Almir Pessoa ama suas raízes goianas. Na obra dele, a saudade é um elemento importante. Nascido em Anápolis, cidade localizada a 60 quilômetros de Goiânia, o instrumentista graduou-se em Música pela UFG. Ao longo da trajetória acadêmica, pesquisou escalas. E dono de um estilo singular de tocar, com o qual consagrou-se como uma das autoridades em matéria de viola, Almir afirma que o instrumento é usado nos mais diferentes estilos e, para a nossa sorte, está longe de seu potencial máximo. “A música é infinita, a viola, da mesma forma”, atesta o músico.
Na próxima sexta-feira, 10, às 20h, Almir sobe ao palco do Centro Cultural da UFG (Av. Universitária, 1533, Setor Leste Universitário, entrada franca) para apresentar o show Rodas de Violeiro, que terá participação especial do grupo Dez Cordas. O Diário da Manhã antecipa, com exclusividade, que o público pode esperar um espetáculo de um show-man com pitadas de experimentalismo e mistura de música eletrônica. Tudo isso, como não poderia deixar de ser, ao som da boa, velha, charmosa e misteriosa viola, instrumento que tem até um dia para chamar de seu, 13 de julho.
Com pelo menos 50 possibilidades de afinação, a viola abarca gêneros musicais que vão do sertanejo à música popular brasileira. O dedilhado faz arrepiar a pele de quem delicia-se ao ver as cordas delicadamente tocadas. E o instrumento chora. O afago leva-lhe a sussurrar. No mês passado, em pleno horário nobre da televisão, chorou num duelo entre os violeiros Almir Sater e Gabriel Sater, este filho do autor de “Chalana”. Com toda a certeza, foi das cenas mais bonitas da novela “Pantanal” e, entre uma nota e outra, houve quem se emocionou ao ponto de aplaudir o espetáculo em frente à TV.
Afinal, o instrumento é um universo misterioso, que ainda precisa ser desnudado e as músicas entoadas em suas cordas sobrevivem por décadas. E estão presentes em nossa cultura. Almir Pessoa, uma autoridade em Goiás quando o assunto é viola, dedicou até a obra “A Viola Por Almir Pessoa”, na qual explica o método que desenvolveu para tocar o instrumento e como ele está associado à música caipira. Almir começou a carreira tocando em bandas e se apresenta Brasil afora em espaços onde brilha o sertaneja em suas variadas vertentes, como nos tradicionais rodeios, por exemplo.
Além disso, é fundador do Instituto de Viola Almir Pessoa (Ivap), dá aulas e produz de shows. Autor do disco “Um Coração Caipira”, lançou CDs, DVDs e seus trabalhos estão disponíveis para o público nas plataformas de streaming. A seguir, confira a íntegra da entrevista de Almir Pessoa ao DM em que ele fala sobre a diversidade da viola, os primeiros passos no mundo da música, trajetória acadêmica e, claro, a expectativa para a apresentação no festival A Moda é Viola, que começa na quinta-feira, 9:
Diário da Manhã - Quais são suas referências musicais?
Almir Pessoa - Minhas referências musicais são bem diversificadas. Basicamente gosto de ouvir e me espelhar em artistas como Tião Carreiro, pela sua expressividade com a viola, Garth Brooks pela sua performance e Alceu Valença por simplesmente ser o Rei dos Palcos!
DM - Em que momento da vida você chegou à conclusão de que seria músico?
Almir - Em uma folia de Reis, vi um cidadão tocando. Perguntei: “Amigo, que instrumento é esse?” Ele me respondeu: “Uma viola”. Eu novamente: “E como se chama quem toca viola”. Ele: “Violeiro”. Eu: “Então serei um violeiro!”
DM - Como foi esse processo de viver tocando, compondo e expressando seus sentimentos por meio da linguagem musical?
Almir - Foi construído. Sou o primeiro artista da família. Meus pais são trabalhadores ferrenhos. Eu trouxe isso para a música. Trabalho bastante, me dedico, empreendo e vou em busca dos meus sonhos.
DM - Em suas músicas, você mostra para o público um amor às suas raízes goianas e, no jeito que toca essas músicas, a saudade se torna um elemento essencial. Qual é a memória mais marcante que o cancioneiro caipira ocupa em sua vida?
Almir - A saudade do que na verdade não vivi. Saudade do carro de boi em sua plena atividade, do jeito verdadeiramente simples. A saudade de um sonho. Não sou ingênuo para crer que essa vida era fácil. Pelo contrário, acredito que era um rala muito grande, mas a parte romântica da vida caipira me atrai.
"A saudade do que na verdade não vivi. Saudade do carro de boi em sua plena atividade, do jeito verdadeiramente simples. A saudade de um sonho. Não sou ingênuo para crer que essa vida era fácil"
DM - Além de se mostrar um instrumentista que carrega a goianidade no universo das notas e dos acordes, você também construiu uma carreira acadêmica, formando-se em Música pela UFG e aprofundando no mestrado estudos sobre a viola. O que ainda sabemos e o que ainda não sabemos a respeito desse instrumento?
Almir - Hoje a viola está muito difundida é utilizada em gêneros e estilos musicais os mais diversos. Para nossa sorte, está longe do seu potencial máximo. A música é infinita, a viola, da mesma forma.
DM - Paralelo à música, Almir, você escreveu a obra ‘A Viola Por Almir Pessoa’, em que explica ao leitor como desenvolveu seu método de tocar e como ele está associado à música caipira. Como foi o embrião e também a gestação do seu estilo?
Almir - Sempre quis tocar livre, mesmo sem saber que o nome disso é improvisação musical. Ao contrário do que muita gente pensa, para improvisar você precisa conhecer o que está fazendo e ter coragem. A estrada, desde as aberturas de rodeio até o teatro, passando pela universidade, me ajudaram a eclodir o meu jeito de tocar, que considero “uma estrutura básica definida com margem pra bastante inventividade”.
DM - Embora tenha conquistado uma notável carreira no meio musical goiano, você fundou o Instituto de Viola Almir Pessoa (Ivap), dá aulas e já gravou CDs e DVDs. Qual é o papel exercido pela música na transformação da sociedade?
Almir - O papel da música é fundamental. Com o Ivap, pude perceber isso com maior intensidade. Já tive relatos de alunos da casa que simplesmente disseram que a viola lhes salvou a sanidade. Outros que se esquivaram da depressão. Acredito que o maior poder da música está na interação entre os humanos. Cada vez mais necessária.
DM - Por fim, qual é a expectativa em se apresentar no festival ‘A Moda é Viola’ e o público pode esperar o quê de sua apresentação no evento?
Almir - A moda é viola, iniciativa de jovens, já começa bem por aí. Uma galera de mente aberta, que ajuda a expandir a consciência do que é a viola. Eu, lisonjeado pelo convite, afirmo que o público pode esperar um show-man com pitadas de experimentalismo e algumas misturas de música eletrônica no som da viola.