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CULTURA

Conversas de botequim

Garçom, por obséquio, me dá um uísque. Que é pra eu ficar molhado pelas águas do Jack Daniel´s. Ih, não tens Jack? E Johnnie Walker, rola? Tudo bem, então, põe uma pedra de gelo, porque neste clima seco e tropical, já aconselhavam o poeta Vinícius de Moraes e o maestro Tom Jobim, é preciso manter o organismo sempre à base de água. Ah, vida noturna, sou a borboleta mais vagabunda na doce flor da tua hipocrisia.

São nove e qualquer coisa da quarta-feira, 6. Meu Corinthians, numa batalha tremenda no caldeirão chamado La Bombonera, igualou-se ao Santos de Pelé e despachara no dia anterior na Libertadores da América o temido Boca Junior. Foi nos pênaltis, ok. Foi na luta, eu sei. Foi na garra, sem dúvida. E, dez anos depois, retornamos às quartas. O Brasil fica diferente quando o Timão triunfa. Sorrisos alvinegros de orelha a orelha.

Com o jornal na prensa, dei por encerrado o expediente e fui em direção ao Jajá Drink´s (Mercado da 74, nº 329 - St. Central). A primeira providência, em se tratando de um escriba com sede, foi pedir uma dose de uísque. Ingênuo que sou, conformado com a morte do choro nos botequins, nem esperava o que estava por acontecer: copo esférico, uma ou duas pedras de gelo, uma dose generosa e, acredite, transbordando para fora do recipiente. Feliz, claro, fiquei. Como não?! Anedotas jornalísticas rolaram.

Uma informação de utilidade pública: a birita saiu a R$ 18. Sim, preço um pouco exagerado, sobretudo de levarmos em consideração que espaços como o Breguellas, também tradicional na boêmia goianiense, servem o pileque por R$ 12, ou R$ 10, às vezes a amnésia alcoólica não ajuda a lembrar importantes detalhes com exatidão. Mas o fato é que, embora salgado ao bolso, o choro do Jajá Drink´s vale a pena. Poderia ser alçado à condição de instituição não só do Mercado da 74, mas também da capital.

Não adianta sinalizar para o garçom, espernear com a garrafa de cerveja à mão e, muito menos, fazer cara de quem precisa biritar: lá você obtém maior sucesso na empreitada de conseguir um negocinho para bebericar indo direito ao balcão. E vale a pena. Nas paredes, um capaz de divulgação do show de Altamont, nos Estados Unidos, em que um Hell´s Angels assassinou um fã durante a música “Under My Thum”, dos Rolling Stones. O episódio teria marcado o fim da contracultura.

Quem vai ao Jajá Drink´s e por lá abanca-se não pode passar incólume ao cardápio. Uma das especialidades do botequim é o contrafilé com queijo e mandioca. Deliciosamente saboroso. Tem ainda, como em todo bar que se preze, a popular batata frita e, óbvio, com queijo esparrado sobre a iguaria e derretido. Mas não vi nada demais. O mesmo, e aqui peço atenção do leitor, não se aplica à linguiça com mandioca: prato chega a dar água na boca do cronista, o que explica a casa ter levado os prêmios do Comida di Buteco e da extinta revista Veja Goiânia. Sai em média R$ 40.

Não fica pesado para o bolso, não. Longe disso, é a média que se encontra, por exemplo, em bares como o Bar da Cida (Rua 8, 780, Setor Central), referência em gastronomia popular noturna em Goiânia. A vantagem é que, no Jajá Drink´s, quase sempre vai rolar música ao vivo, seja com grupos de samba, rock ou MPB que estejam tocando no Mercado da 74. E lá tem também o Pub e Pastelaria do Meu, cujos sabores de carne, queijo e frango, junta das cervejas especiais, tornam a casa um clássico.

Aconchegante e prazeroso, o Jajá Drink´s vai muito além de ser uma mera imitação, em solo goiano, dos botequins cariocas descritos por Sérgio Cabral e Aldir Blanc. Dica preciosa, amigo e amiga: o bom é chegar por volta das 19h, que é o horário em que a casa abre e estão disponíveis as melhores mesas. O Jajá começa a se preparar para fechar por volta das 23h30. Nunca é demais pensar na geografia do bar. Já pensou no programa de sabadão? Ora bolas, vá ao Jajá Drink´s e aproveite a boa música, boa comida e, claro, o choro no uísque, que me coloco a favor de virar uma instituição.

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