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Paralamas levam hits ao Oscar Niemeyer

“Vocês já estão cansados?”, costuma perguntar o cantor, compositor e guitarrista Herbert Vianna, 61, em quase todos os shows dos Paralamas do Sucesso. A resposta, sem muita diferença entre um público e outro, é quase sempre um monossilábico “não!”. Talvez seja esse o questionamento que o músico faça hoje, às 20h, após uma hora e meia de show, no Centro Cultural Oscar Niemeyer - os ingressos para a apresentação já foram esgotados.

Mesmo um dos maiores guitarristas de sua geração, Herbert não obtém o devido reconhecimento como compositor, mas não lhe faltam motivos para celebrar aquilo que Jimi Hendrix, um de seus heróis, canta: os sussurros da manhã. Primeiro, a vida por pouco não escapou dele em fevereiro de 2001, após sofrer acidente de ultraleve que o deixou paraplégico. Segundo, a grandiosa obra que criou em discos como “Selvagem” (1986), conectando a música de rua nordestina ao som africano e jamaicano.

O elepê simbolizou uma gravação em alto-astral, num encontro que o produtor Liminha definiu como “de feras e amigos”, para criar, imaginem só, um som no qual ninguém ali tinha vergonha de dizer que era do terceiro mundo. “Um disco forte e desestruturante que marca o início de uma nova era na música brasileira”, analisou o ex-baixista dos Mutantes, que está por trás dos principais álbuns dos anos 80, como “Cabeça Dinossauro”, dos Titãs - a quem diga, inclusive, que o BRock resume-se a ele próprio.

Até então, os Paralamas já tinham feito barulho entre críticos, ao tocarem - meses antes - na primeira edição do Rock in Rio, em 1985. Junto do Barão Vermelho, ainda com Cazuza nos vocais, fizeram um show arrebatador e a frase de Herbert rebatendo vaias de metaleiros entrou para a história. “Em vez de jogar pedra, fiquem em casa aprendendo a tocar guitarra e quem sabe um dia vocês não tão aqui em cima?”, disparou o cantor-guitarrista.

Depois disso, tudo melhorou: os palcos, as turnês, as rádios e a TV. A cultura jovem, cujo movimento BRock lhe fazia a trilha sonora, emergia num País recém-liberto de uma ditadura que durou 21 anos. A música? Quem a tocava era a rapaziada do Barão, dos Titãs, da Legião Urbana, do Ira!, do Camisa de Vênus e, claro, da Blitz. No início dos anos 80, Herbert, Bi Ribeiro e João Barone lançaram “Cinema Mudo” (1983) e “O Passo do Lui” (1984).

Paralamas nos anos 80: banda mudou rumos do rock brasileiro com ‘Selvagem’ - Foto: Acervo do grupo/ Divulgação

Com “Selvagem” (86), a coisa subiu de patamar. Foi o disco pop brasileiro em que as referências anglo-americanas, como Hendrix e Zeppelin, passaram a ser incorporadas a uma música local, vibe Gilberto Gil, e latinas - especialmente o reggae de Bob Marley. O jornal argentino Clarín percebeu que o show dos Paralamas no festival Chateau Rock, no mesmo ano em que lançaram o elepê, mostrava uma “celebração pagã coletiva em que tempo de reggae entremeada com pitadas de rock-n´-roll”.

Os Paralamas colocavam os primeiros tijolos sob o terreno do som com tempero latino, o que se nota em discos como “Os Grãos” (1991), “Severino” (1994), “Nove Luas” (1996) e “Hey Na Na” (1998). No primeiro, na faixa “Trac Trac”, destaca-se a participação do cantor e compositor portenho Fito Páez, um dos principais nomes do rock na Argentina. Excursões pela América Latina e pelos EUA deram notoriedade ao trio brasileiro lá fora, que se apresentou no tradicional Festival de Montreux e, de quebra, fez o elepê ao vivo “D” (1987) - foi o primeiro ao vivo gravado pela banda.

E veio, um ano depois, “Bora-Bora”, em que oficializaram os naipes de metais, mudaram a linguagem do pop brasileiro e tornaram-no presença inconfundível no som que tocaram. Assim como também eram guitarra, baixo e bateria - esta tocada com maestria por João Barone. Os arranjos, criador ao sabor do coração estilhaçado, ressentimentos e mágoas, faziam com que Herbert tivesse, cada vez mais, presença garantida entre os maiores compositores surgidos nos anos 80 - atenção no teor social dos versos de “Big Bang: “fogo sobre dois irmãos/ nem mão nem contramão”.

Trio de ferro: amigos deram as mãos uns aos outros nas adversidades - Foto: Acervo do grupo/ Divulgação

No início dos anos 90, sempre atento ao cenário sócio-político do País, os Paralamas acompanharam a hiperinflação, criticaram as desconfianças éticas geradas nessa democracia que começava a engatinhar e apontaram a falta de rumo coletivo. A desilusão atingiu o ápice com “Os Grãos”: não havia cor, nem brilho e muito menos esperança, como em sua capa. Com poucas vendas, a imprensa passou a questionar se os Paralamas eram tão bons assim e, se eram, ora bolas, por que os caras tinham vendido pouco? Simples: um disco nesses moldes não se sustentaria à época.

Sucesso na Argentina, o mesmo não acontecia no Brasil, ainda que na década de 90 a banda tenha conseguido emplacar hits como “Ela Disse Adeus” e "Lourinha Bombril”. Ao lançarem o “Acústico MTV”, formato comum àqueles tempos em que a indústria fonográfica estava ruindo a olhos vistos, diziam - mais uma vez - que precisavam se reinventar. Mas uma tragédia estava no radar dos três: Herbert se acidentou, perdeu a esposa Lucy, ficou desmemoriado e sem mexer as pernas.

A música, no entanto, salvou-lhe. Suas memórias afetivas foram resgatadas. O primeiro trabalho pós-acidente foi “Longo Caminho” (2002) e, em seguida, veio o CD e DVD “Uns Dias” (2004), além do trabalho em celebração aos 25 anos de carreira junto dos Titãs. Em 2017, lançaram o último disco, "Sinais do Sim”. E seguem na estrada: além da apresentação no Oscar Niemeyer, passarão por países da América Latina. A chance de vê-los no Oscar, hoje, é uma oportunidade de perceber como a música dar sentido à vida.

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Paralamas do Sucesso

Hoje

Às 20h

Palácio da Música

Oscar Niemeyer

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