A novela “Pantanal”, clássico da teledramaturgia brasileira, volta a ser exibida nesta segunda-feira, 28, no horário nobre após 32 anos. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, especialista em mostrar a simplicidade da vida rural, a nova versão ocupa lugar o deixado por “Um Lugar Ao Sol”, que terminou na sexta, 25, e teve reprise no sábado, 26. Ruy Barbosa teve o projeto do folhetim vetado pela Globo nos anos 1990 e, ciente que havia criado uma obra de arte, correu para a concorrente Manchete.
Nos anos 90, o Brasil era outro: Collor havia vencido a primeira eleição após a ditadura, vivia-se um pesadelo econômico e a inflação desvalorizava o salário. O espectador fixou os olhos no televisor, ficou vibrado na trama que mostrava as belezas de um bioma rico em biodiversidade, achou interessante a ideia de uma vida desgarrada de consumo e encontrava na possibilidade do contato com a natureza a necessidade para seguir em frente, esquecendo o terror que tomava conta da política.
Com a novela, a Manchete ousou deixar a Globo para trás na guerra do Ibope, o que não deixa de ser curioso. Segundo a obra “Pantanal – A Reinvenção da Telenovela” (2008), de Arlindo Machado e Beatriz Becker, os anunciantes haviam fechado a torneira do dinheiro e houve disputa com a emissora carioca nos intervalos. Outro aspecto que ainda chama atenção é a transformação estética: antes, reinava o ritmo acelerado, cenas curtas e cortes rápidos, planos fechados e close (quando não super-close) nos atores.
Se a Globo era uma potência em matéria de exportar novelas, a Manchete ainda engatinhava. Fundada sete anos antes, queria vender-se como uma alternativa ao padrão do plim-plim, já conhecido, porém sempre preso numa lógica de como escrever, filmar, atuar e, claro, vender os folhetins produzidos para o exterior. Adolpho Bloch, o manda-chuva que concorria com a família Marinho, bancou o projeto e enviou para o Pantanal uma equipe gigantesca comandada por Jayme Monjardim.
Cinéfilo com cinematográfica, Jayme achava que sua missão era levar à telinha os recursos técnicos consagrados na telona, com planos abertos, pausa nos diálogos, tempo para contemplação, numa fotografia que contemplasse a beleza natural do bioma. Três décadas se passam, o mundo hoje é outro, mais conectado, em rede. E, mesmo assim, Pantanal promete colocar os brasileiros sentados à frente da TV no horário nobre.
Com texto de Bruno Luperi e direção artística de Rogério Gomes, a trama narra a história de José Leôncio, personagem interpretado pelo ator Renato Góes na primeira fase, que chegou com o pai ao Pantanal – depois, ele é vivido por Marcos Palmeira, que trabalhou na primeira versão da novela, em 1990. Lá, comparam uma fazenda e começaram a criar gado de corte. “A minha intenção era perder o primeiro encanto gigantesco de quando você chega. É difícil porque a cada cenário, tinha uma coisa linda nova”, conta Góes, em material distribuído pela Globo à imprensa.
Entre a contemplação da beleza, os atores passaram a frequentar a casa do cantor Almir Sater, que esteve presente na primeira versão e estará na segunda também. Morador do Pantanal há décadas, Sater deu assistência importante para o elenco. Num bate-papo, por exemplo, Góes pergunta ao músico como deveria se comportar se visse uma onça, ao que é interpelado pelo pantaneiro: “Respeito, olhar e voltar pra casa.”
Não deu outra. Minutos depois, como se fosse premeditado, aparece o imponente felino. “Eu esperando a hora de recuar. Mas ficamos lá, dentro do rio olhando, ela veio na nossa direção. Eu saí, peguei o celular, comecei a filmar e aquela experiência foi maravilhosa. Conseguimos ouvir os esturros dela. No dia seguinte a gente voltou para ver as batidas da onça pelo lugar onde ela tinha passado. Vai ficar marcado pra sempre na minha memória”, acrescenta o ator, também no material de imprensa da Globo.
Em seu habitat natural, os animais nativos não fizeram mal. Segundo os atores, foram respeitados o tempo todo, já que a ideia era causar o menor impacto possível no bioma (alvo frequente de queimadas) que é um dos mais ricos do mundo em diversidade de fauna e flora. “O maior perrengue, e isso talvez seja unânime, era abrir e fechar porteira e o deslocamento de todo dia. O que ficou mais marcado pra mim eram esses deslocamentos e o abre e fecha de porteiras”, diz Bruna Linzmeyer, no material da Globo - ela interpreta a sensual Madeleine. Karine Teles vive ela na segunda parte.
Madeleine foge do Pantanal levando Jove, ainda bebê, de volta para a mansão da família Novaes, no Rio de Janeiro. O menino cresce longe do pai, que se viu incapaz de brigar pela guarda do filho. José jamais deixou de cumprir suas obrigações legais, enviando fielmente uma quantia excepcional de pensão mensal, mas ele não dá conta que onde sobra dinheiro, falta o afeto. Jove cresce acreditando que seu pai havia morrido, enquanto o pai, sem saber da mentira criada pela ex-mulher, não procurava o filho, acreditando que deveria se afastar de Madeleine.
Duas décadas se passam marcando a mudança de fase na novela. Jove descobre que seu pai está vivo e vai à sua procura. É desse encontro e de sua enorme expectativa, embalados por uma festança para todo o povo da região da fazenda, que começam os grandes conflitos entre os Leôncio. Embora desejem profundamente viver a relação entre pai e filho, José Leôncio e Jove são confrontados por um abismo de diferenças comportamentais e culturais, inaceitáveis aos olhos um do outro.
Segundo o ator Osmar Prado, um dos grandes nomes de sua geração, o sentimento de atuar em “Pantanal” é de resignação. “Eu costumo dizer que em teatro a gente só tem ideia do espetáculo quando abre o pano e entra o público. Só saberemos quando estrear. Façamos o melhor que pudermos, não só com a contribuição individual, mas na integração com o coletivo. O que tiver que ser, será, como diria o Velho do Rio”, afirma o ator, em material de divulgação da Globo distribuído à imprensa.
Veja o trailer de "Pantanal" abaixo: