São onze e pouco. Sexta-feira, ensolarada. Bom te sentir, agosto. Pirenópolis - ou Piri, se preferir - esbanja charme. É uma cidade atrativa e tanto em que bater perna pelas suas ruas empedradas faz parte do roteiro turístico. Seja segurando a mão da companheira (o), bebendo vinho ou observando a arquitetura colonial, o Centro Histórico se desenha como o cenário ideal aos apaixonados que encontram nesta bela cidade o lar das maravilhas.
Por lá, moradores mais velhos contaram ao Diário da Manhã que já avistaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ele ainda morava no Palácio do Planalto, sentado num banco de praça nas manhãs de domingo. Ali FHC fugia das pressões presidenciais com a qual convivia durante o dia a dia e misturava-se aos cidadãos locais. Qualquer desavisado poderia confundir o ilustre sociólogo com algum pirenopolino.
Até os anos 90, isso era possível. À época, ainda se conservava o espírito pacato em Pirenópolis. Paulistas e paulistanos, sudestinos de maneira geral, não tinham descoberto no histórico município goiano um lucrativo negócio no setor de turismo, mais especificamente na rede de hotelarias e pousadas, com o qual, aliás, ficaram bem de vida. É de se imaginar que eles demonstrem o mesmo conhecimento sobre Piri e suas incongruências que este escriba ao dissertar a respeito de física quântica, ou seja, não compreendem nada da cidade.
Ok, faz parte do negócio. E, você sabe, Piri é conhecida por goianienses e brasilienses (cidade está a 130 km da Capital goiana e 150 km da Capital da República) pela sua movimentada vida boêmia, gastronômica e cultural. Além, óbvio, das belezas naturais. Se é preciso abrir a carteira para saborear as biritas, iguarias e músicas, o mesmo tem de ser feito para ir à cachoeira do Abade (R$ 45 por pessoa) admirar uma queda d´água que possui 20 metros de altura, cara-a-cara com a um paredão: a serra dos Pireneus é uma beleza do Cerrado.
A sede está matando. No Pub Beira Rio, ao lado do Rio das Alma, uma garrafa (600ml) de cerveja não sai por menos de R$ 15. Num calor de rachar, como qualquer dia deste mês, quem dá conta de beber três brejas? Caso escolha pedir um prato as cifras chegam, fácil fácil, à casa dos duzentos e, olhem só, faz parte do roteiro gastronômico boa comida e boa bebida. O repórter, junto da esposa, ao sabor da lua de mel, pediu um tucunaré acompanhado por arroz e legumes. O preço? R$ 78. Acrescido da bebida, deu próximo a R$ 100.
Há um motivo para a comida pirenopolina ser, de maneira geral, muito boa: a Universidade Estadual de Goiás (UEG) possui um curso acadêmico de gastronomia. Faz sentido, a cidade é turística e, por causa das milhares de turistas que a frequentam todo mês, a procura por restaurantes, pizzarias e bares é grande. Um dos melhores lugares para se alimentar é a Forneria Pireneus Café, no Centro Histórico, Rua dos Pireneus. E para trabalhar também. A lasanha, o pedaço, sai em média R$ 38. Embora caro, vale a pena. É um sabor prazeroso.
Ainda na mesma via, mais para cima, há opção de pizza mais em conta, além dos bares pé sujos com breja a R$ 10, num preço que já aparenta ser mais convidativo para puxar a cadeira e, ali mesmo, sentar. Foi o que o repórter, cansado de subir ladeiras de Piri, fez. E de lá só saiu para ir ao show de Nando Reis, que se apresentava num festival gastronômico, do outro lado da ponte. A Rua do Lazer é outra opção, porém uma sentada, R$ 150.
