de uma história de amor ambientada em 1973. Não só por isso, o longa deve ser visto também como um belo exercício de cinema autoral em que o diretor imprime na obra sua estética, fugindo dos padrões caducos e pasteurizados da indústria hollywoodiana.

O que Anderson, diretor de obras-primas do cinema produzido neste século, faz é uma obra de arte. Assim como já tinha feito em “Sangue Negro” e “Trama Fantasma”. Cabe dizer que “Licorice Pizza” situa-se no limiar entre diretores talentosos que fazem filme autorais em Hollywood. Dessa safra, convém destacar o mestre Quentin Tarantino, responsável por produções aclamadas, como “Era Uma Vez em Hollywood”, lançado em 2019.

Em “Licorice Pizza”, numa verdadeira harmonia de olhares, o cineasta volta para uma atmosfera nostálgica de uma Los Angeles dos anos 1970. Gary trabalha como ator numa série de televisão que faz sucesso entre o público. Ana trampa de assistente de fotógrafo. Entre eles, logo se formará um elo que transita entre a paixão, a vontade – sobretudo dele – e a amizade, barreira para as ambições amorosas do rapaz propostas por ela no início.

Estamos em Los Angeles, somos convidados a dar um rolê pela cidade, tudo isso a partir das lentes rápidas e poéticas de Anderson. Não tem mais Beatles, Janis Joplin não está entre nós, nem Jimi Hendrix, Jim Morrison ou Brian Jones. Os ideias da paz e amor, símbolo da contracultura, estão podem ruir a qualquer momento: os Estados Unidos protagonizam um fiasco na Guerra do Vietnã e a crise do petróleo assola o mundo.

Queiramos ou não, e eu acho que seja, “Licorice Pizza” – indicado ao Oscar de melhor filme, roteiro e direção – é uma boa comédia romântica, mas esqueça se você tiver pensando naquela trama insossa, a qual já sabemos como vai terminar assim que entramos na sessão. Nos poucos mais de 130 anos, o que assistimos é uma deliciosa melodia do olhar, para usar uma expressão consagrada pelo crítico Nicholas Ray.   

Os olhares entre Alana e Gary, seja quando um deles observa a independência afetiva do outro ou seja quando sacamos o pai controlador dela, percebemos que a coisa adolescente está ali, viva. É uma fase da vida marcada pela necessidade de encontrar o nosso grupo social.

A título de curiosidade, antes de ser título do novo filme de Paul Thomas Anderson, “Licorice Pizza” era uma loja de disco entre 69 e 85 no sul da Califórnia. O nome vinha do apelido pelo qual também era conhecida a bolacha de vinil, com sua cor preta brilhante semelhante à do doce feito com a leguminosa e pelo diâmetro em comum entre uma pizza e um LP.

Feita essa intervenção, há que se levar em consideração as atuações de Sean Penn, Bradley, que tão bem representam a loucura por trás da Nova Hollywood dos anos 70, um glamour um tanto melancólico, porém sem esquecer da hipocrisia política e violência policial. Nesse sentido, em matéria de reconstruir a época, Anderson optou por até fazer uso de um humor por vezes incorreto, mas comum naquele tempo.

Por fim, ao subir os créditos, saímos da sessão com a sensação de que Hollywood de fato encaretou, assim como o mundo de maneira geral. “Licorice Pizza”, por isso e muito mais, é um belo filme.

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