Para ficar sexta, sábado, domingo e segunda até o meio-dia, a reportagem gastou R$ 510. E, acredite, o Batiá ainda é uma das pousadas mais bem localizadas da cidade, próximo ao Centro Histórico, em frente ao Rio das Almas, cinco minutos de caminhada do Museu do Divino e perto de uma trilha que leva a um lugar mais apropriado para mergulhar. É uma escolha inteligente para o mês de agosto e sua seca comparável ao deserto do Saara.
Dizem que, nos resorts e na rede de hotelaria como um todo, a brincadeira sai aos olhos da cara. Mais, por exemplo, do que uma ida a Cidade de Goiás, antiga capital goiana que, assim como Ouro Preto (MG), também é universitária. Mas não engane-se: em Goiás, também gasta-se. Não se pede uma tradicional massa no Ouro Fino Pizzaria & Restaurante, na Praça do Coreto, sem deixar - pelo menos - R$ 90. Mal contabilizando a birita da espera.
Mesmo que um final de semana não saia por menos de R$ 1 mil, Pirenópolis é apaixonante. Talvez o melhor lugar para um casal ir curtir a lua de mel em Goiás. Ou escritor, como contou à reportagem no Pub Beira-Rio um vagabundo iluminado fã de Jack Kerouac, refugiar-se para escrever seu livro. Por lá, ao subir a serra dos Pireneus (outro passeio que não pode ficar fora da lista) atrás das quase 100 cachoeiras nem tão escondidas, a imaginação tenta compreender como os bandeirantes roubaram os ouros que tinham na região.
Ao andar alguns quilômetros, avista-se um mirante com vista do Centro Histórico no fundo. Um senhor vende latas de Heineken e Budweiser a R$ 9 e R$ 7. Nada muito diferente de um abundante em frente ao teatro Rio Vermelho. Nas cachoeiras (Lázaro e Araras) que estão nas imediações, o turismo se mostra predador, em que o capitalismo se faz predador: cobra-se em média R$ 45, não pode entrar com bebida alcoólica (decisão acertada) e tem restaurante. Só se chega de carro próprio ou comprando um pacote numa das agências de Piri.
Para quem gosta de ler, Pirenópolis conta com Iguana, a banca, cujo catálogo possui obras da editora goiana Negalilu, títulos a respeito do tropicalismo e revistas - jornais, nem goianienses ou brasilienses, chegam na cidade. E hoje, aos que estão em Piri, o som vai rolar no Cine Pireneus com Gafieira Jazz e Darwinson. Na Prainha, a música fará tocada por Ricardo de Pina Quinteto e Maracatu Baque de Rocha. É o Canto da Primavera. Vai perder?
Veja a programação do Canto da Primavera, em Piri
Quarta
Gafieira Jazz - às 19:00
Darwinson - às 19:50
Prainha
Ricardo de Pina Quinteto às 20:30
Maracatu Baque de Rocha às 21:20
Quinta-feira
Cine Pireneus
Bruno Rejan Sexteto às 19:00
Débora di Sá às 19:50
Prainha
Distoppia às 20:30
CL a Posse às 21:20
Sexta-feira
Cine Pireneus
Bororó Quarteto às 19:00
Nilton Rabello Júnior às 19:50
Prainha
Walter Villaça e os Caboclos às 20:30
Abluesados às 21:20
Largo Beira Rio
Terra Cabula às 22:15
Grace Carvalho e Granfieira – Orquestra de Música Brasileira às 23:05
Sábado
Prainha Beira Rio
Danilo Duarte às 16:00
Pádua e Banda às 16:50
Banda Mandingaman às 17:40
Cine Pireneus
Front Jr e Luiz Chaffin às 19:00
Gabriel Grossi Trio às 19:50
Largo Beira Rio
Banda Projeto Super Nova às 20:40
Vitor Kley às 21:30
Domingo
Prainha Beira Rio
João Garoto e Grupo Brasileirinho às 15:00
Chá de Gim às 15:50
Largo Beira Rio
Carne Doce às 18h30
Hellbenders às 19h20